A PORTA FECHOU, O PERIGO PASSOU: As performances do comércio ambulante e o ambiente dos trens.
Por: Ricardo Freire • 2/7/2018 • Pesquisas Acadêmicas • 5.597 Palavras (23 Páginas) • 226 Visualizações
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA
Lorenzo Sotto - 10354265
Pedro César Vivas - 10326180
Ricardo Freire - 10326364
Yan Carvalho – 10371772
A PORTA FECHOU, O PERIGO PASSOU:
As performances do comércio ambulante e o ambiente dos trens.
São Paulo
2017
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 4
2. O PROBLEMA DE PESQUISA......................................................................................... 5
2.1. Apresentação do Tema........................................................................................ 5
2.2. Levantamento Bibliográfico................................................................................ 6
2.3. Problema de Pesquisa.......................................................................................... 7
2.4. Hipótese................................................................................................................. 7
2.5 Demarcação de Campo......................................................................................... 8
3. O TRABALHO DE CAMPO............................................................................................ 10
4. ANÁLISE............................................................................................................................ 13
5. ANEXOS............................................................................................................................. 19
5.1. Imagens................................................................................................................ 19
5.2. Entrevistas........................................................................................................... 25
5.3. Cadernos de Campo.............................................................................................37
5.4. Grupos Focais...................................................................................................... 50
5.5. Áudios................................................................................................................... 65
1. INTRODUÇÃO
Os “diálogos” com a ilegalidade e com o movimento frenético dos trens se estabeleceram como um grande desafio ao longo de todo o percurso do trabalho – um desafio que em antítese aos trens, só pôde se desenrolar em um ritmo próprio, mais lento. Inicialmente o grupo se propunha a entender os “porquês” da adaptação do espaço do trem como local de trabalho, tendo como pergunta “O que leva a escolha do espaço dos trens da linha 10 – Turquesa da CPTM como local de comércio ambulante apesar da proibição?”. Essa questão prenunciava uma abordagem mais complexa e mais próxima aos ambulantes, o que naquele estágio da pesquisa se mostrava como aparentemente inviável. Era difícil estabelecer contato mais direto em meio a um ambiente que mesclava trabalho, ilegalidade e alta circulação de pessoas. Para além disso, gradualmente uma nova possibilidade se apresentava durante as observações – uma análise das performances dos vendedores – possibilidade essa que foi assumida. Mesmo que não fosse estabelecido um contato direto com os vendedores, poderiam ser explorados de maneira mais direta os usuários, os funcionários dos trens e os próprios vendedores, com outras abordagens e com mais opções analíticas.
Na construção inicial das ideias acerca dos vendedores, era quase um consenso para o grupo que teria que ser tomada uma postura cautelosa para não criar uma divisão maniqueísta, não sociológica e espontânea, entre “marreteiros” e seguranças da CPTM – no caso tendo os vendedores como os “protegidos” em questão. Ao longo da pesquisa, entretanto, essa preocupação se dissipou, já que a própria observação possibilitou a demolição de uma visão unilateral, e a constatação de que o fenômeno do “shopping trem” era muito mais complexo do que se apresentava a priori – tanto do ponto de vista moral, quanto do ponto de vista das questões mais concretas (leia-se, fornecimento dos produtos, métodos de inserção nas linhas e métodos de venda). O que por um lado nos protegeu de uma “ilusão” maniqueísta, por outro lado, nos mostrou que seria impossível entender os “porquês” do “shopping trem” com uma pesquisa – o que reafirmou a escolha da análise das performances e nos mostrou que estávamos numa boa direção. Só a partir daí a pesquisa evoluiu e assumiu contornos interessantes. Diálogos com funcionários das plataformas, usuários e vendedores foram estabelecidos com relativo êxito. O recurso fotográfico também se apresentou como possibilidade. Um melhor entendimento das performances, das reações e opiniões se estabeleceu, mesmo que de maneira parcial.
2. O PROBLEMA DE PESQUISA
2.1. Apresentação do tema
A cidade de São Paulo possui 12,1 milhões de habitantes segundo estimativa do IBGE para o ano de 2017. Como toda cidade e toda aglomeração humana, há uma necessidade concreta, mas também abstrata de se locomover. Diariamente, cerca de 2,7 milhões de pessoas passam pelos trens da CPTM, sendo aproximadamente 430 mil[1] pessoas só na linha 10 Turquesa. É em meio aos trilhos que dezenas de vendedores cultivam, cotidianamente, o comércio de objetos dos mais variados: “paus de selfie”, lentes para câmeras de celulares, carregadores, fones, chocolates, bebidas, guarda-chuva, etc. – tudo o que se pode imaginar, variando conforme a época e o que se encontra em alta no momento. A todo esse conjunto de vendedores e produtos, se dá o nome de “shopping trem”. Um shopping que não é exatamente um shopping, mas, que faz jus ao nome já que engloba um universo de vendedores, com diferentes técnicas publicitárias, com diferentes produtos, com diferentes preços e que todos os dias, tiram o seu sustento ou complementam suas rendas jogando, nesse caso em especial, com a linha tênue da ilegalidade. Juntos, os números gigantescos relativos à circulação de pessoas, as dinâmicas de venda, os contextos de dezenas de vendedores e os diálogos com a fiscalização da CPTM, se extrai, como resultado, uma mescla que precisa de maiores reflexões e estudos. O shopping trem se expressa, portanto, como um importante objeto sociológico, e uma problemática indispensável para o entendimento das rotinas de milhares de paulistas, que em seus deslocamentos, compram, vendem e apreendem uma diversidade de produtos. Por isso foi escolhido como tema do trabalho em questão.
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