O Plano Geral de Trabalho
Por: Viviane Santos • 2/3/2023 • Relatório de pesquisa • 2.745 Palavras (11 Páginas) • 89 Visualizações
Plano Geral de Trabalho
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE EDUCAÇÃO
EDU 02022 - Prática Pedagógica em Ciências Sociais Professora/ supervisora: Katiuci Pavei 10 de Abril de 2022
Planejamento Pedagógico
Aluno/ estagiário: Luciano Albert Faro Curso: Ciências Sociais Matrícula: 2620/00-4 N. Cartão: 00105232
1. Introdução
No presente texto inscreve-se o planejamento geral para o trabalho de estágio docente que integra o curso de licenciatura em Ciências Sociais. Serão apresentadas as propostas temáticas e didáticas e seus objetivos. Embora a escola se localize em um bairro da classe média, a maioria dos estudantes vem das vilas Divinéia e Bom Jesus, limítrofes deste bairro, zona que concentra moradores de classes populares. A carga horária prevista para o estágio é de 12 a 20 horas/ aula, distribuídas entre duas turmas de alunos do Ensino Médio: a turma 211, do turno da manhã, que terá aulas quartas-feiras, às 9h20min das 10h10min e a turma 201, do turno da noite, cujas aulas serão às segundas-feiras, das 20h35min às 21h20min – compreendendo de um mês e meio a dois meses de estágio na escola. O professor titular permitiu a exploração de qualquer conteúdo e comunicou que até agora estava introduzindo noções sobre as Ciências Sociais, como a Antropologia, a Sociologia, a Política e a Economia. Por fim, insistiu que eu entregasse algum material escrito ao final da prática do estágio, pois há dois anos atrás uma estudante estagiara na mesma escola e não havia lhe deixado nenhuma informação sobre o trabalho realizado lá. Combinamos, então, que eu lhe entregaria uma espécie de relatório, ou o próprio planejamento.
2. Temáticas e eixos articuladores
O eixo central das abordagens que constituirão este ciclo de aulas será a temática da cultura. O conceito será introduzido logo no princípio, afim de servir de base para as discussões seguintes, que em meio ao amplo universo de questões trabalhadas nas Ciências Sociais, privilegiarão temas do campo da Antropologia. Os conteúdos culturais serão abordados de forma constante e um tanto indireta, na medida em que se pretende associá-lo a fenômenos da vida dos alunos, ao mesmo tempo que a seus conceitos correlatos e derivados. As práticas culturais serão enfatizadas como tradução/ expressão de construtos conceituais, sistemas simbólicos, valores e crenças, como sendo, em suas formas variadas, reguladoras do pertencimento a grupos sociais. Um eixo temático “transversal” que cruzará o processo de ensino e aprendizagem será a música, tanto como expressão cultural a ser focada nos grupos sociais abordados, como recurso pedagógico e canal de comunicação. Com relação aos conteúdos culturais localizados, pretende-se incluir principalmente dois universos: os povos autóctones que habitam o Rio Grande do Sul, como um “contraponto” cultural e para a apresentação da realidade diferenciada destes povos e as culturas juvenis, cujas identidades são bem representadas pela adesão a gêneros musicais, sejam underground ou populares.
3. Justificativa
A principal justificativa para a atenção central dedicada à temática cultural é promover a sensibilização dos alunos com relação às diferenças culturais, de modo que construam uma postura mais relativista e respeitadora, assim como enfatizar os conteúdos silenciados nos currículos convencionais. “As culturas ou vozes dos grupos sociais minoritários e/ou marginalizados que não dispõem de estruturas importantes de poder costumam ser silenciadas, quando não estereotipadas e deformadas, para anular suas possibilidade de reação” (Santomé, 1995: 161).
A questão indígena, ainda que não faça parte permanente do cotidiano dos alunos - ao menos conscientemente, colocada a reconhecida invisibilidade de populações indígenas localizadas nas cidades - será levantada visando o reconhecimento, paralelo, da proximidade espacial e do distanciamento cultural entre diferentes grupos étnicos. “Reconhecimento à cultura popular e, mais concretamente, às formas culturais da infância e da juventude (cinema, rock and roll, rap, quadrinhos, etc.) como veículos de comunicação de suas visões de realidade e, portanto, como algo significativo para o alunado”, afim de aproveitar os conteúdos culturais e os interesses que estas pessoas possuem como base da qual partir para o trabalho quotidiano em sala de aula” (Santomé, 1995, p. 165).
4. Objetivos Gerais
# Provocar um senso questionador da naturalidade dos fenômenos da realidade, e contribuir na construção de uma postura cidadã consciente, ativa, crítica, reflexiva e com capacidade de posicionamento político. Certamente é uma intenção um tanto romântica, mas interessante ainda que atingindo parte do público ou que promova ao menos alguma discussão fora do espaço da sala de aula como efeito. Em meio a toda esta pretensão, pretendo tentar dialogar bastante em aula, afim de tentar articular idéias e interesses dos alunos com a minha experiência no campo das Ciências Sociais, apresentando alguns universos, conceitos e questões com as quais tenho maior familiaridade. # Manter uma atividade contínua de professor-pesquisador, buscando aprofundar o conhecimento da realidade da comunidade de onde vêm os alunos e de suas personalidades, saber o que estão aprendendo em outras matérias e os sentidos dados a tais conteúdos ao articularem-nos ao contexto vivido. Questionar a natureza do conhecimento enfrentado no cotidiano escolar e a possível ideologia a ele subjacente. # Agir como professor-pesquisador também no sentido de buscar o aumento de conhecimento sobre assuntos que os alunos mostrem interesse e que digam respeito às forças compulsivas que compõem as suas realidades sociais, pois “... decorre ser fundamental para o ensino de sociologia e para sua prática de investigação, a aquisição de uma compreensão geral dessas forças e um aumento de conhecimento seguro das mesmas” (Elias, ****, p. 17). # Colocar-me em uma postura de professor problematizador e mediador entre modalidades de conhecimentos, acima de uma postura de professor portador e transmissor de sabedoria. # Propor participação ativa do alunado nas aulas, mesmo as expositivas, propiciando um espaço dialógico de trânsito, troca e construção de conhecimentos através de processos interativos. # Buscar a contextualização máxima dos conteúdos veiculados e estimular a reflexão e interpretação em detrimento da reprodução mecânica de saberes, técnicas e posicionamentos. # Trabalhar na linha de defesa de uma educação anti-racista e de uma pedagogia anti-marginalização, lutando contra a preponderância de certas visões de mundo pertencentes a grupos específicos concentradores de poder. # Questionar as injustiças atuais e as relações sociais de desigualdade e submissão, assim como as formas de pensamento social e os discursos históricos naturalizados.
5. Objetivos específicos
# Introduzir os conceitos de transnacionalidade, globalização, da hegemonia americana, da diáspora africana. # Promover compreensão de que cada um compartilha uma visão com seu grupo de iguais, que existe como grupo diferenciado, e que existem outras maneiras igualmente legítimas de pensar - alteridade e identidade. # Realizar comparações interculturais possíveis através de audições musicais. # Estimular o reconhecimento e a sensibilização quanto às questões atinentes a patrimônio, culturas populares, cultura material e imaterial, folclore, apropriação cultural, propriedade intelectual etc.. # Trabalhar as nuances entre os significados de desigualdade e de diferenciação. # Fornecer subsídios para a desconstrução da representação romântica de índio, que impera no imaginário do senso comum. # Desconstruir a ideologia evolucionista, baseada no paradigma biológico aplicado às populações humanas, orientando discursos e práticas racistas, facilmente localizáveis na História. Raça como conceito bio-sócio-político. (Santomé, 1995, p. 168-169). # Enfatizar a troca de saberes e os conhecimentos extra-escolares dos alunos. # Compreender a realidade social através de manifestações estéticas de grupos culturais diversos, tanto familiares como estranhos ao universo dos alunos.
6. Conteúdos possíveis
# Ciências Sociais: contextos de origem das disciplinas, a verdade e a ciência, a posição do pesquisador, fundos epistemológicos, métodos quantitativos e qualitativos, subáreas de estudo # Cultura: identidade, alteridade, diversidade cultural, etnia, sociedade, etnocentrismo, xenofobia, fricção interétnica, relativização, sociedades simples e complexas. # Patrimônio: cultura material e imaterial, salvaguarda, cultura popular, folclore, inventários, identidade nacional. # Drogas, socialização, sociabilidade. # A escola e as instituições. # Grupos sociais, movimentos sociais. # Cotas na universidade. # Características gerais de grupos autóctones. # O rap e o hip hop. # Manifestações estéticas # Transnacionalidade, globalização, indústria cultural.
7. Possibilidades Pedagógicas
# A proposta metodológica geral, neste princípio, é a de propor temas sobre os quais eu faria uma exposição, através de esquemas e utilizando diferentes canais de comunicação (linguagem oral, escrita, musical, visual etc), como fotografias, gráficos, material gráfico extraído da internet e músicas, principalmente. # Na utilização de recursos acústicos/ musicais na mediação do conhecimento, é possível propor uma aula que se apresente (no caso, o professor, ao violão) músicas originadas em diferentes grupos sociais, após cada audição seria feita um pergunta sobre qual a origem social da música. Trabalho em trio, escrevendo-se de que grupo viria tal letra e porque, com posterior apresentação das interpretações. # Audição comparada de rap português e brasileiro, traçando relações com cada localidade, as diferenças e as identificações promovidas pelos processos de globalização, as novas mídias; articulação com questão da indústria cultural. #Produção de uma letra de rap em grupos. # Produção de pequenos textos, individual e coletivamente. # Discussões em grupos reduzidos e apresentações de tópicos ao final para o restante da turma. # Relatar experiências pessoais de pesquisa, especialmente na aula sobre patrimônio e sobre povos indígenas.
A proposta metodológica geral é articular o princípio dialógico na interação entre professor e alunos na sala de aula com as chamadas “aulas expositivas”, isto é, promover uma participação crescente dos alunos junto à sistematização de um certo corpo de conhecimentos apresentada pelo professor. A ênfase nas dinâmicas de grupo não se rá absoluta na medida em que, concordando com Meksenas, o professor tem a tarefa de “relacionar o conhecimento de senso comum ao conhecimento científico (...) e de indicar a diversidade de pensamentos possíveis” (1994, p. 28-29). Em termos práticos, seriam propostos temas e/ ou problemas, sobre os quais os alunos trariam exemplos inspirados em seus contextos vividos, ao passo que a professora faria uma exposição, para auxiliar no processo de problematização do senso comum e de teorização, utilizando esquemas e diferentes canais de comunicação (linguagem oral, escrita, musical, visual etc), como fotografias, gráficos, material gráfico extraído da internet e músicas, principalmente. Em consonância com Meksenas, esta abordagem da Sociologia dirigida a adolescentes se pretende um tanto engajada na identificação de conflitos e tensões da realidade que em falsas representações de harmonia e cooperação, típicas das perspectivas funcionalistas. Orientadas pela metodologia da problematização (Berbel, 1999), as aulas deverão constituírem-se em um espaço de observação da realidade de uma maneira atenta, com o objetivo de identificar o que esteja se mostrando como problemático, tanto no nível de problema social, quanto no de problema sociológico.
8. Recursos # Violão e letras de músicas cifradas. # Aparelho de som, com CD’s. # Textos e fotografias publicados na rede cibernética. # Esquemas, resumos. # Jornais, revistas em quadrinhos # vídeo cassete, televisão e o filme “Tiros em Columbine”.
9. Avaliação
Pretendo que a avaliação seja um processo permanente que permeie o decorrer das aulas, quando observarei o grau de interesse e participação nas atividades propostas, assim como o respeito pela voz dos outros e o resultado das produções intelectuais em exercícios individuais e em grupo. Ao fim do estágio será realizada uma auto-avaliação e a produção de um pequeno texto relativo a temas trabalhados em aula. Nas atividades escritas, será levada em conta a performance no Português, pontualmente: consistência do argumento (proposta geral do texto; “tese”), grau compreensão dos conceitos e categorias sociológicas trabalhados em aula e qualidade da redação (ortografia, gramática...).
