QUEM SOU EU - UM MONÓLOGO DEPRIMIDO

Quem sou eu? Eu sou... eu. Só isso. Só... eu. Sem letras maiúsculas. Monossílabo.

O mundo não se desequilibraria caso eu sumisse. A Terra não sairia de sua órbita, o Sol não deixaria de queimar. Tudo permaneceria exatamente no mesmo lugar, do mesmo jeito.

Tudo porque a existência de um indivíduo não tem propósito. E eu sou esse indivíduo. Cuja existência é nada mais que um mísero grão de areia nessa praia gigantesca que é a vida. (Uau, que metáfora ridícula).

Eu não descobri a cura do câncer, eu não inventei o avião, eu não construí ou desenhei a torre Eiffel, eu não salvei crianças da fome, eu não tirei um país da pobreza, eu não resolvi a crise de água pela qual estamos passando. Eu não fiz nada disso. E por mais que eu saiba de tudo isso, que eu saiba que minha existência não acarretou nada de agradável ou benéfico para o planeta, eu continuo tentando.

Eu continuo tentando não só por mim, mas pelos meus pais também. Eu não nasci um mês antes do esperado para desistir. Eu não aguentei sete anos na escola que eu mais odiei na minha vida para simplesmente largar tudo quando só falta um ano e meio para tudo acabar.

Eu não sou só eu. Eu sou um lutador. Eu sou alguém que, em dezessete anos de vida, já passou por muita coisa que talvez pessoas de quarenta não tenham passado ainda.

Não é a idade que faz alguém ser sábio. Talvez soe muito precipitado eu dizer isso, afinal, o que é que eu sei sobre sabedoria? Provavelmente pouca coisa. Mas o que eu sei é que o que faz a sabedoria é a experiência. E experiência não vem com o tempo. Vem com a vontade de ter experiências. A sabedoria vem com os erros. Vem com as descobertas. Eu sou um explorador. Eu sou renitente. Eu sou insistente. Eu sou forte. E nada, nem ninguém, vai me impedir de fazer seja lá o que eu queira fazer.

Meu único propósito para continuar vivo é chegar aos trinta anos.

Eu quero sair da escola e entrar na faculdade de direito. Eu quero sair da faculdade e passar num concurso federal. Eu quero me tornar um Delegado Federal. Eu quero poder me sentar num escritório e escrever relatórios sobre crimes. Eu quero trabalhar na fronteira apreendendo criminosos. E, depois que eu chegar lá, terei realizado o que hoje considero meu sonho. Terei minha vida perfeita, planejada, sendo executada exatamente como eu queria.

Quando isso acontecer, eu serei o ser humano que eu quero ser hoje. Eu serei eu.