A Educação Física

PERCEPÇÃO DOS PRATICANTES DE JIU-JITSU SOBRE O ESTRESSE E A QUALIDADE DE VIDA EM TEMPOS DE COVID-19

1. INTRODUÇÃO

A recente Pandemia provocada pelo vírus SARS-CoV-2 [1], constituiu-se numa crise mundial na saúde, a partir do ano de 2020, inclusive com reflexos atuais [2]. Essa pandemia ocasionou sofrimento significativo em todo o mundo, mas o rápido desenvolvimento e a produção de vacinas seguras e eficazes forneceram a base para campanhas emergentes de vacinação em massa para controlar o vírus. Todavia, ainda é necessário cumprir medidas de distanciamento social, uma vez que existem diversas variantes do vírus que podem limitar a eficácia da vacina, bem como a resistência de indivíduos em se vacinarem [3].

Nesse sentido, a COVID-19 impactou todos os setores da sociedade em um grau sem precedentes. Particularmente, a prática esportiva e a realização de exercícios físicos, que foram negativamente afetadas devido às restrições impostas aos contatos sociais primários [4]. Além disso, os representantes da comunidade esportiva não participaram dos processos de tomada de decisão sobre as regras de distanciamento social durante a pandemia [5].

Como decorrência, os eventos esportivos e até mesmo os treinamentos regulares foram suspensos ou severamente restringidos na maioria dos países, como por exemplo, a postergação dos Jogos Olímpicos de Tóquio, previstos para o ano de 2020 [6]. Diante disso, as competições de Jiu-Jitsu foram canceladas globalmente, o que gerou uma série de incertezas nos atletas que se encontravam em preparação para as competições [5].

Em generalidade, o Jiu-Jitsu Brasileiro (BJJ) é uma prática esportiva de autodefesa embasada no princípio de derrotar o adversário ao subjugá-lo, utilizando-se de sua  própria força, por meio de chaves de articulação, imobilizações, quedas e estrangulamentos [7]. O BJJ é um esporte que envolve exercícios anaeróbicos intensos e que solicita alto nível de condicionamento físico, concentração e equilíbrio [8]. Além de ocasionar alto nível de estresse e competitividade característicos do esporte de rendimento, o que pode trazer implicações na Qualidade de Vida (QV) dos atletas praticantes de Jiu-Jitsu [9].

A QV é tida como um conceito subjetivo e multidimensional [10]. Nessa direção, somente o indivíduo pode analisar sua própria QV, que pode variar em função do momento e do contexto, dependendo de diversos fatores [10]. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), QV é o entendimento do indivíduo de sua posição na vida, no âmbito da cultura e do sistema de valores nos quais vivencia correlação aos seus objetivos, perspectivas, padrões e preocupações [11].

Nesse contexto, a obrigatoriedade do distanciamento social impactou substancialmente na qualidade de vida de atletas profissionais dos mais diversos níveis e idades, que foram impedidos de realizar seus treinamentos. Ainda, a repercussão econômica gerada pela pandemia afetou o suporte de patrocinadores, bolsas governamentais, salários de atletas e comissão técnica, cancelamento de eventos e etc. [12]. Obviamente, todos esses fatos acarretaram novos fatores estressantes para praticantes e atletas.

É importante considerar que os atletas praticantes de Jiu-Jitsu enfrentam diversos estressores e desafios únicos e que podem explicar parcialmente os altos níveis de estresse [9,13]. Nesse entendimento, os desafios e fatores estressores englobam demandas de competição e treinamento, como também lidar com lesões e processo de recuperação [14].

A partir disso, o estresse pode ser determinado como uma reação psicológica, com elementos emocionais físicos, mentais e químicos a determinados estímulos que irritam, amedrontam, excitam e/ou confundem o indivíduo [15].

Nessa perspectiva, diferencia-se o nível de estresse excessivo ou insuficiente (distresse) daquele que é necessário para o bom desempenho do indivíduo (eustresse). Nessa concepção, de inspiração cognitivo-comportamental, o foco é dirigido à perspectiva de aprendizagem das reações diante dos eventos estressores, considerando a relevância tanto das características reais dos estímulos como da interpretação que o indivíduo dá aos mesmos [15].

A literatura a respeito do tema aponta uma relação entre estresse e ocorrência de lesões, além dos níveis de estresse poderem contribuir para maior tempo de recuperação de lesões [16,17]. Bem como, o curto período preparatório foi suficiente para aumentar o estresse [17].

Uma pesquisa internacional evidenciou que os atletas praticantes de Jiu-Jitsu mesmo com boa saúde física apresentaram parâmetros piores na qualidade de vida [7,18]. Nesse cenário, é essencial ajustes e otimização nas cargas de treinamento, especialmente em treinamentos de preparação próximos às competições, além de uma atenção maior à saúde mental de atletas profissionais [15,18].

Considerando o exposto, o presente artigo tem como objetivo apresentar o efeito do isolamento social, provocado pela pandemia de COVID-19, nos níveis de estresse e de qualidade de vida em praticantes de Jiu-jitsu, de ambos os sexos e de diversas nacionalidades.

1. METODOLOGIA

1. Tipo de estudo

Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo, realizado no período de 18 de maio de 2020 a 14 de agosto de 2021, realizado com praticantes brasileiros, estadunidenses e portugueses da modalidade esportiva Jiu-Jitsu. Participaram do estudo praticantes adultos da modalidade, residentes no Brasil, Estados Unidos ou Portugal, adeptos à prática regular da referida atividade (prática semanal) no período pré-pandemia da Covid-19. Foram excluídos da amostragem praticantes que não preencheram este, isto é, com respostas incompletas aos instrumentos.

A coleta de dados foi realizada através da plataforma Google Forms com informações sociodemográficas e esportivas: Sexo, Data de Nascimento, Estado Civil, Nacionalidade, Residência, ano de início no Jiu-Jitsu e Graduação (faixa). Na sequência, os atletas responderam se estavam em acompanhamento psicológico. Por fim, os atletas responderam a dois instrumentos: Whoqol-bref e Depression Anxiety Stress Scale-21.

Whoqol-bref

O Whoqol-bref [19] é um instrumento de avaliação de Qualidade de Vida desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em versão reduzida, ou seja, com um menor quantitativo de enunciados, mas com validação científica nas versões em inglês e português. Este instrumento dispõe de 26 questões, sendo duas gerais acerca da qualidade de vida e as 24 restantes são divididas em quatro fatores: físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente.