Resenha - Narradores de Javé
Por: Rômulo Oliveira • 8/3/2019 • Resenha • 769 Palavras (4 Páginas) • 215 Visualizações
Resenha sobre o filme Narradores de Javé
Narradores de Javé é um filme nacional que tem direção e roteiro de Eliane Caffé, e conta também com roteiro de Luiz Alberto de Abreu, produção de Vânia Catani, e foi lançado no ano de 2003 por Bananeiras Filmes. Os principais nomes do elenco são: José Dumont atuando como Antônio Biá, o escritor das memórias do povo, Nelson Xavier como Zaqueu, o líder da comunidade, Rui Resende (Vado), Gero Camilo (Firmino) e Matheus Nachtergaele (Souza).
O filme possui como autora a cineasta Eliane Caffé que possui características autorais e modos muito particulares de narrar suas histórias. Eliane Caffé foi Graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo no ano de 1985 e cursou o mestrado no Instituto de Estética y Teoria de las artes no ano de 1991 e 1992. Iniciou sua carreira de cineasta com os curtas “O nariz”, “Arabesco” e “Caligrama”, premiados no Brasil e em Festivais Internacionais. Em 1997, dirigiu seu primeiro longa-metragem chamado Kenoma.
Narradores de Javé relata uma história de uma pequena cidade chamada Vale do Javé, a história é narrada por Zaqueu anos depois da cidade ser inundada por uma represa construída na região para benefício de uma hidrelétrica. Em função disto, um medo se dissipou entre seus habitantes que poderiam perder suas casas, logo, se reuniram para tentar achar uma solução para impedir tal tragédia. Os moradores do povoado resolveram escrever suas histórias e tentaram transformá-las em patrimônio histórico a ser preservado, que tinha que ser escrito através de um documento científico. A composição deste documento iniciou uma breve discussão, pois quem escreveria um documento em uma população analfabeta? A única solução foi requisitar a ajuda de um ex-carteiro da cidade. Antônio Biá era o único alfabetizado e que poderia escrever este documento, mas para que isso acontecesse houve uma enorme discussão entre o povo, já que não confiavam nele. Essa desconfiança ocorre porque Biá usou o poder da escrita para difamar o povo em um tempo que era o único funcionário do correio da cidade, tentando zelar por seu emprego já que o correio estava prestes a fechar porque não tinha utilidade dentro da comunidade.
Durante isso, Antônio Biá passa a escrever cartas para outras localidades contando mentiras e difamações a respeito dos moradores e ao ser descoberto foi expulso do vilarejo. Mesmo depois disso, Biá foi obrigado a aceitar o cargo e ficou responsável pela construção do documento.
O cargo era basicamente criar a história através da memória do povo de Javé e reconstruir o passado com base em fatos verídicos. O escrevedor de memórias precisava ouvir os relatos das memórias, das histórias orais feitas pelos moradores de Javé, mas em algumas situações, Biá queria modificar a construção da história acrescentando algo para exaltar os fatos ou encobrir outros. O povo de Javé sentia-se esperançoso ao narrarem suas histórias, que eram contadas de várias versões.
Embora os moradores de Javé tenham buscado fazer um registro e tornar disso um patrimônio histórico para que suas casas e suas memórias não fossem submersas pela água, o filme evidencia uma sociedade que é vencida pelo avanço tecnológico e tendo que deixar para trás sua cultura, história e tradição.
O filme faz ênfase na importância da escrita para que as memórias do povo pudessem salvar suas memórias, mostrando também uma realidade de desespero, sofrimento, luta e a história de um povo sem cultura perante a escrita, mas de uma imaginação fértil capaz de superar todos os obstáculos e dar a volta por cima para construir em conjunto a própria história que desapareceu submersa.
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