Catoliscimo Direitos Humanos E Sociais
Artigos Científicos: Catoliscimo Direitos Humanos E Sociais. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: lorettaguerra • 21/9/2014 • 5.101 Palavras (21 Páginas) • 423 Visualizações
Silêncios e diálogos: o catolicismo e a defesa dos direitos sociais e humanos ante à intolerância...
Horizonte, Belo Horizonte, v. 3, n. 5, p. 67-81, 2º sem. 2004 67
Silêncios e diálogos: o catolicismo e a defesa dos
direitos sociais e humanos ante à intolerância
política da ditadura militar no Brasil (1964-1985)
Lucília de Almeida Neves*
Mauro Passos**
RESUMO
Os anos 1964-1985 se caracterizam pela mobilização popular
e pela emergência de uma poderosa vontade de
mudança social. Queria-se uma libertação das opressões
históricas que a maioria do povo vinha sofrendo. Paradoxalmente,
foi um tempo de autoritarismo e desrespeito
aos direitos sociais e humanos. Este trabalho pretende
analisar o movimento do catolicismo brasileiro, especialmente
sua luta por esses direitos. Diversos aspectos atuam
e influenciam no contexto político-religioso desse
período. A reconstrução do significado desse movimento
valeu-se de ampla documentação. Apesar dos entraves e
das limitações, o catolicismo fez seu percurso e assinalou
um passo importante na trajetória histórica desse período.
Na compreensão e análise desse caminho, está a proposta
deste estudo
Palabras clave: Catolicismo; Direitos sociais e humanos.
Os muros permanecem
Calados e frios
Ao vento
Batem as bandeiras.
(HEINER MÜLLER)
A PALAVRA TOLERÂNCIA TEM uma história atormentada. Etimologicamente
vem do latim tolerantia, ae que significa constância
em sofrer. No Dicionnaire de l’Academie de 1694, a tolerância
é definida como a “indulgência para com o que não se pode impedir”.
No entanto, a Encyclopedie qualifica-a de “virtude”. Não
vem ao caso explicitar outros significados que o termo comporta,
considerando o aspecto que nos interessa para este estudo.
* Profa. Dra. Lucília
de Almeida Neves:
Professora do Mestrado
em Ciências
Sociais – Gestão das
Cidades e do Departamento
de História
da PUC Minas.
** Prof. Dr. Mauro
Passos: Professor do
Curso de Pedagogia
com Ênfase em Ensino
Religioso do Departamento
de Filosfia
e Teologia da
PUC Minas e Instituto
Santo Tomás de
Aquino (Ista).
Neves, L. A.; Passos, M.
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Em nossos dias, tornou-se base essencial das democracias atuais,
isto é, o respeito pelas opiniões do próximo. No aspecto religioso,
Antônio Houaiss esclarece a liberdade de cada um para
praticar a religião que professa. O teólogo católico Panikkart,
de pai hindu, afirmou em uma entrevista: “Uma religião que se
fecha fica sufocada e morre... Quem conhece apenas sua religião
nem mesmo a conhece” (DELUMEAU, 2000, p. 379).
A questão da defesa dos direitos dos cidadãos balança a marcha
do catolicismo no Brasil no período compreendido entre
1964 e 1985. O posicionamento da Igreja católica demonstra
seu envolvimento nessa causa, sua oposição ao regime e suas
inovações pastorais. Ela se torna muito mais popular assumindo
“a voz dos que não têm voz”, questionando, interrogando e exercendo
pressão e oposição contra as arbitrariedades do regime
militar. Eliseu Lopes, ex-domicano, faz a seguinte afirmação
sobre seu envolvimento em questões sociais e políticas durante
o regime militar: “Antes, eu nunca tinha me dado conta de uma
militância propriamente política. Mas também nunca tive muita
abertura para esse negócio, para questões de ordem política.
Quer dizer, eu comecei a sentir a barra através das pessoas. Através
das pessoas” (DEPOIMENTOS, 2000).
Este trabalho pretende analisar o movimento do catolicismo
brasileiro na luta pelos direitos humanos e sociais diante da intolerância
política orquestrada pelo regime militar. O binômio direitos
sociais e direitos humanos determina, neste texto, um mesmo
ponto de partida – o conceito, a perspectiva histórica e um
projeto a ser encarnado diante da intolerância política do regime
militar.
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