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A CONSTRUÇÃO DO RACISMO CIENTÍFICO: Ideias Remanescentes no Pensamento Brasileiro

Por:   •  3/3/2020  •  Trabalho acadêmico  •  3.463 Palavras (14 Páginas)  •  190 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS

NOME: JONATHAN HENRIQUE GOMES  

MATRÍCULA

PROF.: HENRY M. BURNETT JÚNIOR

PERÍODO: VESPERTINO

UC: LEITURA E INTERP. DE TEXTOS CLÁSSICOS I (TURMA E)

 

A CONSTRUÇÃO DO RACISMO CIENTÍFICO: ideias remanescentes  no pensamento brasileiro

Guarulhos

2019

INTRODUÇÃO

                  

Quando falamos de etnia, ou etnicidade, é inegável citar o racismo científico como principal fator de naturalização das diferenças entre os povos, pois este foi um pensamento construído que influenciou (e ainda influencia) muitos estudiosos ocidentais, inclusive brasileiros, e permitiu que diversas atrocidades à humanidade ocorressem no ocidente ao longo dos séculos.

Para entender o processo do “racismo à brasileira” discutido por DA MATTA (1981) é necessário entender como esse pensamento tomou forma, a maneira como foi introduzido no Brasil e como o racismo foi suavizado para construir uma identidade nacional. E por conseguinte, analisar como o Brasil, mesmo possuindo uma rica diversidade cultural e étnica, ainda é um país onde a ideia de preconceito racial se propaga o de maneira sutil no pensamento dos brasileiros.

ORIGEM HISTÓRICA

É durante o final do século XV e início do século XVI, na “descoberta” do continente americano pelos europeus, que surge o primeiro confronto com a alteridade de seus nativos. A primeira questão levantada é “se esses povos distantes pertencem a humanidade”. O primeiro critério utilizado para responder esta pergunta foi de cunho religioso: “o ‘selvagem’ tem uma alma? O pecado original também lhes diz respeito?”. Este questionamento é colocado durante todo século XVI e de forma alguma é solucionado (LAPLANTINE, 2003).

Em boa parte dos dois séculos seguintes, além do critério religioso, os europeus usaram vários outros para julgar se convém dar um estatuto de humanidade aos nativos americanos, dois desses critérios se construíam em duas ideologias concorrentes: a figura do mau selvagem e do bom civilizado e a figura do bom selvagem e do mau civilizado, sendo duas variantes: a primeira, baseada na condescendência e na proteção paternalista do outro e a segunda, baseada na sua exclusão (LAPLANTINE, 2003). Outro critério usado neste mesmo período foi a tese da debilidade e imaturidade do continente americano (SCHWARCZ, 1993).

Foi quando começou-se a pensar em unidade do gênero humano que surgiu sua hierarquização e a ideia de “degeneração” como fator patológico, ou seja, os nativos americanos eram inferiores aos europeus porque não apresentavam normas de conduta moral, padrão cultural e estético parecidos (SCHWARCZ, 1993).

No início do século XIX, após a Revolução Francesa e a forte influência do pensamento iluminista, é introduzido o termo “raça”. É nesse momento que ocorre a naturalização das diferenças humanas: apresenta-se fortes discursos raciais como uma variante no debate sobre cidadania; se a partir da Revolução Francesa a ideia de direito igualitário (para o “povo”) e da consolidação da humanidade como uma unidade eram muito presente nos discursos, agora era preciso definir a quem pertenciam esses direitos (SCHWARCZ, 1993).

Ainda no início do século XIX, duas grandes vertentes separavam diversos autores que tentavam pensar na origem da humanidade: a monogenista e a poligenista. Os monogenistas pressupunham, partindo de uma visão religiosa, que a humanidade era homogênea e se desenvolvia em um gradiente que iria do mais perfeito (mais próximo do Éden) ao menos perfeito (mediante a degeneração) sem pressupor uma noção única de evolução. Com a sofisticação das ciências biológicas, no decorrer do século, as hipóteses poligenistas surgem para contestar as de dogmas religiosos e explicar a origem da humanidade a partir de um viés científico (SCHWARCZ, 1993): “[...] as diferentes raças humanas constituem ‘espécies diversas’, ‘tipos específicos’, não redutíveis, seja pela aclimatação, seja pelo cruzamento, a uma única humanidade” (SCHWARCZ, 1993, p. 49).

Por outro lado, as hipóteses poligenistas foram de grande influência na interpretação biológica dos estudos sobre o comportamento humano. Estudos baseados na medição do crânios pressuporia as características do comportamento criminoso e das doenças mentais a partir de leis biológicas e naturais.

É apenas após a publicação do livro “A origem das espécies” de Charles Darwin, em 1859, que as duas correntes teóricas mudam de enfoque: além de seguir o modelo evolucionista do aspecto biológico, podia-se interpretar as questões de raças de maneira política e cultural. Enquanto os monogenistas defendiam a ideia de hierarquia de raças usando parâmetros de diferentes níveis mentais e morais; os poligenistas, ao mesmo tempo que admitiam haver ancestrais comuns da humanidade na pré-história, afirmavam que as espécies humanas havia a muito tempo se separado e evoluído em diferentes níveis de heranças e aptidões (SCHWARCZ, 1993).

Mesmo que as várias interpretações dadas ao livro de Darwin fossem muito diferentes do que o autor supôs originalmente, o pensamento determinista do modelo evolucionista era presente no pensamento social da época (SCHWARCZ, 1993).

No que se refere à esfera política, o darwinismo significou uma base de sustentação teórica para práticas de cunho bastante conservador. São conhecidos os vínculos que unem esse tipo de modelo ao imperialismo europeu, que tomou a noção de "seleção natural" como justificativa para a explicação do domínio ocidental, "mais forte e adaptado" (Hobsbawm, 1977 e 1987; Néré, 1975; Tuchman, 1990 apud SCHWARCZ, 1993).

Em síntese, esse foi o percurso pelo qual os europeus naturalizaram as diferenças entre os povos. Em momento algum, do século XVI e início do século XX, é pensado em diversidade humana como critério para o status de humanidade, mas é pensado diversos critérios para definir índios e negros como raças inferiores, justificar a sua escravidão e outras diversas violências. Para os europeus na descoberta do “outro” o ponto de partida e chegada sempre foi o "nós".

O CONTINENTE AMERICANO NO CENTRO DAS DISCUSSÕES ÉTNICAS
         

A miscigenação ocorrida no continente americano após a colonização, e principalmente no Brasil, entra em foco nos debates sobre “raça” no final do século XIX. A ideia de “degeneração de raça” foi elaborada para inferiorizar os descendentes das relações sexuais entre brancos, índios e negros e justificar a superioridade do branco, pois as teorias os apontavam como “pré-dispostos a herdar” todas as características negativas das outras “raças”. Esse determinismo racial era usado para apoiar ideais conservadores de raça, segregação e proibição de relacionamentos étnicos entre diferentes raças (SCHWARCZ, 1993).

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