10. Referências
BASTOS, Rafael J. Menezes. A musicológica kamayurá. BERBEL, Neusi (org.). Metodologia da Problematização: fundamentos e aplicações. Londrina: UEL, 1999. BONDÍA, Jorge Larrosa. “Notas sobre a experiência e o saber da experiência. In: (?) BOURDIEU, Pierre. El ofício del sociólogo. México: Siglo Veinteuno, 1994. BRASIL. Lei No. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. BRASIL. Parecer CEB 15/1998 – Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, 1999. COULSON, M. A., RIDDEL D. S. Introdução crítica à sociologia. 5 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. CARVALHO, José J. de; Segato, Rita. “Sistemas abertos e territórios fechados: para uma nova compreensão das interfaces entre música e identidades sociais” In: Antropologia. UnB. CORAZZA, Sandra. “Labirinto da pesquisa, diante dos ferrolhos”In: Costa, Marisa V. Caminhos Investigativos CUNHA, Manuela C. da. Antropologia do Brasil: mito, história, etnicidade. Brasília: Brasiliense, 1986. DAMATTA, Roberto. Relativizando... DESCARTES, René. Discurso do Método. ELIAS, Norbert. Introdução à Sociologia. Rio de Janeiro: Edições 70, _________. Mozart: Sociologia de um gênio. ENGUITA. Eduacacão e resistência. FEYERABEND, Paul. Contra o método. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977. FONTANARI, Ivan. Rave às margens do Guaíba. Porto Alegre: Dissertação de Mestrado, UFRGS/ PPGMUS, 2004. FRADIQUE, Teresa. Fixar o movimento: representações da música RAP em Portugal. Lisboa: Dom Quixote: 2003. GALEANO, Eduardo. Las venas abiertas de la América Latina. Buenos Aires: Siglo Veinteuno Editores, 1989. GIDDENS, A. Em defesa da Sociologia. São Paulo, Editora Unesp, 2001. GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. HAGUETTE, Teresa M. F. Metodologia qualitativas na Sociologia. Petrópolis: Vozes, 1990. LARAIA, Roque. Cultura: um conceito antropológico. LÉVI-STRAUSS, Claude. “A ciência do concreto” In: O Pensamento Selvagem. Papirus: LIEDKE FILHO, E. Para que servem as ciências sociais? Palestra de abertura do V Encontro Nacional de Ciências Sociais, promovido pela Federação Nacional dos Sociólogos do Brasil. Niterói, 20 a 23 de julho de 2004. MARTINS, Carlos. O que é sociologia. São Paulo: Brasiliense, 1982. MEKSENAS, Paulo. Sociologia. São Paulo: Cortez, 1994. MELLO, Maria I. “Música, mídia e novas identidades” In: Série Estudos, n. 1. Porto Alegre: UFRGS/ PPGMUS, 2000. MORAES, A. C. Licenciatura em Ciências Sociais e ensino de sociologia: entre o balanço e o relato. Tempo Social – revista de Sociologia da USP. Vol. 15, n. 1 (abril de 2003) MORIN, Edgar. “Articular os saberes” In: RIBEIRO, Berta. “A linguagem simbólica da cultura material”. In: Suma Etnológica Brasileira. ROCHA, Everardo. O que é etnocentrismo? Brasília: Ed. Brasiliense, SANTOMÉ, Jurjo T. “As culturas negadas e silenciadas no currículo” In: Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação. Petrópolis: Vozes, 1995. SAVIANI, Demerval. Comentários sobre o Parecer Diretrizes Nacionais para a organização curricular do ensino médio, de Guiomar Namo de Mello. Palestra realizada na SE em São Paulo, em 18.05.1998. SEEGER, Antony, et al. “A fabricação do corpo na sociedade xinguana” In: SILVA, Aracy; Grupioni, L. D. (org.) A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de primeiro e segundo graus. WISNIK, José Miguel. O Som e o sentido: uma outra história das músicas. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
11. Cronograma das aulas
Aula 1 - Apresentação. Propostas de temas para as aulas. Aula 2 – Panorama das Ciências Sociais: Sociologia e Antropologia. Aula 3 – Etnocentrismo Aulas 4 e 5 (turma 201) – A diversidade cultural através da música; os povos indígenas no Rio Grande do Sul: Kaingang e Guarani. Aulas 4 e 5 (turma 211) – Porte de armas, "Cultura do medo" e hegemonia cultural. Aula 6 – Jogo com glossário de conceitos da Ciências Sociais. Aula 7 – Avaliação escrita - redação Aula 8 – Auto-avaliação, encerramento, sobre o ingresso na universidade. |
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