Sociologia III: Introdução ao estudo da sociologia contemporânea
Por: Suzana Schulhan Lopes • 2/4/2017 • Resenha • 772 Palavras (4 Páginas) • 430 Visualizações
FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO
Sociologia III: Introdução ao estudo da sociologia contemporânea
Professor: Rafael Araújo
Aluna: Suzana Schulhan Lopes
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: A Vontade de Saber. Rio de Janeiro: Graal, 2001. p. 74-123 |
A repressão sexual que tem sido vivida pela sociedade desde o século XVIII objetivou o sexo: ele tem a finalidade de procriar e o casal está ali para cumprir essa função da reprodução. Se há algum comportamento sexual que fuja disso, ele deve ser silenciado. Mas o “silêncio” sobre sexo é para Foucault extremamente valioso e não repressivo, porque para ele, o mutismo sempre é múltiplo e integra as estratégias que apóiam e atravessam o discurso: não se parou de falar sobre o sexo, pelo contrário, se continuo a falar dele — e mais — de outra forma, valorizando-o e fazendo dele um segredo. Essa proliferação dos discursos, ele nos ressalta, não é simplesmente um fenômeno quantitativo, mas a forma pela qual o sexo e a sexualidade podem ser reguladas Foucault estuda isso porque quer questionar essa sociedade que se fere com sua própria falsidade, e chega na hipótese repressiva, que é pensar quanto menos se pode falar do sexo, mais isso está vinculado com a ideia de revolução e prazer. Dessa forma proibitiva, tudo o que se diz sobre sexo ganha valor mercantil (certos psicólogos, por exemplo, são pagos para “ouvirem falar da vida sexual dos outros”). Assim, como uma sina, a repressão sexual está ligada a um discurso que diz a verdade sobre o sexo, e o silêncio sobre isso é a confirmação da sociedade hipócrita. Para Foucault, como sabemos, tem a ver com uma questão de controle, aumentando sempre o alcance do Estado. É quando a disseminação de discursos sobre sexo passa pela igreja, escola, família etc; uma questão de gerir o sexo através de um discurso prático e útil através de instituições que visam a inspeção dos indivíduos. Dados como natalidade, média de idade no casamento, início da prática sexual e sua periodicidade, e tantas outras especulações, são evidências de uma regulamentação econômica e também política do sexo. Nisso se enquadram também pedagogia e psiquiatria, a primeira voltada a olhares de alerta, ameaça e risco, e a segunda desembocando nas revelações sexuais perversas. Para Foucault, o século XVIII não é um século marcado pela proibição de se falar sobre o sexo, mas por um regime que regula o sexo por meio de discursos úteis e públicos, pelo detalhamento dos discursos das pessoas sobre como cada um lida com o “sexo”. O pressuposto silêncio aqui é entendido pelo autor como múltiplo, onde ele próprio é integrante das estratégias que apoiam e atravessam esses discursos.. O exame médico, a investigação psiquiátrica, o relatório pedagógico, o controle familiar – que aparentemente visam apenas vigiar e reprimir essas sexualidades – funcionam, na verdade, como mecanismos de incitação: prazer e poder. Prazer em exercer um poder que questiona, fiscaliza, espia, investiga, revela; prazer de escapar desse poder. Poder que se deixa invadir pelo prazer a que persegue. Poder que se afirma no prazer de mostrar-se, de escandalizar, de resistir, enfim, prazer e poder reforçam-se. A chave para compreender este debate é entender a relação entre biopoder, sexo e sexualidade e o quão não naturais são essas classificações, mas criadas socialmente. As primeiras identidades sexuais no século XIX só são vistas como classificatórias por técnicas que visam modelar, controlar e normalizar suas condutas sexuais, afim de estabelecer normas ou uma verdade do sexo.
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