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Uma Breve Análise Do "Discurso Sobre As Ciências" De Boaventura De Sousa Santos

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Por:   •  9/3/2014  •  2.829 Palavras (12 Páginas)  •  959 Visualizações

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Uma Breve Análise do "Discurso sobre as Ciências" de Boaventura de Sousa Santos

A resenha desta obra será feita da seguinte maneira: inicialmente farei um resumo abrangendo os três pontos centrais da obra (“O paradigma dominante”, “A crise do paradigma dominante”, “O paradigma emergente”), posteriormente, irei expor considerações críticas. Saliento que os dois primeiros capítulos serão tratados com maiores detalhes na parte do resumo. Deixarei para analisar e esclarecer o terceiro capítulo na parte crítica deste trabalho, juntamente com as exposições de minhas idéias sobre o assunto/texto.

1. INTRODUÇÃO

A obra “Um discurso sobre as Ciências” apresenta em suas primeiras páginas a crise de identidade das ciências no tempo em que vivemos. Esse assunto será desdobrado ao longo da obra, sendo analisados aspectos históricos das ciências naturais e sociais, bem como o atual contexto cientifico em que nos encontramos e as perspectivas para o futuro.

O autor sustenta, inicialmente, que nos encontramos em uma fase de transição entre “tempos” científicos. Para uma melhor compreensão, Boaventura utiliza-se do exemplo de Rousseau, que na obra “Discours sur Le Sciences et lês Arts”, de 1750, buscou respostas por meio de perguntas elementares e simples. Para tanto, o autor estrutura a sua obra da seguinte maneira: 1º) caracteriza a ordem científica hegemônica; 2º) analisa, sob condições teóricas e sociológicas, a crise dessa hegemonia; 3º) propõe um perfil de uma ordem científica emergente, novamente sob condições teóricas e sociológicas.

2. O PARADIGMA DOMINANTE

A ordem científica dominante, tratada na obra como “O paradigma dominante”, diz respeito ao modelo de racionalidade herdado a partir do século XVI e consolidado no século XIX. Essa nova racionalidade científica vislumbra uma única forma de se atingir o conhecimento verdadeiro, aquela decorrente da aplicação de seus próprios princípios epistemológicos e de suas regras metodológicas. Sendo um modelo totalitário, esta nova visão de mundo apresentava distinções fundamentais aos modelos de “saberes” aristotélicos e medievais: 1º) opunham-se conhecimento científico e conhecimento do senso comum (desconfiava-se das evidências da experiência imediata e do senso comum e buscava-se respostas na observação científica sistemática, rigorosa e controlável dos fenômenos naturais); 2º) opunham-se natureza e pessoa humana (buscava-se conhecer a natureza para poder controlá-la e dominá-la).

Para que ocorresse uma observação e experimentação que levasse a um conhecimento mais profundo e rigoroso da natureza, empregava-se, como instrumento privilegiado de análise, a matemática. A matemática permitia que a natureza, bem como os seus fenômenos, fossem analisados e estruturados sob dois pilares: 1º) quantificação como sinônimo de conhecimento, pelo emprego rigoroso das medições; 2º) redução da complexidade do mundo, por meio da divisão e classificação sistemática (tendo como divisão primordial aquela entre condições iniciais (reino da complicação e do acidente, onde é necessário selecionar as condições a serem observadas) e leis da natureza (reino da simplicidade e da regularidade, onde há a possibilidade de se observar e medir de forma rigorosa a natureza).

A descoberta das leis da natureza, o isolamento das condições iniciais relevantes, a produção de resultados independentemente do lugar e tempo das condições iniciais, o conhecimento causal da ciência moderna (que busca entender o “como” ao invés do “por quem” ou “para que”) promoveram, dentre outras conseqüências, a previsibilidade dos fenômenos naturais. É por meio dessa suposta previsibilidade que se firmou o conhecimento na idéia de ordem e estabilidade do mundo, sendo este “estável” e “determinável” por meio de leis físicas e matemáticas que poderiam o decompor. Eis aí o fundamento do chamado determinismo mecanicista que irá sustentar a ciência moderna (o mundo-máquina) com a sua idéia de um mundo cognoscível pela decomposição dos seus elementos constituintes.

Por se tratar de um modelo de racionalidade hegemônica da época, a ciência moderna, por intermédio de precursores como Bacon, Vico e Montesquieu, não demorou a permeabilizar o campo do comportamento social. Como bem afirma o autor, “tal como foi possível descobrir as leis da natureza, seria igualmente possível descobrir as leis da sociedade”(1).

Decorre daí, em meados do século XIX, a emergência das chamadas ciências sociais, as quais assumiriam duas correntes distintas de absorção do modelo mecanicista: 1ª) aplicava, dentre as possibilidades existentes, os princípios epistemológicos e metodológicos do estado da natureza (ciências sociais como extensão das ciências naturais); 2ª) estabelecia uma metodologia própria para as ciências sociais, com base na “especificidade do ser humano e sua distinção polar em relação à natureza”(2).

A primeira vertente defendia a aplicação de um modelo de ciências sociais erigido a partir de pressupostos das próprias ciências naturais, tendo portanto um caráter de conhecimento universalmente válido. Como bem assinala Boaventura, ao esclarecer essa corrente, “por maiores que sejam as diferenças entre os fenômenos naturais e sociais é sempre possível estudar os últimos como se fossem os primeiros”(3). Apesar das dificuldades, essa vertente admite a possibilidade de as ciências sociais se compatibilizarem com os critérios rigorosos das ciências naturais. Dessa vertente fazem parte Durkheim e Ernest Nagel.

A segunda vertente irá defender uma metodologia própria, na qual as dificuldades em compatibilizarem-se os dois campos das ciências, naturais e sociais, são instransponíveis. O fundamento detrás desse pensamento é a subjetividade do comportamento humano, o qual, revestindo-se de complexa estrutura, não pode ser analisado e explicado da mesma maneira que é explicada a natureza (por suas características exteriores observáveis). Como ressalta o autor, ao explicar a segunda corrente, “a ciência social será sempre essa ciência subjetiva e não objetiva como as ciências naturais; tem de compreender os fenômenos sociais a partir das atitudes mentais e do sentido que os agentes conferem às suas ações, para o que é necessário utilizar métodos de investigação e mesmo critérios epistemológicos diferentes das correntes nas ciências naturais”(4). Como doutrinadores dessa corrente pode-se citar Max Weber e Peter Winch.

Apesar de serem aparentemente

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