Adaptação da Morte de Narciso para Teatro
Por: JONAS OTAVIO BILDA • 26/6/2015 • Ensaio • 669 Palavras (3 Páginas) • 219 Visualizações
ADAPTAÇÃO DE “A MORTE DE NARCISO”, DE OVÍDIO
ATO I – Narciso e Eco
Entra Narciso, perdido, olhando para os lados, pois perdeu-se de seus colegas de caça.
NARCISO: Alguém me escuta?
ECO: ...escuta!
Sem ver, a ninfa está escondida atrás de uma árvore, atrás de Narciso.
Queda-se atônito, dirige o olhar a toda parte, alça a voz e diz:
NARCISO: Vem!
ECO: Vem!
Ela chama quem chama. Volve o olhar, e ao perceber que a voz muda de direção, pois a ninfa se esconde em outras árvores e arbustos para despistá-lo, por vergonha.
NARCISO: Por que foges de mim?
ECO: Por que foges de mim!
Detém-se e, iludido por voz replicante, fala:
NARCISO: Aqui nos juntemos!
Eco, com volúpia nunca experimentada, devolveu:
ECO: ...juntemos!
Seguindo suas próprias palavras, da selva sai e vai abraçar-se ao pescoço do amado. Ele fugindo, diz:
NARCISO: Tira as mãos, não me abraces, morrerei antes que tu possas me reter!
Ele se afasta dela, e ela, apenas:
ECO: Que tu possas me reter!
Desdenhada, em prantos silenciosos, se esconde em selva e de vergonha e ramos cobre o rosto e vive em grutas ermas.
Assim Narciso, esta e outras ninfas de águas e montes e também rapazes, iludira.
Logo, uma das desprezadas, ergue as mãos aos céus em desespero, e sua mensagem é reproduzida por Eco, ali perto.
ECO: Que ele ame e quiçá não possua o amado!
ATO II – Narciso se conhece
Narciso, cansado da caça, vai até um pequeno lago, e ao se abaixar e ver a imagem que se forma na água, paralisa.
Se embevece de si, e no êxtase pasma-se, como um signo marmóreo, uma estátua de Paros.
NARCISO: Mas... Que vejo?
Contemplo teus olhos, estrelas gêmeas!
A cabeleira digna de Baco ou Apolo!
Tua face impúbere, teu pescoço ebúnero!
Tua grácil boca e o rubor à nívea candura mesclado... Admiro isto tudo que torna-o admirável!
Quantos beijos irados deu na falaz fonte. Quantas vezes querendo abraçar a visão, na água os braços mergulhava achando nada.
Não sabe o que está vendo; mas ao ver se abrasa, e o que ilude os seus olhos mais o incita ao erro.
Eco, desolada, apenas o assiste a distância, recoberta de folhagens. As abaixa lentamente por descuido, e ao menos brusco movimento de Narciso, as ergue novamente, temendo ser vista por aquele quem a rejeitou.
Narciso inicia um monólogo, interagindo com a selva e seu reflexo.
NARCISO: Acaso, ó selva, alguém mais cruelmente amou?
Eu vejo o que me apraz; mas o que ver me apraz,
tocar não posso, e em tanto engano sigo amando.
Quem és? Vem cá! Rapaz sem par, por que me iludes?
Aonde vais sem mim? Em beleza e idade
somos pares, e até mesmo as ninfas me amaram.
Esperança me dás com teu semblante amigo;
quando te estendo os braços, teus braços me estendes;
quando rio, sorris.
Esse sou eu! Sinto; não me ilude a imagem dúbia.
...