Análise Sociológica - Origem e evolução das cidades
Por: Eliézer Moura • 10/1/2018 • Resenha • 2.192 Palavras (9 Páginas) • 761 Visualizações
Referência bibliográfica: DAYS, K. et al. Origem e evolução das cidades. In: SJOBERG, Gideon. CIDADES: A Urbanização da Humanidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1977. 3ª edição, p. 36-51.
A ocupação do espaço urbano pelo homem remonta a cerca de 5.500 anos, no entanto o significativo crescimento da população urbana somente iniciou na primeira metade do século XIX. Para entender a evolução desse processo, importa saber: i) que fatores contribuíram para o aparecimento da cidade[1] e ii) quais os estágios intermediários das cidades até a época moderna da urbanização (p. 36).
Intimamente ligados a essas duas questões estão três níveis de organização humana, cada qual caracterizado por seus padrões econômicos, sociais, políticos e tecnológicos. O menos complexo deles é a “sociedade de gente”, de caráter pré-urbano, em que antecede à educação, tipicamente formada por pequenos grupos homogêneos e autossuficientes, voltados à busca da alimentação (p. 36).
Com a preocupação em torno da subsistência (busca de alimentos), esse tipo de sociedade não favorecia de nenhum modo o aparecimento da especialização do trabalho e da estratificação social. Esses grupos, porém, desencadearam o processo de evolução a ponto de transformarem-se em sociedades cada vez mais complexas, vindo estabelecer vilas e organizar e aperfeiçoar suas técnicas. (p. 36-37).
A partir disso, surge o segundo nível de organização humana, qual seja a sociedade pré-industrial ou “feudal”, em que se permite acumular alimentos oriundos da agricultura e da criação. Resulta daí a especialização do trabalho e a estrutura de classes que, dentre outras ações, pôde condicionar a liderança e organizar a mão de obra para o sistema de irrigação, o que permitiu a maior produção de alimentos.
Conforme Sjoberg, esse tipo de sociedade pré-industrial dispõe de metalurgia, do arado e da roda, cujos elementos possibilitam o aumento da produção e da distribuição de alimentos. Tais condições, somadas a dois outros fatores, quais sejam a palavra escrita e a escassez de fontes de energia, com predomínio da força física (braçal), da força do vento e, em outros casos, do uso da água -, permitiram o aparecimento das primeiras cidades (p. 37).
Vale notar, ainda, que a palavra escrita, nessa sociedade “feudal”, serviu não apenas para manter a contabilidade, mas também se destinou a registrar os fatos históricos e o conjunto de leis à época vigentes. Por outro lado, a escrita foi um recurso importante para o uso literário e religioso, ficando a cultura, no entanto, extremamente limitada a uma pequena parcela da sociedade, a elite ociosa (p. 37).
Sjoberg aponta que o terceiro estágio social é marcado pelo surgimento da cidade industrial moderna, cujas marcas são a complexidade na organização humana, a educação das massas, o sistema de classes fluido e a tecnologia pautada no uso de novas fontes de energia, o que não significa, contudo, o desaparecimento das cidades pré-industriais (p. 37).
Além disso, é importante frisar que duas condicionantes foram essenciais para esse terceiro estágio de organização humana, a citar: i) o tipo especial de organização social que, a partir do avanço tecnológico, possibilitou a colheita, o estoque e a distribuição da produção, e ii) a existência de uma região com solos férteis e um adequado sistema hídrico (p. 38).
Essa estrutura social permitiu a organização da mão de obra para o desenvolvimento de grandes obras, como, por exemplo, construção de edifícios públicos, muralhas da cidade e sistema de irrigação. Para manter uma organização social com uma variedade de especialistas, haveria de existir uma elite governante que, embora numericamente pequena, detivesse o poder político[2] da comunidade (p. 38).
Sjoberg assevera que a linguagem escrita, em seu processo de evolução, acabou servindo como um fundamento conveniente, que as classes dominantes utilizaram, para estabelecer uma diferenciação entre as comunidades genuinamente urbanas daquelas que, embora com grandes dimensões espaciais e alta densidade populacional, foram consideradas quase-urbanas ou não-urbanas (p. 38).
Veja-se que a linguagem escrita propicia um avanço tecnológico, que, invariavelmente, reflete numa profunda transformação da ordem social, visto que a tradição escrita passa a ocupar o lugar da tradição oral, possibilitando, com isso, a criação de sistemas legais e administrativos mais complexos e o domínio da matemática, astronomia e outras ciências, fazendo surgir um variado número de especialistas.
Para Sjoberg, no vale compreendido pelos rios Tigre e Eufrates, formaram-se por volta de 3.500 A.C as primeiras civilizações, que dispunham de um adequado sistema de água e de generoso solo fértil. Muito contribuiu também para a formação das primeiras cidades a existência de cruzamentos de diversas estradas, a permitir uma boa comunicação entre povos de diferentes culturas (p. 38).
O intercâmbio de culturas foi fundamental para a evolução de vilas e povoados em grandes cidades, dentre elas a Suméria, Eridu, Erech, Lagash, Kish e Ur, que possuíam uma base cultural e técnica muito parecida. Importa destacar que o líder da comunidade detinha, a um só tempo, o poder secular e o poder religioso, e o tributo arrecado do campo ao deus da cidade era armazenado nos templos, características semelhantes a estas cidades (p. 39).
Em 3.100 A.C, conforme registros egípcios, já existiam comunidades urbanas na região do vale do Nilo, porém não é possível, consoante Sjoberg, afirmar se a formação de comunidades urbanas no Egito decorreu de uma disposição de seus nativos ou se foi uma ideia “importada” da Mesopotâmia, de maneira que não se pode concluir, com segurança, em qual delas teve início o processo de urbanização (p. 40).
Anterior à “descoberta” de Colombo, parece que a “difusão”, tal como ocorreu no mundo oriental, foi quase inexistente ou pouca influência exerceu sobre o processo de formação das cidades na América Central. Os povos dessa região – os maias e os astecas – desenvolveram grandes comunidades urbanas, com grande destaque paras as suas imponentes construções, que até pouco tempo era objeto de dúvida entre os estudiosos.
Observando-se agora os povos da América Central, estudos recentes apontam para a existência de comunidades urbanas. Antes, arqueólogos que estudaram ruínas destas civilizações não acreditavam na existência de cidades naquela região. Depois foi revelado que havia provas da existência de cidades como: Tical (Guatemala), Dzibilchaltun (cidade maia em Iucatão), Teotihuacán (atual cidade do México).
Durante o primeiro milênio A.D, estima-se uma população, em Teotihuacán, de aproximadamente 100.000 (cem mil) habitantes, que, embora poucos registros tenham sido identificados, detinham um razoável domínio da escrita. Sjoberg ressalta que a uso da escrita, da matemática, da astronomia e da precisão de cálculos do ano solar, são fatores suficientes para colocar os povos maias como civilização urbana (p. 42).
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