A Lei da Frontalidade
Por: Jussara Michels • 20/10/2019 • Trabalho acadêmico • 1.539 Palavras (7 Páginas) • 533 Visualizações
1INTRODUÇÃO
As questões culturais, sempre afetaram a forma como o corpo humano e percebido e representado.
Desde os primórdios ate os dias atuais, é constante a modificação da representação da figura humana, pois elas estão intimamente ligadas as transformações ocorridas nas sociedades ao longo do tempo.
No antigo Egito, aproximadamente 1400 A.C. estatuas e pinturas parietais da figura humana, manifestavam-se em temas místicos e religiosos, de forma muito peculiar.
O presente trabalho será focado na representação da figura humana através da lei da frontalidade sobre o relevo plano ou relevo escavado.
2DESENVOLVIMENTO
No antigo Egito a representação da figura humana não correspondia ao comportamento de um corpo real, mas em uma maneira de valorizar cada elemento do corpo humano. Acredita-se que eles foram os primeiros a estabelecer um sistema de estudos da proporção do corpo humano, utilizando a lei da frontalidade, que ao longo de sua historia repetiu-se com pouquíssimas variações.
O frontalismo é um dos costumes mais intrigantes da arte do Egito antigo, numa primeira analise, julgou-se que essa forma de retratação estaria ligada a incapacidade ou ingenuidade do desenhista, mas posteriormente, estudos mostraram que existiam outras razoes para este fenômeno.
A lei da frontalidade funda-se no princípio de valorizar o aspecto que mais caracteriza cada elemento do corpo humano, os desenhos são feitos de perfil, o rosto é mostrado ao máximo, o olho é representado de frente, por ser seu aspecto mais característico e revelador, o tórax representa-se de frente e os pés, pernas, braços e mãos novamente de lado.
Vale a pena pegar um lápis e tentar reproduzir um desses desenhos egípcios “primitivos”. Nossas tentativas vão sempre parecer inábeis, assimétricas e deformadas. Pelo menos, as minhas parecem. Pois o sentido egípcio de ordem em todos os detalhes é tão poderoso que qualquer variação, por mínima que seja, parece desorganizar inteiramente o conjunto (GOMBRICH, 2008, p.64).
Não podemos nos esquecer que as pinturas egípcias eram todas voltadas a religião, direta ou indiretamente, por este motivo é que a maior parte das pinturas encontram-se nas tumbas.
Estas obras relatavam a vida do faraó, as ações dos deuses, a vida após a morte, as colheitas, as caçadas de animais, da pesca, de acasalamento de pássaros. Passagens que representavam o dia a dia da vida do proprietário da tumba e muitas delas o exaltando, isto porque acreditavam na continuidade da vida após a morte e desta maneira as pinturas os lembrariam de sua vida cotidiana terrena.
Os egípcios não trabalhavam com a técnica de perspectiva, em contra partida, a proporção era um fator fundamental, pois quanto maior sua colocação na hierarquia, maior era sua estrutura.
Nas cenas em que o faraó aparecia, sua figura era priorizada, uma vez que ele era associado ao próprio deus, portanto, sua representação era maior que as pessoas que o cercavam. Logo após, vinham os membros da elite e os donos das tumbas, que eram retratados em tamanho menor que o do faraó. Consequentemente, os comerciantes, servos, escravos, animadores da corte, arvores, detalhes arquitetônicos, eram ainda menores. Outro ponto importante era a forte simbologia que os animais possuíam nesta cultura. O falcão era associado ao deus Hórus e a realeza, depois passou a ser associado ao faraó, por alcançar os céus e sua capacidade de caça. Os felinos representavam as divindades Sekhmet que possuía a cabeça de uma leoa e Bastet que possuía a cabeça de um gato. Os humanos que maltratassem ou ferissem um felino eram julgados como criminosos e castigados com altas punições. Outro animal adorado eram os bovinos, que representavam a deusa Hator, representada pela gentil vaca, ela era considerada a provedora. E assim muitos outros animais eram adorados.
Tudo era representado conforme os artistas os entendiam (com detalhes importantes evidenciados) e não da maneira como eram vistos.
O trabalho era efetuado por um grupo de desenhistas (sesh, em egípcio antigo) ou “desenhistas escultores” (sesh kedut) e cada um ficava responsável em efetuar uma determinada tarefa.
Figura 1: Técnica da malha quadriculada
CASSON, Lionel. O Antigo Egito. Rio de Janeiro: José Olympio, 1983.
A parede era nivelada e usualmente coberta por uma camada de estuque, que era polida. (STROUHAL, 2007).
Então um quadriculado era pintado para dar apoio ao futuro desenho. Essa técnica permitia que o desenhista se guiasse e pudesse transmitir a ilustração, que provavelmente, já estava feita em uma superfície menos (um pedaço de pedra ou de madeira coberta de estuque), para a parede. (HAGEN et al, 1999; STROUHAL, 2007; GOMBRICH 2008).
Alguns remanescentes arqueológicos nos sugerem que um rabisco era feito primeiro e depois era corrigido por um desenhista mais experiente (STROUHAL, 2007).
Figura 2: A Vida no Antigo Egito
STROUHAL, Eugen. A Vida no Antigo Egito (tradução de Iara Freiberg Francisco Magalhaes, Marcelo Neves). Barcelona: Folio, 2007, p. 164
Nestas pinturas, além da representação da figura humana através da lei da frontalidade outra coisa que se destacava eram as cores. As tintas eram retiradas da própria natureza. O preto era retirado do carvão de madeira, estava associada a noite e a morte, mas também poderia representar a fertilidade e a regeneração. O branco obtido a partir de cal ou do gesso, simbolizava a pureza e a verdade. O vermelho obtido a partir de cores, seu significado era ambivalente, por um lado significava energia, poder e sedução, por outro lado, associado ao maléfico deus Set. Era com vermelho que se pintava a pele dos homens. O amarelo, para o criarem, os egípcios recorriam ao oxido de ferro hidratado, era relacionado a eternidade. O verde era extraído da malaquite do Sinai, simbolizava a regeneração e a vida. O azul obtido a partir da azurite ou oxido de cobalto, era associado ao Nilo e ao céu.
A partir das tonalidades usadas podemos imaginar o quão coloridos e vibrantes era os interiores dos templos e túmulos, porem a passagem do tempo fez com que as cores originais se perdessem.
Figura 3:
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