Resumo Artigo Intervenção psicológica no acompanhamento hospitalar de uma criança queimada

Artigo: Intervenção Psicológica no Acompanhamento Hospitalar de uma Criança Queimada

Resumo

Este artigo descreve uma intervenção psicológica realizada em uma criança de 7 anos hospitalizada para tratamento de lesões por queimaduras apresentando constantes crises de choro, queixas de dor e resistência ao tratamento. As técnicas utilizadas se basearam na Teoria Cognitivo-Comportamental a qual focaliza a identificação, a análise e a modificação dos processos mentais relacionados ao pensamento, aos sentimentos e ao comportamento do indivíduo por meio de um enfoque educativo, com diferentes técnicas terapêuticas para promover mudanças cognitivas e comportamentais (Beck, 1976).

Estudos na área da Psicologia pediátrica apontam reações provocadas pelo processo de hospitalização como mudança de humor, sensações de medo, regressões no comportamento, agressividade, transtorno do sono e déficit nas habilidades sociais, portanto, hospitalização durante a infância trás repercussão nos aspectos cognitivos, emocionais e comportamentais da criança. A criança hospitalizada apresenta sofrimento emocional e físico decorrentes das características do ambiente hospitalar, da sensação de abandono, da perda da identidade e da ruptura do núcleo familiar e social. Além disso, no tratamento de queimaduras, a criança pode desenvolver sensações de medo em virtude dos procedimentos invasivos que são utilizados na área queimada.

Diversos autores destacam a importância de reconhecer o papel das emoções, considerando que as sensações desagradáveis no corpo integram um conteúdo psicológico quando a criança começa a expressar os afetos por meio dos impulsos agressivos como o choro e o grito de dor física e de sofrimento emocional.

Pela concepção de que o individuo interpreta suas experiências através do funcionamento dinâmico cognitivo, o modelo de intervenção proposto pretende possibilitar que os indivíduos hospitalizados desenvolvam estratégias para facilitar à adesão do tratamento e a reinserção no ambiente familiar e social. De forma que consigam desempenhar habilidades adaptativas para o enfrentamento da doença, traduzindo-se em qualidade de vida e promoção de saúde.

Durante o tratamento hospitalar, o acompanhamento psicológico foi realizado em 8 semanas incluindo também a genitora da criança e a equipe de saúde. Foram utilizadas as seguintes técnicas: (1) entrevista motivacional (Stallard, 2007) que tem o objetivo de identificar processos de mudança no indivíduo, para conhecer a percepção da criança acerca da situação de adoecimento, e foi realizada por meio do relato verbal e da solicitação de um desenho, buscando identificar seu interesse para promover mudanças visando à adesão ao tratamento, (2) mapa de rosto de sentimentos (Bernard & Joyce, 1984) e (3) jardim de flor de pensamentos foram os instrumentos utilizados para estabelecer o vínculo com a criança e identificar as situações, os pensamentos, sentimentos e comportamentos de forma criativa. (Friedberg & Mcclauren, 2004), (4) Escala Numérica de Relato Verbal para Avaliação da Dor (Greenberger & Padesky, 1999) para avaliar os níveis da dor (leve, médio, intenso) através do relato verbal da criança, quando esta identificava a área do corpo avaliando o nível da dor com a escala, (5)treino de relaxamento autógeno (Shultz, 1967) com a respiração diafragmática com o objetivo de promover melhor enfrentamento das situações de dor e (6) informações psicoeducativas relativas às orientações para a criança acerca de procedimentos da unidade hospitalar, visando a facilitar a adesão ao tratamento.