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A Recensão Modernidade Líquida

Por:   •  23/1/2018  •  Resenha  •  2.519 Palavras (11 Páginas)  •  121 Visualizações

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BAUMAN, Zygmunt – Modernidade Líquida. Tradução;Plínio Dentzien. 2001. Rio de Janeiro: Zahar, 280p.

Zygmunt Bauman nasceu na Posnânia, na Polónia, em 1925 e faleceu em Leeds, na Inglaterra, em 2017, tendo sido um reconhecido sociólogo, filósofo e professor. De ascendência judaica, ele e a sua família foram forçados a refugiar-se na União Soviética com a eclosão da II Guerra Mundial, tendo ele feito parte do Primeiro Exército Polaco, controlado pelos soviéticos.

No pós-guerra, foi militante do Partido Operário Unificado Polaco, um partido de ideologia marxista, facto que o marcou pessoalmente e que transparece em toda a sua obra literária, e ingressou na Academia de Política e Ciências Sociais de Varsóvia, onde cursou sociologia e tirou o seu mestrado, tendo-se tornado professor da Universidade de Varsóvia, função que desempenhou até 1968.  As suas ideias críticas em relação à ação do governo comunista polaco e a sua defesa de uma conceção humanista do marxismo, tornaram-no alvo de pressões políticas, que culminaram com a sua demissão da Universidade de Varsóvia e a sua desfiliação do Partido Operário Unificado.

As purgas que se seguiram à revolta estudantil de Março de 1968, levaram a que muitos intelectuais e comunistas de ascendência judaica abandonassem a Polónia, entre eles estava Zygmunt Bauman que imigrou primeiro para Israel, para lecionar na Universidade de Telavive, e mais tarde, em 1971, para Inglaterra, onde lecionou na Universidade de Leeds.

Bauman sempre se afirmou um socialista convicto e, como crítico da sociedade contemporânea, afirmava que mais que nunca o socialismo era necessário nas sociedades da pós-modernidade como forma de voltar a alcançar os equilíbrios políticos, sociais, económicos e laborais afetados pela globalização e pelo capitalismo neoliberal atualmente vigente, os quais foram potenciados pelos avanços tecnológicos. Na modernidade líquida, termo pelo qual ele definia a sociedade fluída e sem padrões de referência da atualidade, as relações entre os membros da sociedade tendem a ser mais frágeis e, por isso, menos propiciadoras de ações coletivas que lhes deem peso e sentido político, levando a que os próprios conceitos de comunidade e sociedade, enquanto garantes de padronização de regras, valores, costumes e condutas, fosse posto em causa, gerando relações perversas de poder entre os indivíduos e entre estes e o Estado, que colocam em causa o próprio conceito de Estado-nação.

Para além da sua experiência de vida no leste europeu, que muito influenciou o seu pensamento, Bauman foi também influenciado por Karl Marx, Theodor Adorno, Jacques Derrida, Antonio Gramsci e Georg Simmel, que são amplamente referidos em Modernidade líquida.

Entre as obras deste autor podemos mencionar Amor líquido, Capitalismo parasitário, Comunidade, Confiança e medo na Cidade, Em busca da política, Globalização: As consequências humanas, Identidade, O mal-estar da pós-modernidade, Medo líquido, Modernidade e Holocausto, A sociedade individualizada, Tempos líquidos, Vida líquida e Vida para consumo.

Em Modernidade líquida o autor começa por definir os conceitos de “fluidez” e “sólidos”, distinguindo-os de seguida ao analisar as suas características e qualidades, para posteriormente utilizar uma metáfora onde atribui à sociedade moderna e ao capitalismo liberal o adjetivo sólido e às sociedades da pós-modernidade e ao capitalismo neoliberal os adjetivos líquido e fluído.   Assim, a modernidade sólida era o tempo do Estado como regulador e do capitalismo pesado caracterizado pela interdependência do capital e do trabalho, ou seja os trabalhadores para sobreviver precisavam do seu posto de trabalho e o capital dependia deles para crescer, havendo um interesse mutuo em manter a situação, porque “o tempo rotinizado prendia o trabalho ao solo, enquanto a massa de prédios da fábrica, o peso da maquinaria e o trabalho permanentemente atado acorrentavam o capital”. Em contrapartida, a modernidade líquida é o tempo da perda progressiva da influência reguladora do Estado, e do capitalismo leve, “da desregulamentação, da liberalização, da flexibilização, da fluidez crescente, do descontrolo dos mercados financeiro, imobiliário e de trabalho”. Trabalho e capital já não têm uma relação de interdependência porque o capital é “extraterritorial, volátil e inconstante”, ou seja, não tem pátria. As antigas relações laborais de longa duração foram, através da desregulamentação do trabalho, substituídas pelas de curto prazo, frágeis, inseguras, instáveis, precárias e sem oferecer grandes possibilidades dos trabalhadores poderem estabelecer planos pessoais de longo prazo, fazendo com que estes se deparem quotidianamente com a incerteza, a angústia, a ansiedade e a falta de garantias, uma vez que o emprego que têm hoje, pode-lhes ser retirado amanhã.

Posteriormente, Bauman reflete sobre o conceito de liberdade, questionando se todas as pessoas desejariam realmente ser libertadas de uma sociedade ocidental abastada e que funcionava relativamente bem, mas que criava continuamente aos seus membros necessidades materiais e culturais. Dai levantar a questão se a liberdade seria uma bênção ou uma maldição. O homem para agir de acordo com os seus desejos e pensamentos tem de assumir a responsabilidade por eles, recaindo sobre si o ónus de uma ação errada, porque a “sociedade dos indivíduos” fomenta a individualização e limita a fuga a ela. Assim, e citando Tocquevile, afirma que “o indivíduo é o pior inimigo do cidadão”. Porque o segundo “é uma pessoa que procura alcançar o seu próprio bem-estar através do bem-estar da cidade” e o primeiro “tende a ser morno, cético ou prudente em relação à causa comum, ao bem comum, à boa sociedade ou à sociedade justa”. Depois de estabelecer a distinção entre indivíduo e cidadão, o autor estabelece também a distinção entre indivíduo “de jure”, o que não tem ninguém para culpar relativamente aos seus atos, à sua miséria, aos seus erros e fracassos,  e “de facto”, o qual se torna senhor do seu destino e age de acordo com o seu pensamento e desejo, concluindo, contudo, que para que seja “de facto” é essencial que seja um cidadão e que por esta condição não se verificar o espaço público está colonizado pelo privado.

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