RESENHA - NARRADORES DE JAVÉ

Resenha do filme Narradores de Javé – Polo São José

Magui Quint

O filme “Narradores de Javé” é um drama com pitadas de comédia, Zaqueu narra a história dos habitantes de um vilarejo no interior da Bahia, chamado Vale de Javé e mostra o medo deles ao saber que sua comunidade sumiria do mapa, pois seria construída uma represa e alagaria toda a cidadezinha onde moravam. O progresso estava chegando para benefício de muitos. No entanto, como diz um dos habitantes da cidadezinha: "vamu ter que sacrificá uns tanto, prá beneficiá a maioria. A maioria eu não sei quem são, mas nós é que somos os tantos do sacrifício…”

Através dos engenheiros, descobriram que a única maneira de impedir essa catástrofe seria provar por meio de um dossiê, que aquele vilarejo tinha algum valor e assim poderia ser preservado. Porém, teriam que escrever um documento oficial, fazer um trabalho científico, contando todos os fatos históricos da cidadezinha desde sua fundação. Mas, os moradores eram analfabetos, em sua grande maioria, e tudo que sabiam eram casos contados de pai para filho, uma história oral, sem registros escritos. Então, procuraram Antonio Biá, antigo carteiro da cidade, que havia sido banido pelas falcatruas que aprontara no correio local, tudo para que o posto não fechasse e ele conseguisse manter seu emprego. Escrevia cartas falsas com fofocas da população, caluniando o povo, prejudicando vários moradores. Porém, ele era o único que saberia escrever o “livro da salvação”, o documento científico contando todos os grandes acontecimentos que envolveram a fundação e a história da cidadezinha.

E assim, Antonio Biá, desonesto e trambiqueiro, é chamado para escrever o livro da cidade. E para se redimir de todo mau feito aquela comunidade, ele aceita o desafio. Agora teria que por no papel todas as histórias do povoado do Vale de Javé, escrever quem foram seus heróis. E para isso, contaria com a colaboração do povo, que por sua vez era a memória do local, com suas lembranças, contos e fantasias. Porém, não foi tão fácil assim, visto que cada um dos moradores entrevistados por Antonio Biá tinha a sua versão da fundação do vilarejo, tinham seus próprios heróis. Dando ênfase, ao seu jeito, as coisas que achavam importantes. Como ele conseguiria sintetizar tudo em um só documento? Por mais talentoso que fosse essa missão estava se tornando impossível, tendo em vista que os relatos dos habitantes não levavam a uma real história da fundação da cidade, deixando em dúvida quem foi seu real fundador: Indalécio, Maria Dina ou outro.

Por mais que se esforçasse, Antonio Biá, não conseguiu escrever o livro com a grande história do Vilarejo de Javé e entregou o livro em branco, para a frustração dos moradores do povoado, que viram a represa ser construída e a cidadezinha alagada, afundando com ela todas as memórias, sonhos e expectativas. Fazendo com que eles se retirassem em busca de um novo lugar para morar.

Conclui-se por fim que, apesar de toda a história daquele vilarejo, da cultura e organização daquele povoado, sem terem os devidos registros e documentos escritos que a comprovassem, de nada adiantou, pois era uma história oral, o que os impediu de exercer sua cidadania, pois faltou a identificação oficial que lhes daria o direito a reivindicação de suas terras, de sua vida, de sua história.