A Sociologia no ensino médio: Os desafios institucionais e epistemológicos para a consolidação da disciplina
Por: Sté Gaspar • 21/5/2018 • Resenha • 967 Palavras (4 Páginas) • 470 Visualizações
FIORELLI, I. S. A sociologia no ensino médio: os desafios institucionais e epistemológicos para a consolidação da disciplina. Cronos, Natal-RN, v. 8, n. 2, p. 403-427, jul./dez. 2007.
RESENHA CRÍTICA
Stephanie Gaspar[1]
Este trabalho tem por objetivo abordar de forma sintéticas as principais ideias trazidas pela autora no artigo referido. O objeto de pesquisa é o ensino de sociologia no Ensino Médio brasileiro, no campo da sociologia da educação e sociologia do currículo, e a partir disso são mostradas: formas teóricas e metodológicas para este estudo; processos e contextos histórico-culturais que a tornaram disciplina escolar; a história prático-curricular da disciplina e os problemas enfrentados pelas licenciaturas de sociologia e órgãos estatais de educação.
A autora divide sua explanação em uma série de capítulos e o esforço desta resenha será comentar os pontos principais de cada um deles. Sendo o primeiro sobre: “O ensino de sociologia e algumas abordagens da Sociologia da educação e do currículo.”, há a articulação de esquemas e conceitos de Bernstein, o conceito de racionalização de Weber e a noção de campo de Bourdieu, abordando a questão social - na luta política das instituições - e epistemológica - no âmbito dos processos de conhecimento - para abordar a problemática do ensino de sociologia no ensino médio. Para tanto, sobre “O Papel atribuído a sociologia em quatro modelos de currículos” podemos compreender como o ensino de sociologia tem sido compreendido no interior de diferentes dispositivos pedagógicos e de diferentes modelos de currículos do ensino médio. Por meio de quadros expositivos e tabelas identificamos quatro modelos de currículos que vem sendo “gestados” ao longo da História do Brasil, que são: currículo clássico-cientifico, currículo tecnicista (regionalizado), currículo das competências (regionalizado) e o currículo cientifico. A autora explicará cada um deles nos quatro capítulos seguintes.
No trecho “Os currículos clássico-científico: identidades pedagógicas baseadas nas disciplinas” vemos o esforço dos intelectuais em cientifizar o pensamento sobre a realidade social do país (ensino de sociologia), numa tentativa de “acompanhar” os processos de modernização do capitalismo. As identidades pedagógicas iam se desenvolvendo, então, a partir deste sentido de nação e modernidade, dependente das “ciências de referência (FERNANDES, 1980; PINTO, 1947). Em “Currículos tecnicistas: identidades pedagógicas baseadas nas regiões de conhecimentos aplicados” caminhamos mais a frente na história para a época dos governos militares, onde há um esvaziamento cientifico prevalecendo os estudos de “instrução programada” das Ciências Sociais, como a matéria de Educação Moral e Cívica substituindo o que seria o ensino de sociologia e filosofia, estabelecendo o que chamamos de currículo tecnicista. Isto faz com que as políticas oficiais reprimam e absorvam as identidades pedagógicas dos diferentes campos do saber. Um trecho importante de destacar que nos possibilita relacionar com nossa atual situação brasileira do ensino de sociologia EaDs (Ensinos à Distância):
Ressaltando-se que, a formação de professores nessa perspectiva pode ser aligeirada, ser simplificada, porque os professores devem dominar apenas as técnicas de reprodução dos módulos e exercícios previamente determinados. O professor seria técnico e não o intelectual que dominaria suas ferramentas. Os professores formados nesses cursos de finais de semana, de licenciatura curta e/ou à distância estão ainda atuando. A geração atual, formada no ensino de 1.º e 2.º grau desses currículos, ainda, estão atuando, nós estamos nas escolas. Isso significa que aquele currículo tecnicista está em nós ainda. (pág. 413)
Em “Currículos científicos - identidades pedagógicas baseadas nas disciplinas”, a partir de 1988, são realizadas diversas reformas pedagógicas visando a redemocratização pós ditadura militar para superar o período de educação esvaziada e sem sentido. Marcada por uma “gama variada de teorias e propostas que estão em disputa até hoje.” (pág. 414), e a principal característica foi a politização do ensino e educação, inclusive dos conteúdos de Sociologia para o Ensino Médio (2ºgrau). “A promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em dezembro de 1996, impulsionará o debate para o âmbito nacional.” (pág. 415). “Currículos das competências - identidades pedagógicas baseadas nas regiões dos conhecimentos” nos mostra, entretanto, que este processo foi atropelado pela crescente ideia de currículo baseado no desenvolvimento das competências, que retoma a ideia de currículos regionalizados, baseados em conhecimentos aplicados a realidade imediata (tecnicista), interrompendo a elaboração dos currículos científicos, consagrando o que a autora chama de “currículo das competências.” Onde a professora agora, além de técnica, ganha o papel de entreter. No currículo das competências a sociologia e as ciências sociais se tornam disciplinas optativas, mantendo a sociologia instabilizada, o que dificulta também a articulação da classe em prol de uma consolidação.
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