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A Resenha Acadêmica

Por:   •  27/12/2018  •  Relatório de pesquisa  •  1.640 Palavras (7 Páginas)  •  157 Visualizações

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Universidade Estadual de Alagoas

Campus Universitário Zumbi dos Palmares

Curso de Licenciatura em Letras

        

Rayane Daniele Rodrigues da Silva

Resenha acadêmica apresentada como requisito parcial de avaliação da eletiva Teoria do conto ministrada pelo Prof. Dr. Jeová Santana no semestre 2018.2, no Curso de Letras - Português do Campus V da Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL.

União dos Palmares- AL

Dezembro 2018

O amor e seus desafios

O homoerotismo e as personagens homoeróticas aparecem com pouca frequência na literatura brasileira, e quando surgem, ainda é de forma tímida, principalmente quando se trata do amor de homossexuais e a homoafetividade. Isso porque está configurado um forte preconceito e descriminação a autores e obras que visam, com esses assuntos, a reflexão da temática do amor entre pessoas do mesmo sexo. Dessa forma, a repressão social se faz muito presente quando se aborda aspectos que vão em contraposição aos conceitos da sociedade, e esse fato é presente desde a antiguidade.

É exatamente disso que trata a obra “morangos mofados, do autor brasileiro Caio Fernando Loureiro de Abreu. O livro publicado pela editora Agir, em fevereiro de 2011, está dividido em três partes: “o mofo”, com nove contos, que fala sobre personagens frustrados, desesperados e melancólicos, que muitas vezes se entregam às drogas e ao álcool; logo em seguida vem “os morangos”, com oito contos, que traz uma leveza e uma esperança momentânea, abordando assuntos como repressão social, preconceito, e histórias de pessoas sem destino e objetivo de vida; e por fim, “morangos mofados” composto de apenas um conto, conto esse que dá nome ao livro e discorre sobre um recomeço, onde o protagonista deseja, agora, plantar “frescos morangos vivos vermelhos”. (p. 149).  

Caio Fernando Abreu escolheu a homoafetividade como tema constante de sua obra, no momento em que o Brasil vivia uma repressão política e social muito grande, na qual as pessoas lutavam e sonhavam com uma liberdade de afirmação, sem julgamentos, principalmente sexual.

A obra dispõe, no total, 18 contos recheados de narrativas incríveis, e essa resenha se limitará a três: terça-feira gorda, aqueles dois, e sargento Garcia respectivamente. São quatro contos que ilustram histórias basicamente parecidas e que tem questões claras e evidentes da temática homoerótica.

Terça-feira gorda é um conto ambientado num baile de carnaval, onde o narrador vivencia um encontro erótico com outro homem. A narrativa, carregada de erotismo e ousadia, nos apresenta dois homens que se consideram livres para usufruir ao máximo do prazer que o envolvimento entre ambos provocará, “ele começou a sambar bonito e veio vindo para mim. Me olhava nos olhos quase sorrindo, uma ruga entre as sobrancelhas pedindo confirmação. Confirmei, quase sorrindo também” (p.55). Toda a história acontece com muita admiração e sexualidade, “você é gostoso, ele disse.” (p.57) A sintonia entre os dois é incrível e os dois se envolvem livremente, sem preconceito e preocupação, apenas curtindo o momento que está sendo ímpar para os dois.  Por outro lado as pessoas ao redor olhavam e condenavam o que estavam presenciando, incomodados, “nos empurravam em volta, tentei protegê-lo com meu corpo, mas ai-ai repetiam empurrando, olha as louca” (p.58), e com expressões homofóbicas, “Veados, a gente ainda ouviu” (p.58). Assim, eles saem da festa e seguem para a praia, onde começam a esquentar o momento, se admirando e se acariciando. De repente são surpreendidos por um grupo de pessoas “vieram vindo, então, e eram muitos” (p. 59) que os agride fisicamente, “a queda lenta de um figo muito maduro, até esborrachar-se no chão em mil pedaços sangrentos” (p.59). A violência sofrida denota o retrato irônico de um povo que se esbalda no carnaval usando máscaras, mas é incapaz de romper seus padrões preconceituosos, visando como correto apenas os seus conceitos formados.

Em Aqueles dois, conhecemos a história do envolvimento de Saul e Raul, dois rapazes frustrados que saíram de relacionamentos fracassados. Raul vinha de um casamento arruinado, três anos e nenhum filho. Saul, de um noivado quase interminável que terminara um dia, e ainda um curso baldado de arquitetura. Coincidentemente, os dois foram efetivados na mesma empresa, que classificavam a mesma como um deserto de almas vazias. As outras pessoas que já trabalhavam na firma os admiravam, pois eram bastante atraentes ”eram moços bonitos, todos achavam.” (p.134). Depois de um tempo de trabalho, Saul chega um dia atrasado na empresa e diz para Raul que o motivo teria sido um filme que assistira na noite anterior e mais uma vez a coincidência se faz presente entre os dois, pois Raul já tinha assistido ao mesmo filme “eu conheço e gosto muito” (p.135), e a partir daí a conversa começou a fluir. Entre doses de cafés e diálogos sobre filmes de que os dois gostavam, o afeto cresce até tornarem-se amigos, falarem sobre suas vidas como confidentes. Enquanto isso, no escritório, todos percebiam a aproximação deles, muitas fofocas e curiosidades, até que foram demitidos, vítimas do preconceito social. Saíram do escritório juntos e tomaram um táxi. De certa forma, trata de um conto romântico que pode ter sido interrompido pela opinião das pessoas. Diferentemente do que os leitores imaginam, o conto que é dividido em 6 partes contendo 8 páginas, traz um desfecho totalmente inverso do que se esperava. A cada parte lida o leitor deseja que os dois fiquem juntos e felizes, como normalmente acontece em outros desfechos.

O que mais chama atenção na narrativa é o estilo que Caio Fernando Abreu possui, pois a todo o momento deixa explícitas sua ironia e ousadia contra a opinião de algumas pessoas quando se refere a homoafetividade. É um texto bastante cíclico, pois no início do texto o autor introduziu uma frase que induz o leitor a entender toda a história ao final da leitura. Raul e Saul sentem-se vingados simbolicamente daquelas pessoas do escritório, “Quase todos ali dentro tinham a nítida sensação de que seriam infelizes para sempre. E foram.” (p. 141).

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