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A força da multidão - breve análise das jornadas de junho de 2013 no Brasil

Por:   •  8/6/2017  •  Artigo  •  9.920 Palavras (40 Páginas)  •  247 Visualizações

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                  A força da multidão -  breve análise das jornadas de junho de 2013 no Brasil

                                                         Autor: Julio Vinicius Guerra Nagem

RESUMO: O presente artigo tem como objetivo realizar uma breve análise dos movimentos que ocorreram no Brasil em junho de 2013, por meio de alguns artigos e publicações da época, onde percebemos olhares multifacetados sobre a onda de protestos que tomou as cidades brasileiras naquele período , as Jornadas de Junho, considerada por muitos um marco das manifestações de rua em nosso país.  A partir de uma conceituação teórica do movimento Operaísta, dos conceitos de Multidão e do Comum de Negri e demais filósofos do Operaísmo e Pós-operaísmo, fizemos uma retrospectiva temporal do entendimento dos significados dessas manifestações para buscarmos entender os antecedentes históricos da formação da multidão e das manifestações de rua.

Palavras-chave: Multidão; Comum; Operaísmo; Antonio Negri; Jornadas de Junho

ABSTRACT: This article aims to conduct a brief analysis of the movements that took place in Brazil in June 2013 , through some articles and publications of the time, where we realize multifaceted perspectives on the wave of protests that took the Brazilian cities in that period , the Days June , considered by many a milestone of street demonstrations in our country. From a theoretical conceptualization of Operaísta movement, the concepts of crowd and Negri Common and other philosophers of operaismo and Post-Operaism , we made a retrospective temporal understanding of the meanings of these manifestations seek to understand the historical background of the formation of the crowd and street demonstrations .

Keywords : Crowd ; Common; Operaism ; Antonio Negri ; June days

1 . O Operaísmo e o conceito de multidão

Um dos maiores filósofos contemporâneos a desenvolver e consolidar o conceito de Multidão é Antonio Negri. Tendo escrito livros e inúmeros artigos sobre esse tema, Negri é  um dos líderes de uma corrente de pensamento denominada Operaísmo, cuja linha mestra de atuação seria a renovação do marxismo diante dos impasses do segundo pós-guerra, focando no movimento operário e também no entendimento das correntes filosóficas de esquerda.  Tal movimento, possui relação com um segmento político e teórico do pensamento marxista surgido na Itália no final da década de 50 e início da década de 60.  O leitor que se aprofundar no conhecimento da obra de Negri , perceberá que ele não deu início à sua formação teórica por Marx, autor pelo qual só teria real interesse e contato sistemático com seus escritos, por volta dos anos 30. Suas primeiras influências ideológicas vieram da Igreja Católica onde experimentou e participou  do lado ativista daquela instituição no velho continente, segundo ele uma “organização de massa, articulada, amorosa, potente, onipresente”, numa conjuntura próxima à da Teoria da Libertação e das Comunidades Eclesiais de Base, no Brasil.  Na sequencia e ainda na construção do seu arcabouço de vivência prática, Negri atuou na militância chão-de-fábrica, junto ao operariado fordista da grande indústria italiana. Conhecia cada trabalhador e sua família pelo nome e em seus discursos e artigos não fazia concessões ao negocismo e peleguismo reinante nos sindicatos, cada vez mais limitados ao papel de intermediários dos patrões e das classes dominantes. BRUNO (1986, p. 12) reforça o entendimento de Negri na tratativa do tema, ao afirmar que “ a força do trabalho é a única mercadoria cujo valor se estabelece através de uma luta social.”

Somente no “Pós-Operaísmo” , nos anos 90, é que chegou-se ao conceito atual de Multidão que é um dos pilares desse artigo, na breve análise dos movimentos de junho de 2013 no Brasil. Para HARDT e NEGRI (2004), fica evidente que a questão da multidão é uma espinha na garganta do pensamento político ocidental, visto que “esta angústia e mal estar também são nossos, já que nossa resposta às perguntas plantadas por este poder constituinte não é tranquilizadora nem otimista” . Os autores sustentam ainda que a Multidão é a etapa final de uma série de lutas, isto é, um sujeito insurgente com capacidade plena de autonomia: “A multidão proporciona um sujeito social e uma lógica de organização social que hoje faz possível, pela primeira vez, a realização da democracia” (HARDT e NEGRI, 2004, p. 219).

Um dos objetivos centrais desse interessante discurso neomarxista denominado Operaísmo, seria proceder a uma releitura de Marx incentivando uma intensa reflexão sobre as transformações do capitalismo, que se tornaram hegemônicas em função da saída da crise na década de 30, quando o próprio Negri iniciou o aprofundamento do seu contato com a obra de Marx, e da forma com que o desenvolvimento prosperava nos países do mundo todo no segundo pós-guerra.

Como primeiro elemento do Operaísmo pode-se perceber que foi trabalhada, inicialmente, a determinação operária do desenvolvimento do capital como algo pautado pelas lutas operárias; assim, conforme essa lógica, quanto mais lutas, mais desenvolvimento.  Para ALTAMIRA (2008, p. 20-21), se o poder dos trabalhadores é o que força a reorganização e as mudanças no capital que se desenvolve, logo o capital não pode ser entendido como uma força externa, independente dos trabalhadores. Deve ser entendido como uma “relação de classe em si mesma” .  Segundo aquele autor, esta ideia levaria à uma justaposição teórica da força de trabalho e a classe operária.

Como segundo elemento do Operaísmo , encontramos que tais embates não eram sempre iguais, haja vista que em função da composição técnica da classe ou do paradigma vigente do trabalho, assumiam diferentes formatos. Buscava-se, naquele momento, uma resposta aos impasses nos quais se encontravam a esquerda e os sindicatos italianos no segundo pós-guerra, diante da chegada e difusão dos métodos tayloristas. Os sindicatos faziam referência a um tipo de operariado que já não existia e que tinha sido o sujeito social do grande ciclo de lutas que atingiu seu ápice na revolução soviética e na revolução alemã. Para BRUNO (1986, p.12) a luta operária não tinha condições de se desenvolver no tipo capitalista de organização dos trabalhadores que o próprio sistema capitalista impunha, visto que “ a disciplina de fábrica implica na completa obediência e submissão do operário ao sistema tecnológico de produção. E esta é a única forma de organização que o capitalismo pode admitir”.  A qualificação técnica do operariado no passado  - de alta qualificação profissional – e sua motivação política nas lutas pelo poder sobre os meios de produção era diferente do que se via com o taylorismo, , que tratava com um operariado massificado, sem  qualificação técnica, vindo do campo ou das migrações internas e externas, recém-chegado aos grandes polos de industrialização e às metrópoles. O terreno de embate político de outrora, centrado na articulação da luta econômica e política para refletir o poder da classe operária sobre a produção, estava somente adstrito à luta salarial e à recusa do trabalho, sendo que o embate econômico já continha a luta política.

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