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RESENHA CRÍTICA PARTE 2 DO LIVRO DE MANUEL DULTRA: Pará Dividido Discurso e Construção do Estado do Tapajós

Por:   •  4/9/2016  •  Resenha  •  1.839 Palavras (8 Páginas)  •  597 Visualizações

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RESENHA CRÍTICA

Jorginey de Jesus Carvalho

DUTRA, Manuel. O Pará Dividido: Discurso e Construção do Estado do Tapajós. Belém UFPA / naea, 1999.

Parte 2: Identidade em construção nas peças retóricas

O autor busca compreender as motivações do movimento pela criação do Estado do Tapajós, mas para isso acontecer é preciso analisar os documentos e enunciados que encerram o pensamento daqueles que direcionam os acontecimentos da vida política, econômica, social e cultural no Oeste do paraense e mais, analisar os procedimentos imediatos, quer estes sejam produzidos na região ou não. Nesse sentido, Dutra não visa um estudo linguístico das palavras enquanto objetos, mas de buscar entendimentos de enunciados que juntos explanam um sentimento, principalmente no que diz respeito aos posicionamentos ideológicos de autores que elaboram imagens que servem de fontes para a construção da noção de região.

As construções históricas ocorrem em um processo de atualização constante, pois estas não podem ser deslocadas no aqui e no agora. Assim, as manifestações retóricas são construídas no eixo de suas argumentações no dia a dia. É desse modo que são elaborados os documentos pelo Comitê Pró-Criação do Estado do Tapajós, por representantes de vários setores, por parlamentares e outros representantes políticos. Visando assim, a elementos fundamentais para a construção do Estado e a autonomia do mesmo.

Nessa segunda parte, Dutra faz uma análise dos efeitos que são considerados “problemas” para o Baixo Amazonas, causados pelas enchentes do rio Amazonas de seus afluentes. O autor, também, busca analisar a frequente menção de “desenvolvimento” o que o leva mencionar a existência de um “atraso”, a este sentido, ele compara a algo que já está mais adiantado.

Mesmo não citando a autonomia político-administrativa, a questão sobre as enchentes, oferecem elementos fundamentais e suficientes para a construção do Estado do Tapajós. Além, do “abandono” e a “falta de investimentos” dos poderes públicos. Mas a questão do abandono com potencial de riquezas é uma constatação histórica na Amazônia. Diante dessa situação é que se pensa na criação do Estado, mas é percebível na história da região que o discurso e tentativa de transformar o Baixo Amazonas em Província, Estado ou Território são tema que perdura desde o século passado.

Muitas são as justificativas históricas para a transformação da região do Baixo Amazonas em Estado. Os elementos fundamentais que sempre estiveram presentes e que hoje, formam os pronunciamentos no que diz respeito da autonomia da região são: o “gigantismo territorial”, a “distância” e o “abandono” da parte do poder central. E mais, há abundâncias de riquezas e de recursos naturais.

Dutra discorre um pensamento a respeito da identidade. Ele diz que ela é entendida aqui como algo que é construído, não é espontânea. Baseado em Ortiz, a identidade é construída assim como se constrói um projeto e esta é vinculada às formas sociais que a sustentam. Ainda, para Ortiz (1986, 138-9), é o Estado que delimita o quadro de construção da identidade nacional, constituída através de uma relação política. Nessa questão de construção de identidade, é preciso que se saiba quem são os agentes que constroem e que interesses estão vinculados a memória e a identidade nacional.

Então o autor chega à conclusão que, a identidade longe de ser algo espontâneo, é algo elaborado conscientemente por aqueles grupos que impõem a própria autonomia ou ideologia como sendo a voz da região que eles concebem com sua particular visão de realidade de mundo. Nesse sentido, a ideologia que vai predominar é sempre a do grupo que esta no poder.

Os grupos dominantes destacam em seus discursos as enchentes do rio Amazonas e de seus afluentes dentro de um ciclo de acontecimentos como um “problema” de emergência. Assim, o senador paraense Cattete Pinheiro, enfatiza em 1976: “...O ciclo das águas tem sido sempre acompanhado por um outro: o de apelos e providências paliativas, que nada representam, em face do problema crônico...”, aqui o senador vê um “complexo de problemas crônicos”, ou melhor elementos que estão interligados, que se manifestam nos mais variados aspectos e que se repetem a cada ano.

Diante das grandes enchentes do rio Amazonas e de seus afluentes as principais vítimas são os varjeiros, entendido aqui, como habitante da várzea do Baixo Amazonas, estes precisam da ajuda do Estado, ao contrário há muitas possibilidades para suportar às “invertidas brutais do Amazonas”. Mas o que Dutra ressalta é que quase sempre o grupo que está no poder, por não conseguirem e muitas vezes nem tentam amenizar o sofrimentos das pessoas que estão à margem do rio Amazonas, acabam que culpando as enchentes como as responsáveis pelo sofrimento dos varjeiros ou ribeirinhos.

Devido as frequentes enchentes, as imagens de povo que do Baixo Amazonas, que apresentado nos centros nacionais de decisões é de um povo sofrido e flagelado que habitam o exótico de rios e lagos piscosos. Mas longe da concepção desses centros, as enchentes periodicamente fertilizam a terra, assim a região não transforma seus recursos em riquezas por falta de investimentos dos que estão no poder.

Os problemas das enchentes só vão ser resolvidos ou pelo menos amenizados se houver investimentos do poder público atendendo aos apelos dos grupos tradicionais de poder locais. Mas para que isso aconteça é preciso à criação do Estado do Tapajós, pois somente assim as dificuldades encontradas pelos varjeiros seriam acompanhadas mais de perto pelos governantes.

O varjeiro, que em determinado momento é apresentado como vítima maior da cheia, em outro momento aparece como espécie de “ocorrência”, tal como os grupos indígenas são mostrados, em 1986, no relatório da Eletrobrás, interessada na construção de novas hidrelétricas (Altamira, 1989: 9). Aqui os varjeiros são visto apenas como instrumentos de interesses no mercado capitalista. Esse varjeiro aparece como o flagelado que vive e conhece os ciclos das cheias.

A enchente é utilizada como rico propiciador de barganha, por um lado para que o poder público local se manifeste e se torne presente e assim seus representantes façam suas campanhas eleitorais, ou por outro, como espécie de moeda de troca junto a instancias superiores de poder, nas quais se envolvem prefeitos de municípios que vivem as “emergências” as “dramáticas situações” do ciclo das águas.

Dutra nos mostra duas vertentes, os inúmeros teóricos e políticos

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