Anotações sobre "O testemunho e a produção de valor moral: observações etnográficas sobre um centro de recuperação evangélico" de Cesar Pinheiro Teixeira.
Por: Ana Brito • 7/6/2019 • Resenha • 1.253 Palavras (6 Páginas) • 197 Visualizações
O testemunho e a produção de valor moral: observações
etnográficas sobre um centro de recuperação evangélico
Cesar Pinheiro Teixeira
Ele inicia este texto descrevendo a observação de um testemunho em um centro de recuperação masculino, onde pretendia descrever os mecanismos sociológicos associados à prática do testemunho no contexto de um centro de recuperação, no qual sua construção se confunde com a própria ideia de “recuperação”.
Ele vai dizer que o ato de testemunhar possui um indicador moral. Pois esse testemunho é percebido ali como o principal signo da “reconstrução moral de si”
A hipótese de Teixeira é que o testemunho é um mecanismo sociológico, através do qual aqueles atores socialmente desacreditados podem ganhar ou perder valor moral.
Resumindo, o objetivo dele é entender de que forma a prática do testemunho no sentido de “ser testemunho”, pode reproduzir o recuperado.
Dentro desse centro de recuperação, as trajetórias e personagens que o compõem podem ser agrupadas em 3 tipos sociais: mendigo, viciado e vacilão. Aí ele vai dizer que essas categorias não servem para dividir as pessoas, até porque não é raro que uma mesma trajetória contenha essas 3 possibilidades.
O mendigo é o morador de rua, que é considerado como aquele que está “no fundo do poço”, geralmente possui por volta de 50 anos, com diagnóstico de alcoolismo, chega lá por meio dos crentes que fazem serviços de evangelização das ruas. Por terem a característica de alcoólatras, muitos alunos também usavam a categoria “cachaceiro” para estes. A maior parte dos ex mendigos reconstrói ali a sua vida, o centro deixa de ser um local de passagem e vira o ponto de chegada. Alguns estavam lá desde que o centro fora fundado, há mais de 10 anos.
O viciado, diferente do mendigo, geralmente possui vínculos familiares, afetivos e empregatícios formais, ou seja, não era visto como dependente da solidariedade alheia. Mas o vício, que geralmente era em crack, cocaína e maconha, o tornava uma “pessoa problemática” nos círculos sociais que estava inserido. Esse viciado tende a chegar ao centro por meio de condução de familiares ou amigos, e busca a cura do vício. Também não é raro que o viciado seja um bandido que perdeu o controle e se prejudicou no movimento. Eles são geralmente pessoas jovens que ficam no sítio o tempo necessário para serem consideradas “recuperadas”.
Já o vacilão é aquele que fere a ética do considerado certo, e comete algo desviante, como estupro, roubo e furto em favelas ocupadas por traficantes de drogas ou milicianos, ou trai a própria quadrilha à qual pertence. Quando isso acontece, ele fica jurado de morte e é desfiliado, assim não pode mais ficar naquele lugar, ele perde os vínculos sociais pelos quais consegue sustentar a si e sua família. Muitos se tornam moradores de rua. Na maioria das vezes, as famílias recorrem aos centros de recuperação por medo do cara ser torturado e morto por traficantes e milicianos. Mas também há vezes em que os próprios bandidos entram em contato com os pastores responsáveis pelas casas e pedem para que busquem o infrator local. É comum que os pastores sejam chamados a interceder pelos rapazes em situações em que estão prestes a serem assassinados, e o pastor vladimir contou que na maioria das vezes, os vacilos têm a ver com dependência química, porque acredita-se que os vacilões só agem daquela maneira porque são viciados. Usar crack é uma associação direta com estas categorias, um ex bandido disse à Teixeira que na favela onde morava “o crack é uma fábrica de vilões”. Então Teixeira diz que a diferença básica entre vacilão e viciado é que o vacilão pode ser viciado, mas o viciado não é um vacilão.
Os alunos quem assumem a organização interna. Há um que foi escolhido como “braço-direito”, e construiu uma relação de confiança com o pastor vladimir, ele também é chamado assim pelos demais. Possuem os obreiros, que são escolhidos também pelo vladimir para assumirem algumas responsabilidades, eles assumem a autoridade quando o vladimir não está na casa. Há na casa também uma produção de vassouras, e o interessante é que só pode ir pra rua vender quem é considerado apto, então essa é uma oportunidade de provar recuperação e construir o testemunho.
Em seguida ele trás histórias dos alunos relatando suas decadências morais e aí vai explicar como eles transformam essa decadência em testemunho. Os textos bíblicos eram matéria-prima para a prática de recuperação. Pois ao se ter contato da palavra de Deus é que se aprende a resgatar seu valor perdido. De acordo com os próprios obreiros, os alunos que dão indícios de recuperação são os que se esforçam para aprender passagens bíblias, sabem cantar músicas evangélicas, oram quando são solicitados e tudo mais, já os que se negam a fazer algo, são os que dão claros indícios de que não estão se recuperando.
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