A ERA DO VAZIO
Por: Daisy Ehrhardt • 21/5/2018 • Resenha • 21.669 Palavras (87 Páginas) • 624 Visualizações
FICHA DESTAQUE / REFERENTE DE OBRA CIENTÍFICA
2. OBRA/ARTIGO/ENSAIO EM FICHAMENTO
Lipovetsky, Gilles. A era do vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo. [Tradução Therezinha Monteiro Deutsch] Baureri, SP: Manole, 2005.
3. ESPECIFICAÇÃO DO REFERENTE UTILIZADO
Selecionar e registrar formulações extraídas literalmente da obra, que evidenciem a sua leitura completa e que, concomitantemente, estimulem reflexões sobre a era do vazio em conexão com as obras “Mundo em descontrole” e “La expulsion de lo distinto”.
A ERA DO VAZIO
PREFÁCIO
Os artigos e estudos aqui apresentados (...), focalizam o mesmo problema geral: o enfraquecimento da sociedade, dos costumes, do indivíduo contemporâneo, da era do consumo de massa, a emergência de um modo de socialização e de individualização inédito, numa ruptura com o que foi instituído a partir dos séculos XVII e XVIII. (...) se propõe a revelar essa mutação histórica que ainda está se processando.
(...) uma diversificação incomparável dos modos de vida, uma flutuação sistemática da esfera privada, (...) uma nova fase do individualismo ocidental. (...) uma revolução permanente do cotidiano e do indivíduo (...), erosão das identidades sociais, desgaste ideológico e político, desestabilização acelerada das personalidades. Estamos vivendo uma segunda revolução individualista. (p. XV)
(...) trata-se de uma mutação sociológica global que está em curso (p. XVI)
(...) novo modo de gerenciar os comportamentos, não mais pela tirania dos detalhes, mas com o mínimo de constrangimento e o máximo possível de escolhas privadas, com o mínimo de austeridade e o máximo possível de desejo, com um mínimo de coerção e o máximo possível de compreensão.
(...) novos valores que visam o livre desenvolvimento da personalidade íntima, a legitimação do prazer, o reconhecimento das exigências singulares, a moldagem das instituições de acordo com as aspirações dos indivíduos.
(...) O direito de ser absolutamente si mesmo, de aproveitar a vida ao máximo é, certamente, inseparável de uma sociedade que instituiu o indivíduo livre como valor principal e não é mais do que a manifestação definitiva da ideologia individualista. (p. XVII)
(...) Salto adiante da lógica individualista: o direito à liberdade – teoricamente ilimitado, mas até então circunscrito à economia, à política, à cultura – ganha os costumes e o cotidiano. Viver livre e sem pressões, escolher seu modo de existência são os pontos mais significativos no social e no cultural do nosso tempo, pontos da aspiração, do direito mais legitimo aos olhos dos nossos contemporâneos (...), em tudo, é a pesquisa ada identidade própria e não mais da universalidade que motiva as ações sociais e individuais; (p. XVIII)
(...) maneira de dizer que a era da revolução, do escândalo da esperança futurista, inseparável do modernismo, está acabada. A sociedade pós-moderna é aquela em que reina a indiferença da massa, na qual domina o sentimento de repetição e estagnação, na qual a autonomia particular avança por si mesma, em que o novo é acolhido do mesmo modo que o velho, em que a inovação se torna banal, em que o futuro não é mais assimilado a um processo inelutável.
(...) sociedade pós-moderna significa retração do tempo social e individual, mesmo que se imponha cada vez mais a necessidade de prever e organizar o tempo coletivo, extenuação do impulso modernista em direção ao futuro, desencanto e monotonia do novo, sufocação de uma sociedade que conseguiu neutralizar na apatia o que é o seu alicerce: a mudança.
(...) a sociedade pós-moderna não tem mais ídolos ou tabus, já não tem uma imagem gloriosa de si mesma, um projeto histórico mobilizador; hoje em dia é o vazio que nos domina. No entanto, trata-se de um vazio sem tragédia e sem apocalipse. (p. XIX).
(...) Tudo isso deu lugar (...) a uma cultura pós-moderna identificável por vários detalhes: busca da qualidade de vida, paixão pela personalidade, sensibilidade ecológica, enfraquecimento dos grandes sistemas de sentidos, culto à participação e à expressão, moda retrógrada, reabilitação do local, do regional, de certas crenças e práticas tradicionais (...) o importante é ser a própria pessoa. (p. XX)
(...) a coexistência suave das antinomias (...) uma nova fase nasce atada por laços mais complexos do que pode parecer, à primeira vista, às nossas origens políticas e ideológicas.
(...) Com o processo de personalização, o individualismo sofre uma atualização que aqui chamamos de narcisista, (...) narcisismo: consequência e manifestação miniaturizada do processo de personalização, símbolo da passagem do individualismo “limitado” ao individualismo “total”, símbolo da segunda revolução individualista. (...) mais empenhada em se realizar continuamente a esfera íntima do que em vencer na vida. (p. XXI).
(...) o notável do fenômeno é, por um lado, a retração dos objetivos universais (...) e, por outro, o desejo de estar entre idênticos, junto aos demais indivíduos que compartilham as mesmas preocupações imediatas e circunscritas. Narcisismo coletivo: parecemo-nos porque somos semelhantes, porque somos sensibilizados diretamente pelos mesmos objetivos existenciais. O narcisismo (...) caracteriza-se (...) pela necessidade de se reagrupar com seres “idênticos” (...) para se libertar, para organizar os problemas íntimos por meio do “contato”, do “vivido”. (p. XXIII).
(...) quanto mais a gente se expressa, menos há o que dizer, quanto mais a subjetividade é solicitada, mais o efeito é anônimo e vazio. Esse paradoxo é reforçado também pelo fato de que ninguém, no fundo, está interessado nessa profusão de expressões, com uma exceção que deve ser levada em conta: o próprio emitente ou criador. Isto é, exatamente, o narcisismo, a expressão sem retoques, a prioridade do ato de comunicação sobre a natureza do comunicado, a indiferença em relação aos conteúdos, a assimilação lúdica do sentido, a comunicação sem finalidade e sem público, o remetente transformado em seu principal destinatário. (...), o direito e o prazer narcisista de se manifestar a respeito de nada, por si mesmo, mas retransmitido e amplificado por um meio de comunicação. Comunicar por comunicar, (...) com a lógica do vazio. (p. XXIV)
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