Vitória da Judoca Brasileira
Por: Sâmia Lago • 20/8/2016 • Ensaio • 301 Palavras (2 Páginas) • 147 Visualizações
Acabei de assistir a mais uma vitória do Brasil. Não, não foi verdade que foi esse Brasil todo. Foi um determinado Brasil: com cor, gênero e classe social. Foi ouro. Um ouro para contrapor o berço que não ornou. Esse Brasil que vi chorar desabafando toda a luta do tatame, não começou a lutar para as olimpíadas, nem mesmo quando se filiou ao esporte Judô. Esse Brasil lutou bastante e, certamente, para viver. Foi um Brasil favela e foi também um Brasil mulher. E foi um Brasil negro e ouro, se polarizando ao Brasil branco e ouro das arquibancadas.
Bateram palmas todos os Brasis. Ergueram-se das cadeiras todas as cores, enquanto aquela mulher, preta, favelada apenas relembrou onde poderia estar se não estivesse ali ganhando mais uma luta – essa que todo mundo viu. As que eu não vi, apenas suponho, o resto do Brasil apenas imagina e o outro vive todos os dias. Mas, imagino eu, hoje brilhou um Brasil vindo do campo de batalha diário e esse Brasil está mostrando que ainda é preciso muita luta para conseguir, quase sozinha, chegar ao centro de um tatame olímpico, enquanto outros podem se sentar nas cadeiras caras para lhe assistir.
Não é menos significativo uma mulher vencer. Não é menos emblemático estarem as mulheres ganhando tanta visibilidade nesta olimpíada. Mas não são elas que constrangem o destino todos os dias e rompem as barreiras dos “nãos” sociais e estruturais? Não foi durante o governo de uma mulher que as olimpíadas se realizaram? Roubamos a cena, aliás, nada roubamos: estamos reavendo espaços que é nosso de direito – o espaço da igualdade.
E por falar em igualdade, quando será que esse Brasil verá o tatame se sentar na arquibancada? Parabéns, Rafaela Silva. Você era só mais “um Silva”, mas agora sua estrela brilha!
Samia Lago
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