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(DES)CONSTRUÇÃO BINÁRIA: PARA ALÉM DO BINARISMO SEXUAL COMO PADRÃO PREESTABELECIDO – UMA ANÁLISE A PARTIR DO MOVIMENTO DIVERSO

Por:   •  28/6/2019  •  Relatório de pesquisa  •  2.604 Palavras (11 Páginas)  •  303 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO

BACHARELADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

TEORIAS ANTROPOLÓGICAS CLÁSSICAS






(DES)CONSTRUÇÃO BINÁRIA: PARA ALÉM DO BINARISMO SEXUAL COMO PADRÃO PREESTABELECIDO – UMA ANÁLISE A PARTIR DO MOVIMENTO DIVERSO



JOSÉ CLAUDIVAM DA SILVA

RECIFE – PE

JUNHO/2019

INTRODUÇÃO

O corpo construiu-se de uma unicidade, cada pessoa é única, contudo possui características comuns a toda pessoa humana; características estas que os identificam, bem como os diferem, tais como o sexo, a raça, classe social, orientação sexual, religião, gênero, entre outros, que fundam historicamente a diversidade humana, restando claro que a formação do indivíduo é construída socialmente, logo, não está isenta de mudanças e adequações ao longo da história e no meio social ao qual está inserido diante, principalmente, das diferentes formas que se passou a enxergar o ser humano, dentro de um contexto de construção cultural identitária.

A dicotomia do sexo biológico é disseminada na sociedade, se consolidando ao longo do tempo e produzindo categorizações, de modo que os órgãos genitais, características pura e exclusivamente biológicas, determinem e definam o “ser” mulher ou homem. O binarismo sexual representa uma dessas categorizações quando se afirma que o corpo possui somente duas formas constitutivas únicas, o feminino e o masculino, e que consequentemente exprimem papeis sociais também binários.

Muito disso se dá em virtude da formação pessoal de cada um quando lhe é ensinado a agir, se comportar ou possuir determinada aparência para adequar-se ao sexo masculino ou ao sexo feminino. Outrossim, o ser adjeto precede a existência de um sujeito objeto do mesmo modo que a imposição de uma sexualidade apontada como correta, aquela que é (re)produtiva e (re)produtora, só existirá caso haja oposição com uma sexualidade inferiorizada taxada de errônea, ineficaz e/ou inútil.

Deste modo, o Movimento Diverso localizo na cidade de Serra Talhada/PE, no Sertão do Pajeú, visa quebrar com esta estrutura hierárquica de gênero ocupando espaços anteriormente negados a comunidade LGBTQI e realizando enfrentamentos no sentido de buscar e requerer reconhecimento, bem como lugar de fala para se afirmar enquanto indivíduos aptos para estarem em qualquer lugar, seja ele público ou privado.

Com a realização de entrevistas e de participação em uma das reuniões periódicas realizada pelo Movimento Diverso foi possível observar que seus espaços de fala e lugares de ocupação ainda permeiam a subalternidade, na maioria dos casos, onde lhes são negados direitos inerentes e básicos de todo cidadão, como a educação ou trabalho.

Sendo assim, por meio da teoria estruturalista, proposta pelo antropólogo Claude Lévi-Strauss, fundador da Antropologia Estrutural, que analisa a sociedade e seu contexto cultural a partir de uma lógica de estruturas onde estão determinados os comportamentos, costumes e a linguagem, dentre outros, por exemplo; ou seja, são modelos que propõe uma explicação do meio social e para estes modelos é dado o nome de estruturas.

A análise destes modelos feita pela teoria estruturalista visa compreender como as relações humanas e como as estruturas sociais se compõem e de que maneira é possível explicitar os hábitos e costumes sociais desenvolvidos nestas estruturas. Ademais, de acordo com o estruturalismo as ações dos indivíduos e, consequentemente, sua repercussão, bem como sua assimilação e concepção não são naturais, mas sim estruturado no decorrer do processo de formação das sociedades. E, como isto, a teoria estruturalista considera que os fatos que ocorrem no meio social estão correlacionados, ou seja, não existem isoladamente.

A Antropologia Estrutural proposta por Lévi-Strauss, a partir da observação-participante em diversas tribos, parte desse estudo realizado no Brasil,  possibilitou que o antropólogo pudesse visualizar a presença de regras preestabelecidas entre as estruturas socias de modo inconsciente, isto é as relações de parentesco e, consequentemente, de gênero, bem como a linguagem e os costumes dos indivíduos  e seus respectivos comportamentos inseridos nas estruturas que compõem o meio social possuem uma relação de dependência para determinar o todo, compreendendo que a estrutura representa um sistema abstrato onde os acontecimentos não se apresentam de maneira isolada.

Sendo assim, a referida teoria corrobora com a perspectiva temática da pesquisa proposta, uma vez que a manutenção de uma lógica binária está introjetada na sociedade e assim reforça a percepção de que os indivíduos estão restritos a se perceberem de modo identitário somente por condições de ordem biológica, isto é, genitalista. Ou seja, a construção de uma noção binária foi e, de certo modo, ainda é reforçada pela visão patriarcal presente nas estruturas socias inconscientemente determinando o modo de agir e de se relacionar dos indivíduos.

DESENVOLVIMENTO

O Movimento Diverso surge no ano de 2016, na cidade de Serra Talhada, numa república de estudantes batizada de Casa Rosa, sendo a grande maioria se percebendo inseridos na comunidade LGBTQI, com o intuito de traçar debates acerca das recorrentes situações de violência e de tentativa de apagamento destes indivíduos nas suas vivências e experiências na cidade, já que o machismo presente na sociedade acabava sendo mais acentuado no sertão pernambucano, mais especificamente na terra de Virgulino Ferreira, o Lampião.

As reuniões aconteciam nessa república que ficava no subúrbio de Serra Talhada, sem adesão significativa, de início, uma vez que o receio de ser visto frequentando um espaço de discussão sobre temáticas de gênero e sexualidade não era bem vista pela população da cidade. Contudo, as reuniões foram ganhando proporção e passaram a ser realizadas no Museu do Cangaço, localizado na Vila Ferroviária (antiga estação de trem) no bairro de São Cristóvão, constituindo, assim, uma quebra de paradigmas numa cidade marcada pela masculinidade pujante de Lampião em um espaço reservado para exaltar sua memória sediar encontros para debates sobre sexualidades e identidades que divergem dos padrões definidos biologicamente.

As atividades consistiam em cine-debate e ações de enfrentamento sendo realizadas em escolas, na UAST/UFRPE, em simpósios e conferências que contavam com a adesão de muitos membros e de um público diverso de diferentes faixas etárias, classes sociais e graus de escolaridade para conhecer sobre a causa e poder se posicionar sem que houvesse um reforço dos estereótipos de gênero.

Mesmo tendo avançado nas discussões acerca de identidades que perpassem a fronteira do sexo biológico ainda há muito o que evoluir, principalmente no que se refere ao respeito às sexualidades dissidentes deste padrão. Há uma resistência muito forte quando os indivíduos se afirmam como pertencente a determinada identidade de gênero e orientação sexual, acarretando em exclusão e marginalização destes que não conseguem, muitas vezes, ocuparem lugares que não sejam da subalternidade ou informalidade pelo simples fato de não se enxergarem no binarismo imposto.

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