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Tic E Educação Especial

Tese: Tic E Educação Especial. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  10/11/2014  •  Tese  •  1.719 Palavras (7 Páginas)  •  192 Visualizações

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- Desenvolvimento social e interacção

A criança com lesão cerebral vai ter, desde o princípio, dificuldades na interacção com os outros, pelo facto de não conseguir produzir os gestos e os sons a que o meio social dá valor e reconhece como funções comunicativas. BASIL (1995) refere que a criança encontra dificuldades em produzir mudanças no comportamento das outras pessoas, no sentindo de as fazer interagir com elas e que este défice comunicativo limita a criança no desenvolvimento cognitivo e social e na construção da sua personalidade.

Segundo o mesmo autor, a criança que experimenta o fracasso quando age sobre o meio, sente-se frustrada, diminui a motivação e o investimento necessário a qualquer actividade. O facto de se sentir incapaz pode levá-la a desistir, porque sente que é incapaz ou que o próprio ambiente não lhe dá o feedback pretendido.

2.1. Obstáculos à Interacção na Criança com PC

Existem diversos aspectos que vão limitar a pessoa com PC, a possibilidade de interagir com o ambiente e desenvolver maneiras de comunicar que favoreçam o seu processo de desenvolvimento, de acordo com SOUZA (2009):

-Incapacidade motora (redução da mobilidade e dificuldades de manipulação), que não deixa efectuar experiências e provocar efeitos no ambiente, de modo a produzir respostas consistentes que lhe permitam construir um pensamento organizado e um adequado desenvolvimento cognitivo;

-Incapacidade de produzir fala articulada compreensível que, ao limitar/inibir a expressão oral, vai impedir que os pais e educadores recebam as pistas necessárias orientadoras no processo de aquisição da linguagem e em outros processos de ensino. A existência de barreiras a este processo natural pode resultar num sentimento de fracasso, de isolamento e de incompetência de ambas as partes já que nenhuma consegue satisfazer as necessidades da outra. Esta incapacidade de controlo do ambiente físico e social vai ter consequências no desenvolvimento cognitivo e emocional da criança podendo agravar as dificuldades de interacção;

-Presença de défices sensoriais e perceptivos que, a par das falhas de processamento, afectam a apreensão do mundo, da realidade. Por outro lado, dadas as dificuldades de realização da criança, o professor não pode avaliar o modo como ela capta e representa o mundo, o que o impede de estabelecer bases consistentes para fundamentar o processo de ensino e aprendizagem.

O ser humano vai-se construindo progressivamente, em função da organização possível que é produto da interacção permanente da sua dimensão bio-hereditária com o ambiente que lhe oferece de estímulo e no qual ele age. Toda a potencialidade de desenvolvimento do ser humano reside, pois, na oportunidade que tem em comunicar e em interagir com outros da sua espécie, desde os primeiros momentos da sua vida. A quantidade e a qualidade das interacções proporcionadas a uma criança vão ser determinantes no seu desenvolvimento social e emocional e vão influenciar todo o seu funcionamento cognitivo (SOUZA, 2009).

A pessoa que sofreu uma lesão cerebral, em grau mais ou menos severo, pode apresentar disfunções, com expressão a vários níveis: motor, mental, da percepção (táctil, visual, auditiva), da linguagem, da atenção e da memória as quais podem vir a originar atrasos no desenvolvimento, dificuldades de aprendizagem e perturbações no comportamento.

A criança com PC não é beneficiada no seu desenvolvimento, em virtude das disfunções causadas pelas lesões de que é portadora ou por qualquer outra etiologia, como também por essas disfunções dificultarem a sua interacção com o meio ambiente, diminuindo as oportunidades de experiência e de igualdade (SOUZA, 2009).

3. As TIC: um instrumento funcional para crianças com PC

As crianças com PC, por norma, apresentam diferentes distúrbios/desordens que afectam a “capacidade infantil para se mover e manter a postura e o equilíbrio. Esses distúrbios são causados por uma lesão cerebral que ocorre antes, durante ou dentro dos primeiros dias depois do nascimento” (GERALIS, 2007, p.15).

De uma forma geral, essas desordens impedem o uso dos meios convencionais de escrita e de comunicação, assim o processo de ensino-aprendizagem destas crianças pode ser feito com a ajuda das TIC. Conforme WILEY (2002, citado por TAROUCO, 2006), o objecto de aprendizagem pode ser definido como qualquer recurso digital que pode ser usado para apoiar a aprendizagem. Sendo assim, as TIC podem ajudar a criar, a adaptar e a desenvolver as crianças com PC, favorecendo, simultaneamente, a sua inclusão educativa.

3.1. As Tecnologias de Informação e Comunicação: uma educação sem barreiras

A tecnologia tem e teve, em todas as sociedades, um papel fundamental ao nível da “natureza, no controlo do ambiente e na resolução de problemas. As aplicações tecnológicas tornaram mais fácil e rica a vida dos seres humanos” (ALBA, 2006, p. 131). De acordo com a mesma autora, as TIC veicularam a melhoria das condições de vida das pessoas com deficiências e, consequentemente, a optimização do processo de ensino e aprendizagem.

Os recursos educacionais, com vista a apoiar estes alunos no processo de ensino e aprendizagem, envolvem inúmeros aspectos, entre os quais: professores e especialistas habilitados, metodologias e materiais didácticos adaptados às necessidades dos alunos, apoio pedagógico ao aluno e ao professor regular e auxílios tecnológicos (ALBA, 2006).

Dentro destes auxílios tecnológicos, as TIC já demonstraram ser um valioso contributo no processo de ensino e aprendizagem de crianças e jovens com NEE.

