ARGONAUTAS DO PACÍFICO OCIDENTAL: UM RELATO DO EMPREENDIMENTO E DA AVENTURA DOS NATIVOS NOS ARQUIPÉLAGOS DA NOVA GUINÉ MELANÉSIA
Por: Letícia Costa • 3/11/2022 • Resenha • 10.613 Palavras (43 Páginas) • 134 Visualizações
FUNCIONALISMO
- BRONISLAW KASPER MALINOWSKI, 1884-1942.
“ARGONAUTAS DO PACÍFICO OCIDENTAL: UM RELATO DO EMPREENDIMENTO E DA AVENTURA DOS NATIVOS NOS ARQUIPÉLAGOS DA NOVA GUINÉ MELANÉSIA”;
Traduções de Anton P. Carr e Lígia Aparecida Cardieri Mendonça: revisão de Eunice Ribeiro Durham – 2ed. São Paulo; Abril Cultural, 1978.
- Prefácio de Sir James George Frazer
MALINOWSKI (1884-1942)
VIDA E OBRA (consultoria de Eunice Ribeiro Durham)
- INOVAÇÃO DE MALINOWSKI.
- Com a publicação de “Os Argonautas do Pacífico Ocidental”, inova não só contribuindo para a etnografia da Melanésia, mas também revoluciona a literatura antropológica.
- A monografia ultrapassa o círculo restrito de especialistas em Antropologia até então. Antes dele, apenas Morgan e depois Levi-Strauss, tenham repercutido tanto os seus trabalhos, entre não só acadêmicos, mas também entre o público leigo.
- Essa inovação e popularidade, tanto no caso de Malinowski quanto os outros dois autores, se caracteriza por conta de apresentarem uma nova forma de compreender o comportamento humano e em uma nova visão do homem.
- Com os Argonautas, se desfaz definitivamente a visão das sociedades tribais como fósseis vivos do passado do homem, como se fossem peças de museu (visão evolucionista), que tivessem apenas um aglomerado de crenças e costumes irracionais e desconexos. Os costumes e crenças dessas sociedades adquirem agora significados e o comportamento como ação coerente e integrada. A etnografia adquirindo a capacidade de reconstruir e transmitir uma experiência diversa da nossa, que não é menos rica ou menos humana.
- Essa inovação não resulta de uma intuição, mas sim de um esforço e como produto de uma reflexão laboriosa, com a implementação de novas técnicas de investigação e novos métodos de interpretação, apresentado na obra (na introdução). A mistura de objetividade científica e vivencia pessoal, humildade transparece na introdução e revela muito da personalidade de Malinowski.
- Professor brilhante, conferencista magnífico, polemicista apaixonado. Malinowski possuía a capacidade de simpatia e de intolerância. Teve discípulos fervorosos e adversários ferrenhos. O próprio caráter polêmico, complexo e por vezes contraditório da obra provoca admiração e também críticas impiedosas que marcam as avaliações da contribuição científica de Malinowski.
- A extraordinária vivacidade e penetração da análise etnográfica colocam problemas teóricos importantes que permanecem até hoje. Já as tentativas de sistematização teórica, principalmente em relação ao método funcionalista, dois dos quais foram publicações póstumas, estão cheias de contradições e generalizações que obscurecem o alcance e importância das questões levantadas nos trabalhos etnográficos. Por isso a apreciação do que existe de vivo e provocante na sua obra só pode ser feito através da leitura de “Os Argonautas do Pacífico Ocidental” (seria sua obra de maior relevância).
- NOVAS BASES DA ANTROPOLOGIA
- Formação inicial de Malinowski foi em ciências exatas, obtendo em 1908 grau de doutoramento em física e matemática, com 24 anos, pela Universidade de Cracóvia (Polônia), sua cidade natal.
- Problemas de saúde, saúde debilitada. Interrompe sua carreira científica depois de formado por motivos de saúde. Como não podia trabalhar, leu como distração “O Ramo de Ouro” do James Frazer, que o atraiu para a Antropologia e exerceu influencia profunda na sua formação.
- Em Leipzig (Alemanha), inicia os estudos em Antropologia e em 1910 já estava na Inglaterra, estudando na London School of Economics como aluno de pós-graduação.
- Em menos de 3 anos, Malinowski já era reconhecido com antropólogo promissor e de grandes qualidades intelectuais. Publica 3 artigos e um livro. E em 1913 já começa a dar aulas, ministrando entre 1913 e 1914 dois cursos na London School of Economics, como Lecture[1] on Special Objects. Nesse período tem contato com os maiores antropólogos[2] da época Seligman[3], Haddon[4], Rivers[5], Frazer e Marett[6]. Especialmente com Seligman, mantinha bastante contato, assim como com Westermarck[7] que prefacia seu primeiro livro “A família entre os aborígenes Australianos”.
- O início da carreira de Malinowski coincide com um período de grande efervescência na antropologia, por conta do desenvolvimento de novas técnicas de pesquisa e pela crítica dos métodos de interpretação vigentes. (evolucionismo).
- Até o fim do século XIX, a quase totalidade dos antropólogos nunca havia sequer visto um representante dos chamados povos primitivos sobre os quais estudavam. (antropologia de gabinete). Se baseavam somente em material histórico e arqueológico sobre as civilizações clássicas e orientais e em informações sobre sociedades tribais contidas em relatos de viajantes, colonos, missionários e funcionários de governos coloniais. (exceção de Morgan que trabalhou com informantes iroqueses; Cushing que vivera cinco anos com os índios Zuni). Com Boas a tradição de trabalho de campo se estabelece definitivamente, entre 1883-1884, com sua pesquisa entre os esquimós e pesquisas de campo entre os índios da conta noroeste.
- no fim do século, começa a multiplicar-se também na Europa trabalhos de antropólogos e estudiosos, missionários com formação antropológica com observações feitas diretamente sobre populações tribais.
- Em 1899, há as extensas investigações desenvolvidas por Spencer e Gillen[8] entre os aborígenes australianos, que demonstra a potencialidade do trabalho de campo e a importância das informações obtidas por meio da observação direta para a resolução de problemas teóricos postos pela antropologia. Essa obra inspira pelo menos 3 grandes trabalhos, cada um dos quais foi revolucionário no seu campo: “As formas elementares da vida religiosa”- Durkheim; “Totem e Tabu” – Freud”; A família entre os aborígenes australianos” – Malinowski, primeira obra. Todos publicados em 1913.
- A publicação do obra de Spencer e Gillen coincide com a famosa Expedição de Cambrigde ao estreito de Torres (entre Autrália e Nova Guiné) em 1888-1889, organizada por Haddon, e que participaram Seligman[9] e Rivers[10]. Tratava-se de uma equipe de renomados especialistas realizando um séries de investigações científicas na região.
- Então quando Malinowski chega à Inglaterra, todos esses pioneiros já estavam formando a primeira geração de investigações de campo, e Radcliffe-Brown (1881-1954) havia acabado de concluir sua pesquisa entre os Andamaneses, realizada entre 1906 e 1908, publicada somente em 1922.
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