A (in)Segurança Em Questão
Artigo: A (in)Segurança Em Questão. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: wriskyx • 2/5/2013 • 1.090 Palavras (5 Páginas) • 815 Visualizações
Entendendo a Nossa Insegurança
de LÚCIOEMÍLIOESPÍRITOSANTO& AMAURIMEIRELES
Belo Horizonte: Ed. Instituto Brasileiro de Policiologia, 2003, 424p.
sensação que se tem, na leitura do livro Entendendo a
Nossa Insegurança, de autoria dos coronéis Lúcio Emílio
do Espírito Santo e Amauri Meireles, é uma mistura de
mal-estar, indignação, resignação e esperança acerca da
segurança, ou melhor dizendo, da (in)segurança pública.
Explico melhor: trata-se de uma obra indispensável
àqueles que estão discutindo os mitos que, há anos, in-vadem o cenário das políticas públicas de segurança no Brasil. Entre tan-tos outros mitos, encontrados em projetos políticos e estudos acadêmi-cos, os autores salientam ser necessária e obrigatória a discussão do lugar
da polícia no espectro da chamada defesa anti-infracional, isto é, um con-junto de ações e mecanismos destinados a controlar as ameaças ao corpo
social e à liberdade dos indivíduos.
“A defesa anti-infracional se organiza sob a forma de um grande
sistema pluri-institucional, vinculando a polícia preventiva, a polícia
judiciária, o ministério público, a justiça criminal, a defensoria pública
e a administração prisional” (p. 59). O argumento é bom, especialmen-te quando se sabe que o aumento do efetivo da polícia e o investimento
em maiores recursos materiais não causam o esperado declínio nos ín-dices de criminalidade e do medo.1
A polícia não deve caminhar nesse
sentido. Cumpre à instituição a garantia do sentimento de segurançae,
mais do que nunca, cabe aos órgãos públicos – e, no caso, não só àque-les associados a “defesa e segurança social” – participar dessa sempre e
novaempreitada.
O livro é didático e, ao mesmo tempo, instrutivo. Os autores não
economizaram linhas – em 424 páginas – para descrever o que chamam de
a grande reforma policial, iniciada em 1967, a teoria do vértice de causas e
efeitos do crime, a descrição e evidência de um conjunto de conceitos que
há muito recebem diversas roupagens no campo acadêmico e, entre tantos
outros assuntos, o denominado por eles de conhecimento policiológico.
Em meio a palavras e conceituações cuidadosas, não deixaram de
chamar a atenção para inúmeras controvérsias que invadem as políticas
1
KELLING et al., 1974; BEATO FILHO, 2002.
LÚCIO ALVES
DE BARROS
Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG/MG)
lucba@terra.com.br
A
124 Impulso, Piracicaba, 15(37): 123-125, 2004
públicas, no tocante às “soluções” criadas para
equilibrar os índices de criminalidade e aumento
da violência. Nesse caminho, Espírito Santo e
Meireles não pouparam críticas ao Estado Brasi-leiro – deficiente nos campos normativo, cogni-tivo e pragmático da defesa social – que não sou-be ou não teve o interesse em aproveitar os di-versos projetos e iniciativas públicas/institucio-nais que deram resultado no Brasil e, notadamen-te, em Minas Gerais. Existe muita experiência,
mas faltam o conhecimento sistematizado e a
efetiva implementação e “vontade” política de
equacionar tal problema.
Dois argumentos aparecem de forma con-tundente na obra. O primeiro refere-se ao lugar
destinado aos municípios no sistema de defesa
social: “Tanto o executivo quanto o legislativo ig-noraram a histórica exclusão do município (...),
restringindo a contribuição inestimável dos níveis
comunitários locais na prevenção, repressão ou
sustimento de infrações administrativas e desvios
de conduta – que, crescendo, transformaram-se
em fatores geradores de insegurança – o que po-derá estar sendo corrigido com o novo sistema de
defesa social” (p. 17). Já o segundo diz respeito à
famigerada divisão de atribuições entre a polícia
civil (de conteúdo investigatório e judicial) e a
polícia militar (responsável pela prevenção e re-pressão aos delitos).
Apesar de não deixarem de lado os proble-mas cotidianos presentes nas relações entre essas
duas forças, creio que os autores reduziram a
problemática ao que chamam senso de historicida-de, evidenciando a questão política em detrimen-to dos obstáculos gerenciais que operam nessas
instituições.
Espírito Santo e Meireles são convincentes
ao relacionar uma série de fatores que interferem
no aumento da criminalidade e da violência. Não
esqueceram que o “crime é normal”,
2
ou seja, que
“é preciso ver o crime como transgressão a uma
regra de convivência, possibilidade presente na
vida
...