Segundo TAROUCO (2006), para as pessoas com necessidades educativas especiais, as TIC podem ser um elemento decisivo para melhorar a sua qualidade de vida e facilitar a sua integração social e laboral. Actualmente, a nova perspectiva da Educação Especial aponta para uma educação que possibilita à criança um currículo escolar mais apropriado às características particulares. As TIC desempenham um papel determinante, pelo conjunto de experiências e vivências que poderão proporcionar aos alunos com PC.

Para CORREIA (2008), a utilização das TIC pelos alunos com NEE, tem dois grandes objectivos curriculares:

a) Aumentar a eficiência dos alunos no desempenho de tarefas académicas ou do dia-a-dia;

b) Desenvolver capacidades para aceder e controlar tecnologias com determinado nível de realização” (p.108).

As TIC proporcionam múltiplas funcionalidades às crianças com PC, que requerem uma atenção especial, facilitando a comunicação, o acesso à informação, o desenvolvimento cognitivo, social e psicomotor com a realização de todo o tipo de aprendizagens.

O uso das TIC, só por si, é vantajoso. Todavia não deve negligenciar-se a componente pedagógica, que deverá abarcar como objectivo que o hardware ou software seja um meio para atingir esse fim e não um fim em si. Como refere SANCHES (2008), o computador encoraja a autonomia, estimula o trabalho da criança e favorece a aprendizagem. Cabe ao professor conceber meios para favorecer a interacção máquina/criança, proporcionando-lhe verdadeiros actos de comunicação real. O professor deve adaptar os programas às necessidades e possibilidades de cada criança e personalizar as sessões de trabalho, fazendo-as sentir como um verdadeiro interlocutor válido, real e individualizado.

As TIC produzem ou permitem novos modelos de ensinar e de aprender. Representam muitas possibilidades para os professores, para os alunos e para a escola, como organização, mas há necessidade de todos estarem conscientes dessas possibilidades e da forma de as explorar (ALBA, 2006). Os resultados positivos do uso das TIC podem ser observados se a sua aplicação levar a que, segundo a mesma autora, os professores sejam significativamente apoiados na sua prática pedagógica; os alunos aprendam mais e de forma mais eficaz, se se verificar, em toda a escola, uma melhoria na comunicação por causa e acerca das TIC. Contudo temos de ter algum cuidado, como refere PAIVA (2007), pois “a tecnologia é útil mas não “mágica”, como se o simples facto de os computadores terem entrado na sala de aula fizesse o milagre acontecer” (p. 212). Embora presente e, por vezes, até abundante, a tecnologia não é de per si mais-valia, uma vez que não tem grande reflexo nas práticas educativas (DIAS, 2004).

Os recursos tecnológicos podem oferecer possibilidades lúdicas e serem instrumentos mediadores entre a criança e o mundo real. Vygotsky (1987, cit. em KOHL DE OLIVEIRA, 1999), distinguiu dois tipos de elementos mediadores, os instrumentos e os signos. A informática apresenta a possibilidade de trabalhar com esses dois elementos, quer como instrumento, quer como um meio de oportunidade de trabalhar com os signos.

Para a criança com PC, este recurso ainda apresenta a possibilidade da comunicação alternativa, podendo levar a uma interacção mais satisfatória com o mundo, favorecendo expressões significativas de pensamento, pois, devido aos seus comprometimentos motores, a sua linguagem oral (fala) e a sua linguagem gráfica (escrita) encontram-se comprometidas. Contudo, a sua linguagem interna, isto é, os seus pensamentos, ideias, sentimentos e desejos encontram-se em processo de construção (KOHL DE OLIVEIRA, 1999).

Para Vygotsky (1987), ainda na perspectiva do autor supracitado, é importante, para o desenvolvimento humano, o processo de apropriação, por parte do indivíduo, das experiências presentes no seu meio ambiente e na sua cultura. O autor enfatiza a importância da acção, da linguagem e dos processos interactivos na construção das estruturas mentais superiores.

Este processo de interacção com o mundo, através das experiências vividas, influencia determinantemente os processos de aprendizagem da pessoa. Portanto, as incapacidades da criança com PC evidenciam¬-se como barreiras para a sua aprendizagem e as tecnologias de apoio como facilitadores.

Como tal, oferecer possibilidades para que estas crianças vivenciem experiências será uma forma de minimizar esses impedimentos, inserindo-as em ambientes que favoreçam as aprendizagem, na medida em que é a partir do momento que a criança pode ter acesso, vivenciar e utilizar os recursos tecnológicos que a sociedade oferece, que as suas sequelas, provocadas pela PC, podem ser minimizadas.

Sabe-se que as TIC têm-se transformado, de forma crescente, em importantes instrumentos da nossa cultura, tornando-se num recurso utilizado na inclusão e integração das pessoas com deficiência na sociedade. A constatação é ainda mais evidente e verdadeira quando se refere a pessoas com dificuldades na comunicação (oral e escrita), na funcionalidade e na locomoção, como é o caso das crianças com PC. Com a evolução das técnicas e dos recursos tecnológicos, hoje podemos verificar que essas crianças possuem um potencial que ultrapassa os limites até então definidos.

Na procura da inclusão escolar e social e da melhoria da qualidade de vida destas crianças, surgem os recursos tecnológicos aumentativos e alternativos, que lhes possibilitam ter acesso ao computador e a outros dispositivos que favorecem a sua interacção com o outro e com o mundo, permitindo a ruptura de um paradigma que encara todas as crianças com deficiência neuromotora como seres com défice cognitivo (OLIVEIRA et al., 2004).

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