Análise Da Obra "Discurso Sobre As Ciências" De Boaventura De Sousa Santos
Exames: Análise Da Obra "Discurso Sobre As Ciências" De Boaventura De Sousa Santos. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: ADRIANAAZEVEDO • 2/12/2014 • 2.831 Palavras (12 Páginas) • 872 Visualizações
Análise da Obra "Discurso sobre as Ciências" de Boaventura de Sousa Santos
1. INTRODUÇÃO
A obra “Um discurso sobre as Ciências” retrata a crise de identidade das ciências na atualidade, analisa aspectos históricos das ciências naturais e sociais e, borda o contexto científico atual e as perspectivas para o futuro.
Inicialmente, Boaventura preconiza a existência de uma fase de transição entre “tempos” científicos. No intuito de facilitar a compreensão, o autor, faz alusão a Rousseau. Na obra “Discours sur Le Sciences et lês Arts”, de 1750, Rousseau buscou respostas por meio de perguntas elementares e simples. A obra em comento estrutura-se da seguinte maneira:
• caracteriza a ordem científica hegemônica;
• analisa, sob condições teóricas e sociológicas, a crise dessa hegemonia;
• propõe um perfil de uma ordem científica emergente, novamente sob condições teóricas e sociológicas.
1.2. O PARADIGMA DOMINANTE
Tratada na obra como “O paradigma dominante”, a ordem científica dominante, reflete o modelo de racionalidade herdado do século XVI e consolidado no século XIX. Assim, essa nova racionalidade científica vislumbra a forma de se alcançar o conhecimento verdadeiro, decorrente da aplicação de seus princípios epistemológicos e de suas regras metodológicas. Todavia, trata-se de um modelo totalitário. Esta nova percepção de mundo apresentava distinções fundamentais aos modelos de “saberes” aristotélicos e medievais. Desta feita, opunham-se conhecimento científico e conhecimento do senso comum, ou seja, duvidava das evidências da experiência imediata e do senso comum. Procurava respostas na observação científica sistemática, rigorosa e controlável dos fenômenos naturais. Também, opunham-se natureza e pessoa humana, ou seja, buscava conhecer a natureza para poder controlá-la e dominá-la.
Empregava, como instrumento privilegiado de análise, a matemática, para que ocorresse uma observação e experimentação que levasse a um conhecimento mais profundo e rigoroso da natureza. A matemática autorizava que a natureza e seus fenômenos, fossem analisados e estruturados sob dois pilares, quais sejam a quantificação como sinônimo de conhecimento, pelo emprego rigoroso das medições e a redução da complexidade do mundo, por meio da divisão e classificação sistemática, visto que tinha como divisão primordial aquela entre condições iniciais, ou seja, reino da complicação e do acidente, onde é necessário selecionar as condições a serem observadas e, leis da natureza, o que significa dizer, reino da simplicidade e da regularidade, possibilitando observar e mensurar de forma rigorosa a natureza.
O conhecimento das leis da natureza, o isolamento das condições iniciais relevantes, a produção de resultados independentemente do lugar e tempo das condições iniciais, o conhecimento causal da ciência moderna - que buscava entender o “como” ao invés do “por quem” ou “para que”- promoveram, dentre outras consequências, a previsibilidade dos fenômenos naturais. Assim, por intermédio da previsibilidade que se consolidou o conhecimento na idéia de ordem e estabilidade do mundo, sendo este “estável” e “determinável” por meio de leis físicas e matemáticas que poderiam o decompor. Nasce o fundamento do chamado determinismo mecanicista que sustentará a ciência moderna - o mundo-máquina - com a sua ideia de um mundo cognoscível pela decomposição dos seus elementos constituintes.
Por tratar-se de um modelo de racionalidade hegemônica da época, a ciência moderna, através de precursores, tais como, Bacon, Vico e Montesquieu, não tardou a penetrar no campo do comportamento social. Segundo Boaventura “tal como foi possível descobrir as leis da natureza, seria igualmente possível descobrir as leis da sociedade”.
Nasce, então, na meta do século XIX, as chamadas ciências sociais, que assumiriam duas correntes distintas de absorção do modelo mecanicista. Uma aplicava os princípios epistemológicos e metodológicos do estado da natureza, ou seja, ciências sociais como extensão das ciências naturais. Já a outra corrente estabelecia uma metodologia própria para as ciências sociais, baseada, como preconiza Boaventura, na “especificidade do ser humano e sua distinção polar em relação à natureza”.
A aplicação de um modelo de ciências sociais construído a partir de pressupostos das próprias ciências naturais, tendo assim, um caráter de conhecimento universalmente válido. Boaventura sinaliza que ao esclarecer essa corrente, “por maiores que sejam as diferenças entre os fenômenos naturais e sociais é sempre possível estudar os últimos como se fossem os primeiros”. Apesar das dificuldades, esta primeira vertente admite a possibilidade das ciências sociais se compatibilizarem com os critérios rigorosos das ciências naturais. Durkheim e Ernest Nagel comungam com esta vertente.
Uma segunda linha de pensamento defende uma metodologia própria, onde as dificuldades em compatibilizar os dois campos das ciências, naturais e sociais, são instransponíveis. Tem-se que o fundamento deste pensamento é a subjetividade do comportamento humano que ao se revestir de complexa estrutura, não poderá ser analisado e explicado da mesma maneira que se explica a natureza, ou seja, pelas suas características exteriores observáveis. Como preconiza o autor, a segunda corrente, qual seja, a ciência social “será sempre essa ciência subjetiva e não objetiva como as ciências naturais; tem de compreender os fenômenos sociais a partir das atitudes mentais e do sentido que os agentes conferem às suas ações, para o que é necessário utilizar métodos de investigação e mesmo critérios epistemológicos diferentes das correntes nas ciências naturais”. Cita-se Max Weber e Peter Winch como doutrinadores dessa corrente.
Cumpre ressaltar que, embora pareçam diversas ambas as correntes estudadas dão maior relevância às ciências naturais do que às ciências sociais. Realmente, a segunda vertente serviria como prenúncio da crise do modelo até então dominante.
1.2. A CRISE DO PARADIGMA DOMINANTE
Pode-se afirmar que a crise do modelo hegemônico se deu em virtude da interatividade de uma série de condições teóricas e sociais. Segundo o autor, quatro condições teóricas contribuíram para a crise do paradigma dominante:
• a teoria da relatividade de Einstein;
• a mecânica quântica;
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