Resenha - Um Discurso sobre as Ciências - Boaventura
Por: Cah_ • 21/11/2016 • Resenha • 1.218 Palavras (5 Páginas) • 1.617 Visualizações
Na obra “Um Discurso sobre as Ciências”, Boaventura, inicialmente, comenta sobre a incerteza das ciências sobre sua identidade e expectativas para o futuro, como valores e progresso. O autor fala atentamente sobre ambiguidade e complexidade dos tempos científicos. Boaventura chegou a usar exemplos de Rousseau, em Discours sur les Sciences et les Arts, de 1750, que buscava novas respostas com perguntas elementares. Seu discurso é então estruturado a partir de três enfoques: o paradigma dominante, a crise do paradigma dominante e o paradigma emergente.
O paradigma dominante, dito como ordem científica hegemônica, se refere ao modelo de racionalidade da ciência moderna a partir do século XVI que se durante os séculos e se estabilizou no século XIX. Esse modelo de racionalidade aponta uma forma singular de chegar ao verdadeiro conhecimento, a que seus a aplicação de seu princípios epistemológicos e metodologias, definindo-se então como modelo totalitário.
Para portar um melhor e mais rigoroso conhecimento sobre a naturezas, a matemática foi usada como instrumento de análise, pois ela permitia a observação dos fenômenos da natureza, assim derivando duas consequências:1- quantificação como sinônimo de conhecimento; 2- redução da complexidade do mundo, pois a mente humana não pode entendê-lo por completo.
A descoberta das leis da natureza, o isolamento das condições iniciais relevantes, a produção de resultados independentemente do lugar e tempo das condições iniciais, o conhecimento causal da ciência moderna promoveram, a previsibilidade dos fenômenos naturais.
"[…] o resultado se produzirá independentemente do lugar e do tempo em que se realizarem as condições iniciais."(p. 29)
Então o determinismo mecanicista que irá sustentar a ciência moderna com a sua noção de um mundo que se pode conhecer pela decomposição dos elementos que o formam.
Em seu modelo de racionalidade hegemônica da época, a ciência moderna, por intermédio de Bacon, Vico e Montesquieu, não demorou a tornar "flexível" o campo do comportamento social. A ciência moderna transbordou do estudo da natureza para o estudo da sociedade, como afirma o autor, “Tal como foi possível descobrir as leis da natureza, seria igualmente possível descobrir as leis da sociedade."(p.32).
Realiza-se, pela metade do século XIX, a emergência das ciências sociais, das quais mostram duas correntes distintas de absorção do modelo mecanicista.
A primeira, cujo o compromisso intelectual está bem simbolizado como "física social" que inicialmente se designaram os estudos científicos da sociedade, parte da hipótese que as ciências naturais têm um caráter de conhecimento universalmente válido. Apesar das dificuldades, essa variante aceita a possibilidade de as ciências sociais se compatibilizarem com as bases rigorosas das ciências naturais. Como Boaventura colocou, “por maiores que sejam as diferenças entre os fenômenos naturais e sociais é sempre possível estudar os últimos como se fossem os primeiros."
A segunda reivindica para as ciências sociais uma metodologia própria. Nela as dificuldades em compatibilizarem-se os dois campos das ciências são insuperáveis. O fundamento detrás desse pensamento é a subjetividade do comportamento humano, o qual, revestindo-se de complexa estrutura, não pode ser analisado e explicado da mesma maneira que é explicada a natureza. A sociedade, em seu comportamento, está em constante mudança. Como Boaventura coloca, “a ciência social será sempre essa ciência subjetiva e não objetiva como as ciências naturais; tem de compreender os fenômenos sociais a partir das atitudes mentais e do sentido que os agentes conferem às suas ações, para o que é necessário utilizar métodos de investigação e mesmo critérios epistemológicos diferentes das correntes nas ciências naturais. “(p. 38)
O paradigma dominante”, trata-se do modelo de racionalidade no qual acreditava-se que poderíamos abarcar todos os conhecimentos a partir de um método rigorosamente científico.
Na crise do paradigma dominante, proveniente da “comunicação” de condições teóricas e condições sociais. Em sua obra, o autor enfatiza quatro condições teóricas que vieram a contribuir para a crise. Sendo elas:
- a teoria da relatividade de Einstein; que se refere à divisão feita por Einstein entre simultaneidade de eventos no mesmo local e em lugares distintos. “Não havendo simultaneidade universal, o tempo e o espaço absoluto de Newton deixam de existir. “(p.43). Portanto, as leis da físicas e da geometria só podem ser válidas para um único sistema de referencias e estas não se convertem.
- a mecânica quântica; condição baseada no princípio da incerteza de Heisenberg e teoria de Bohr, constatando a impossibilidade de observar ou medir um objeto sem interferir nele. Ele mostra as principais consequências trazidas por essa condição teórica. 1- Sendo estruturalmente limitada o rigor de nosso conhecimento, só aspiramos a resultados próximos, então leis da física são meramente probabilísticas; 2- o determinismo mecanicista é inviabilizado uma vez que a totalidade do real não é reduzível
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