Resenha O poder simbólico
Por: Elias F Marques Júnior • 30/4/2024 • Resenha • 817 Palavras (4 Páginas) • 71 Visualizações
BOURDIEU, P. Introdução a uma sociologia reflexiva. In: O poder simbólico. Trad. Fernando Tomaz. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
Elias Ferreira Marques Júnior[1]
Neste capítulo é abordado o modo como as pesquisas sociológicas deveriam ser desenvolvidas. Ele inicia com um apontamento acerca da forma como a transmissão dos métodos de pesquisas deveriam ser encarados, enfatizando que consiste no ensinamento de um oficio, que, como tal, deve trabalhar os elementos práticos e teóricos. Na explanação inicial, Bourdieu (1989) critica o modo de trabalho do Homo Academicus, que se prende à necessidade de entregar trabalhos acabados, perdendo caminhos que poderiam ser percorridos por uma abordagem mais abrangente, exemplificando obras que foram mantidas como esboços. Neste ponto, o autor irá defender a formação de um habitus científico, um modo de proceder para se conduzir os trabalhos científicos, o qual pode ser ensinado e aprendido.
Em seguida, ele irá discorrer sobre a construção do objeto a ser pesquisado. Neste momento, a ênfase é dada ao modo como os pesquisadores buscam se prender à metodologia que será empregada e adotam uma temática já consagradas pela sociedade, não realizando a construção de um objeto original, que, geralmente, encontra-se em elementos vistos pela maioria como algo banal, por se tratar de um elemento que aparentemente é natural. Para este passo, coloca-se a necessidade de expandir as áreas de observação e as metodologias aplicadas, buscando comparar e relacionar os dados de diferentes modos de avaliação e de diferentes objetos pesquisados, a fim de verificar a existência de relações e propriedades que possam ser generalizadas. Para esta atividade, deve-se alertar que o requerimento de recursos, como o tempo, é consideravelmente maior, sendo por vezes preciso restringir o campo de pesquisa, abordando pelo menos os aspetos influenciados pelo objeto estudado, aconselhando-se tomar, pelo menos, mais um objeto para compor a pesquisa.
Posteriormente, o autor aborda a problemática dos conceitos pré-concebidos pelo meio social do qual ele é produto. Para este tópico, é posto como fundamental a adoção da dúvida radical, com a finalidade de evitar a contaminação da pesquisa com ideias já presentes no meio estudado, ou seja, objetos pré-construídos pelas diversas instituições sociais, como a religião e o Estado. Logo, o pesquisador precisará pôr em dúvida todos os conceitos que ele tem formulado sobre o objeto, procedendo uma suspensão de juízo acerca dele, para que no fim do estudo, não realize apenas uma reafirmação de uma doxologia. Além de eliminar estas formulações pré-existentes, é fundamental uma conversão no modo de pensar, de modo que as inclinações pessoais não influenciem no estudo, deformando o saber sociológico em uma ferramenta para disputas filosóficas ou em outras áreas.
Por fim, é destacado que, neste trajeto, deve-se manter a objetivação, não permitindo, portanto, que as dificuldades impostas, devidas à busca de conhecimentos contrários aos interesses das classes dominantes, impeça a imparcialidade do saber científico, o qual detém seu prestígio no rigoroso afastamento do objeto pesquisado, ainda que se esteja inserido nele.
Ao relacionar os dois capítulos estudados, é possível notar como o poder simbólico é capaz de interferir, entre outras coisas, na construção dos saberes científicos, de modo a garantir a legitimação de seu domínio e do status quo. Esta observação, se baseia na descrição do modo comum de estabelecimento de temáticas para as pesquisas, as quais são sugeridas pela ideologia corrente, a fim de reafirma, em uma linguagem científica, o senso comum estabelecido pela formação da estrutura estruturada que passa a ser estruturante. Diante disso, vemos o texto defendendo a suspenção destes elementos tendenciosos no trabalho científico, o que ocasiona, de forma esperada, a formação de barreiras para o prosseguimento dos estudos. No entanto, para tomar consciência desta força invisível que molda nossa realidade social, é preciso dar um passo para trás e observar de fora as cordas que movimentam as marionetes neste teatro, no qual representamos um papel que muitas vezes nos é imposto sem que o saibamos.
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