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Resenha Narradores de Javé

Por:   •  20/5/2022  •  Resenha  •  1.366 Palavras (6 Páginas)  •  169 Visualizações

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 UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE HUMANIDADES

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

LUGARES DE MEMÓRIA E O ENSINO DE HISTÓRIA

PROFESSORA ANA RITA FONTELES DUARTE

 

 

 

VITÓRIA GABRIELA ARAÚJO FEITOZA

 

 RESENHA DO FILME “NARRADORES DE JAVÉ”

 

                                                  FORTALEZA- CEARÁ

                                                                  2022

O filme narradores de Javé, é sem dúvidas uma das obras mais ricas e extraordinárias do cinema brasileiro, não conhecer esse filme antes é um dos meus grandes arrependimentos após assistir pela obrigatoriedade do trabalho, confesso estar um pouco relutante antes de começar a assistir.

O longa, produzido por Vânia catani e dirigido por Eliane Caffé, já foi indicado a diversos prêmios, recebendo inclusive o troféu de melhor direção, um reconhecimento muito mais que merecido, uma vez que esta obra aborda de forma simples e cômica a realidade de muitas cidades do sertão nordestino.

Javé pode não existir na realidade, mas os atores conseguiram transmitir um profissionalismo tão grande que me fez, como telespectadora, sentir afeição por aqueles moradores, sentir como se fossem velhos conhecidos meus, me fez criar uma sensação de “preciso assistir até o final para saber se tudo ficará bem com eles”. ( Spoiler: não ficou, mas será que é tudo que importa?)

Partindo para uma discussão mais crítica e séria, gostaria de elencar aqui alguns fatores que me chamaram atenção, detalhes que me atentei ao analisar o filme com um olhar historiográfico, e que inclusive foram discutidos em sala de aula, transformaram as ideias em minha mente em pensamentos muito mais profundos a respeito do filme.

O primeiro tópico que gostaria de abordar aqui, é sobre a questão da multiplicidade de memórias, e a forma como os diálogos do filme conseguem transformar uma discussão historiográfica em uma prosa divertida de uma cidadezinha no interior, a busca por uma “veracidade” da história, as discrepâncias entre história oral e narrativa, e discussões a respeito do que é verdade na história.

O filme inicia mostrando uma triste realidade daquelas terras: engenheiros querem se apropriar de um lugar tido por 'insignificante' mas que para aqueles moradores é tudo o que conhecem por lá, e é a partir daí que há uma revolta por parte do povo de Javé, que resolve fazer a única coisa que estava ao seu alcance, e aue que seria uma solução aparente: Escrever a história de Javé.

Um ponto interessante é como os moradores da cidade sempre reiteram o fato de que está sendo escrita a história de Javé, e uma história científica, colocando assim o escritor — conhecido por Antônio Biá — como alguém em cuja as mãos esta a responsabilidade de um historiador, pois ao usar o termo "científico" os moradores não só garantem a Antônio Biá uma característica de alguém especializado, como também fazem o reconhecimento da história como ciência.

Uma coisa imprescindível de se comentar é a respeito de como há a multiplicidade memorial, como mencionei anteriormente,  quando Antônio Biá se propõe — ou melhor, é intimado a escrever a história de Javé — ele precisa ir em busca dos moradores daquelas terras, e o mais legal é a forma como a memória de cada um destoa, e se molda de acordo com os interesses particulares, sempre há a manipulação da memória, todos nós manipulamos a memória, e a forma como o filme evidencia isso, é algo que debateremos a seguir.

Por exemplo, quando o primeiro senhor começa a contar a história da origem de Javé — curioso o fato das memórias sempre abordarem um ponto em comum: todos querem contar como surgiu o vale de Javé, fato que é criticado por Marc Bloch quando o mesmo escreve a respeito do ídolo das origens, todavia, para os cidadãos a parte mais importante, a história que interessa, será sempre “ como tudo começou — Pois bem, quando o primeiro homem é entrevistado, ele conta a história de Javé de acordo com sua perspectiva como suposto “ descendente de indalécio" quem poderia dizer que ele está errado?

A verdade é que para o campo historiográfico, a fidelidade dos fatos não é tudo que importa para o historiador, mas a variedade relativa dos fatos que ocorre tanto pela questão temporal, quanto pela âmbito cultural, é perceptível que cada um conta a história que quer contar, e que Antônio Biá acaba por sempre criticar a memória de todos os entrevistados, como no exemplo da história de Maria Dina, quando a mulher inicia sua fala, ela utiliza uma frase interessante “ Sei que ele lhe contou a história de indalécio, mas ele lhe contou a história toda?” É interessante perceber como os próprios moradores conseguem perceber essa variedade a respeito do que é verdade.

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