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A Construção da identidade surda numa sociedade ouvinte

Por:   •  22/5/2018  •  Pesquisas Acadêmicas  •  4.857 Palavras (20 Páginas)  •  274 Visualizações

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O SUJEITO SURDO
A construção da identidade surda numa sociedade ouvinte

INTRODUÇÃO

          Esta etnografia surgiu a partir de uma avaliação do curso de Antropologia I da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde deveríamos pesquisar e registrar conforme aquilo que nos foi transmitido durante as aulas da disciplina, bem como avaliar nossa área de interesse segundo os aspectos antropológicos trabalhados.

         A principio abordaríamos aspectos gerais sobre a identidade da comunidade surda, como os laços entre aqueles que a integram, suas próprias regras de conduta e cultura, bem como seu próprio idioma, tornando-a assim um corpo social distinto da sociedade, entretanto, por ser um tema muito amplo e rico para ser trabalhado em pouco tempo, o grupo decidiu focar na categorização da surdez como uma doença que deveria ser tratada, como é naturalizado por boa parte da sociedade, enquanto que, para a comunidade surda, ela constitui parte integrante de sua identidade. Sendo assim, surge o questionamento: seria a surdez realmente uma doença ou uma característica que os torna únicos?

          O grupo visitou três locais onde há grupos fixos de surdos, sendo eles: INES – Instituto Nacional de Educação dos surdos, Associação Congregadora de Surdos Alvorada e Paróquia São Francisco Xavier.

          Durante nossos primeiros contatos fomos classificados de formas diferentes segundo o grupo com o qual conversávamos. “Na Igreja e perante professores do INES éramos “estudantes universitários fazendo pesquisa sobre os surdos”; perante alunos do INES, com os quais conversamos informalmente, “éramos pessoas diferentes em seu espaço”, despertando curiosidade e interesse:” a moça que conversa em LIBRAS mais ou menos, a outra moça que tem dois piercings no nariz e um moço que parece alemão”; na Associação Alvorada, éramos “conhecidos que estavam ali para confraternizar e para fazer amigos surdos”.

          Com certa dificuldade devido à barreira do idioma, obtivemos sucesso em nos comunicarmos com cada grupo, ora utilizando intérpretes, ora deixando com que lessem nossos lábios. Havia os momentos em que tentávamos conversar em LIBRAS, mas sem muito sucesso. Éramos ensinados o tempo todo pela comunidade, que nos recebeu muito bem. Apesar das barreiras, conseguimos apresentar nossa proposta de trabalho, falando sobre o interesse acadêmico em ampliar o ambiente surdo para o resto da população, e compreender de que forma a surdez influencia na constituição do surdo como um sujeito.

JUSTIFICATIVA

         Durante muitos anos o surdo foi visto como alguém que deveria se adaptar aos outros, aprenderem o idioma oral e não se aceitar como realmente é. Para a comunidade surda e seus estudiosos isso ficou no passado, mas para grande parte da sociedade esse pensamento persiste e ainda possui muita força, já que em pesquisa realizada pelo grupo, praticamente todos os entrevistados – ouvintes – categorizaram a surdez como uma doença.

         Através de uma entrevista semi-estruturada, trinta pessoas responderam às seguintes questões: 1) Como você define surdez? Por quê?; 2) Você tem ou já teve algum contato com um surdo?; 3) Você conhece alguma medida de inclusão social em espaços que normalmente são freqüentados por ouvintes?.

         Dentre os entrevistados, vinte e nove pessoas definiram a surdez como “deficiência, doença, problema, perda, falta e tristeza” (!), mesmo aquelas que já haviam tido contato com algum surdo em seu cotidiano classificaram a surdez como “uma doença quando se nasce com ela e uma fatalidade/seqüela quando a adquire”.  A conclusão a que se chega é a de que a maior parte da população possui uma concepção negativa da surdez e que enxergam o surdo como um “sujeito capaz de trabalhar e viver normalmente, mas que, devido à falta da audição, vive a margem da sociedade”.

         Apesar disso, uma resposta chamou atenção, pois definia a surdez como uma característica física do surdo, como algo que lhe era inerente e que constituísse sua identidade. Partindo destas idéias, o grupo observou e conversou com surdos na expectativa de descobrir o que a surdez significava especificamente para eles, que eram objeto deste trabalho.

         Sendo assim, destacaram-se duas categorias diferentes dadas à surdez. Enquanto que para ouvintes ela é uma deficiência, para os surdos – pelo menos aqueles que participaram da construção desta etnografia – ela é uma característica identitária.

         A partir destas premissas, surge o questionamento: O que deve ser levado em conta? Há lado certo e lado errado neste tipo de debate?  

OBJETIVO

          O objetivo desta etnografia é desconstruir um pré-conceito existente na sociedade ouvinte com relação a aqueles que são surdos, além de expor o pensamento desta classe em relação à surdez e também à sociedade que os cerca. Como mencionado, trabalharemos as categorias “deficiência”, do ponto de vista ouvinte e “identidade”, a partir do olhar do surdo.

Aqui serão apresentados ideais de resistência a adaptação forçada em que foram submetidos e a importância do reconhecimento do surdo perante a sociedade.

METODOLOGIA

          Nossa metodologia consistirá num trabalho de campo com observação participante em três lugares diferentes: Instituto Nacional de Educação de Surdos, Associação Congregadora de Surdos Alvorada e Paróquia São Francisco Xavier. Observaremos estes lugares e as relações ali apresentadas de formas diferentes, visto que há uma “regra”, um modo de agir para cada situação em que estamos inseridos.

          Utilizaremos também pesquisas semi-estruturadas aplicadas a dois grupos focais distintos: surdos e ouvintes, a fim de levantar dados sobre a definição de surdez para cada um deles. A partir desses métodos, buscaremos aproximar a comunidade surda do resto da população e extinguir os mitos que a cercam.

DESENVOLVIMENTO

          O trabalho de campo fora dividido em duas fases. A primeira consistia em pesquisas, tanto bibliográfica quanto física com diferentes pessoas pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro e também por e-mails e redes sociais. A segunda fase do trabalho ficou caracterizada pela observação participante, método apreendido através da leitura de Bronislaw Malinowski, em Argonautas do Pacífico Ocidental.

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