Conde Matarazzo: o empresário e a empresa, estudo de sociologia do desenvolvimento
Por: lulul12 • 5/3/2017 • Resenha • 1.730 Palavras (7 Páginas) • 443 Visualizações
José de Souza Martins. (24/10/1938)
Sociólogo. Professor Titular aposentado do Departamento de Sociologia e Professor Emérito da FFLCH-USP (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo).
Nascido em família de operários, quando jovem trabalhava em fábrica em sua cidade natal (São Caetano do Sul, SP), enquanto, à noite, cursava Ciências Sociais. Na USP, fez o bacharelado e a licenciatura em Ciências Sociais (1961-1964), o mestrado (1966), o doutorado (1970) e a livre-docência (1992) em Sociologia, foi aluno de Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, Octavio Ianni, entre outros.
Foi pesquisador visitante do Centro de Estudos Latino-Americanos (1976) na Universidade de Cambridge (Inglaterra) e, em 1993-94, professor titular da Cátedra Simón Bolívar. Foi professor visitante da Universidade da Flórida (Estados Unidos), em 1983, e do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (Portugal), em 2000.
Em 1996 foi nomeado representante das Américas no Grupo de Trabalho sobre trabalho escravo, criado em 1992 pela Assembleia Geral das Nações Unidas.
É conhecido por sua contribuição expressiva na área da Sociologia Rural (conflitos fundiários, trabalhador rural, modernização do campo).
Principais Obras:
- Conde Matarazzo. O empresário e a empresa (1967)
- A imigração e a crise do Brasil agrário (1973)
- O Cativeiro Da Terra (1979)
- Os Camponeses e a Política no Brasil (1981)
- O Poder do Atraso (1994)
- O cativeiro da terra (2000)
- Linchamentos: a justiça popular (2015)
- Do PT das lutas sociais ao PT do poder (2016)
Recebeu diversos prêmios, entre eles: Prêmio "Visconde de Cairu" - 1977 (Menção Honrosa), Instituto Roberto Símonsen, São Paulo, pelo livro Conde Matarazzo - Empresário e Empresa (Editora Hucitec, São Paulo, 1976).
Aula 13.10 - A formação empresarial: origens e estruturação do setor industrial
Martins, José de Souza; “Conde Matarazzo: o empresário e a empresa, estudo de sociologia do desenvolvimento”. 1976
- “Conde Matarazzo: o empresário e a empresa” (1976) é a segunda edição da tese de mestrado em Sociologia do José de Souza Martins. A primeira edição foi publicada em 1967 com o título “Empresário e Empresa na biografia do Conde Matarazzo”. Procurando compreender o início da industrialização brasileira, o autor analisa a formação grupo Matarazzo, bem como, o propósito da ação do Francisco Matarazzo na constituição da sociedade industrial.
Cap. 1 (origem e transformações do Grupo Matarazzo)
O autor faz uma reconstrução histórica do grupo expondo os acontecimentos mais relevantes, que se resumem em diversas fases da formação empresarial, e diz respeito a uma inconstância da posse do capital e ao objeto da atividade econômica. De acordo com o autor, ambos aspectos são resultados da ação do empresário, frente às “condições exteriores da empresa e a ele próprio” (p.43).
Para Martins existem cinco fases relativas à variação de capitais; são elas: (i) 1881-1890, o período da chegada de Francisco ao Brasil, até o momento em que a firma é individual. (ii) 1890-1891, período de associação com os irmãos José e Luís. (iii) 1891-1911, período de associação apenas com André. (iv) 1911-1924 período em que a empresa se transforma em sociedade anônima e retém a 2º geração do grupo em cargos diretivos. (v) 1924 em diante, quando o capital de Francisco e da família Matarazzo se torna exclusivo.
Quanto as fases que se referem ao objeto da atividade econômica, o autor aponta quatro; (i) a fabricação de banha, até 1890. (ii) 1890-1900, ampliação para comércio e importação. (iii)1900-1930, retomada das atividades industriais e concentração vertical do grupo. (iv) de 1930 em diante, predomínio da atividade industrial e concentração horizontal do grupo.
Francisco Matarazzo, imigrante italiano, nasceu em 9 de março de 1854 (Província de Salerno na Itália), primogênito de nove irmãos, chegou ao Brasil em 1881 com 27 anos, esposa e dois filhos. Quando jovem, tentou a carreira militar, no entanto, com a morte do seu pai e com o “empobrecimento” da família, teve que abdicar do seu projeto, voltando para sua terra natal. Porém não se satisfazendo em seu local de nascimento, imigrou para o Brasil com o intuito de comerciar, trazia com ele uma carga de toucinho (que naufragou) e um milhar de liras, encaminhando-se para Sorocaba. Recebeu ajuda de um amigo e abriu uma casa comercial (uma venda). Logo depois, Francisco notou que o Brasil importava banha de porco, que poderia ser produzida aqui, assim sendo, abriu uma fábrica do produto em Sorocaba, posteriormente em Capão Bonito. Adquiria a matéria prima dos estabelecimentos rurais de Itapetinga. Simultaneamente trabalhava como vendedor itinerante, “Matarazzo trabalhava com tropa de carga percorrendo toda a região e transacionando com os fazendeiros. (....) Portanto a indústria de gordura foi um desdobramento secundário do comércio rural exercido por Francisco...” (p.19)
Com duas fábricas exclusivamente sua, associou-se aos irmãos José e Luís para expandir sua atividade, José possuía um armazém/deposito em São Paulo e Luís uma fábrica de banha em Porto Alegre. A nova sociedade chamava-se “Matarazzo & Irmãos”. Francisco Matarazzo mudou-se para São Paulo. Os negócios da banha aumentavam no Brasil e a importação de bens de consumo foi substituída pela produção interna, possibilitando o mercado de adquirir uma inovação nacional: a banha em lata. Francisco funda uma nova fábrica em Porto Alegre.
A expansão da atividade de fabricação e distribuição ampla da banha se adequou com a entrada de Matarazzo nos negócios de importação de bens de consumo, entre 1890, perdurando até 1900, a empresa foi marcada pela transição comercial-industrial para comercial completamente. A intensificação do aspecto comercial foi concomitante a dissolução de Matarazzo & Irmãos. Posteriormente foi organizada uma sociedade anônima, composta por 43 acionistas, denominada Companhia Matarazzo, para aumentar a produção e o comercio de banha; Francisco e José, juntos, adquiriram a maior parte das ações, no entanto não tiveram cargos pois estavam dissolvendo a antiga associação. Francisco e José vendem as fábricas de Sorocaba e Porto Alegre para a Companhia Matarazzo; Francisco preservou apenas a pequena fábrica de Capão Bonito, firmando sociedade com André Matarazzo. José voltou para sua terra natal e Luís foi viver no interior de São Paulo.
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