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Ciência, Sociedade E Latour

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Por:   •  31/3/2014  •  1.204 Palavras (5 Páginas)  •  443 Visualizações

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Ciência e Sociedade na concepção de Bruno Latour

Não existe Ciência, Tecnologia e Sociedade de forma separada uma da outra, mas sim uma aliança em redes sociotécnicas dos quais os agentes interagem e se articulam de forma a produzir o verdadeiro conhecimento científico dentro de um determinado contexto (Latour, 2000). O presente trabalho visa discutir o impacto que essa afirmação tem nos estudos da ciência, expondo a interpretação do autor sobre esse “fazer científico”.

Inicialmente Bruno Latour define sua metodologia de pesquisa questionando a própria ciência, fazendo de seu trabalho uma verdadeira etnografia de laboratório, participando de forma incisiva de todos os movimentos dos cientistas buscando as incertezas das ciências, tentando enxergar a prática científica por dentro. Latour fomenta nessa passagem um importante conceito, o “Construtivismo” em que a incerteza, dita anteriormente, é um dos fatores determinantes à construção de verdades.

Seguindo nessa lógica construtivista, uma das críticas propostas por esse modelo está nos “determinismos” da ciência, ou seja, um fator isolado não transforma a ciência, ao contrário de Schumpeter (1982) que acreditava que a economia era o fator determinante para o desenvolvimento científico, Latour vai oferecer outra abordagem em que a economia é simplesmente mais um condicionante social, juntamente com a própria ciência ou mesmo a sociedade, que age dentro de um dado contexto.

“Entenderemos por “desenvolvimento”, portanto, apenas as mudanças da vida econômica que nunca lhe forem impostas de fora, mas que surjam de dentro, por sua própria iniciativa (Schumpeter, 1982, p.47).”

Talvez um exemplo para elucidar esta passagem esteja na construção do metrô Aramis em Paris, abandonado na década de 1980. O motivo do abandono está no fato de que as alianças feitas para desenvolver esse projeto, tal qual a companhia de energia, responsável pelo alimento elétrico ao metrô, a companhia de transportes, encarregada da construção do projeto, a ciência, produzindo tecnologia e a prefeitura de Paris, agindo como órgão financiador, se fragilizaram, ou seja, o abandono se deu não por um fato específico, mas sim por uma fragilização dessas articulações, provindo de um contexto precário.

Dessa forma, são essas redes sociotécnicas – formadas a partir de articulações de diferentes agentes – dadas num determinado contexto que definem como serão as possíveis relações e explicam as circunstâncias de sucesso e fracasso, criando dessa forma acordos contingenciais.

O que Latour pretende ao atribuir essas relações sociotécnicas como importante condicionante científico é mudar o caráter dessa ciência. Ou seja, com essas relações deve-se transmitir os interesses de um setor para outro, deve-se estabelecer cadeias de interesse, de argumentos, de financiamentos, dentro de uma rede. O resultado desse caráter científico está na aproximação de interesses de setores diferenciados, fato este nomeado por “tradução”.

Com isso Latour cria dois modelos explicativos da ciência, o primeiro é o da “difusão” em que as práticas científicas percorrem um movimento linear na sua produção, ou seja, inventa-se algo, depois o fato é desenvolvido e, por último, ele é adaptado por meio de inovações e inserido no mercado. Contudo esse modelo explicativo é um tanto problemático e excludente. Problemático no que tange a atribuição do sentido econômico como agente de definição, mesmo que essa seja produto de uma negociação num dado contexto o caráter econômico é exaltado como principal agente; e é excludente pelo fato de não enxergar no contexto as redes sociotécnicas e outros agentes.

O segundo modelo é o chamado de “Translação”, o qual Latour propõe como objetivo principal a conjugação e aproximação de elementos dispersos, sendo este um modo de se produzir estratégias de um novo conhecimento científico. A pretensão do autor vai além do conceito de tradução, dito anteriormente como sendo uma aproximação de interesses entre agente diferenciados. A proposta do modelo de translação, nas palavras do próprio autor, é referente a

“interpretação dada pelos construtores de fatos aos seus interesses e aos das pessoas que eles alistam” (Latour, 2000, p. 178).

Dessa forma, o que está em voga são os desdobramentos dos atores em relação ás suas redes, modificando, deslocando e transladando seus vários interesses. Dessa forma o Construtivismo não se detém somente ao modelo linear de difusão, mas também no de translação, em que ocorre a aproximação de interesses diferenciados, tendo por orientação os contextos e seus diversos condicionantes.

No modelo de difusão, a sociedade é feita de grupos que têm interesses; esses grupos têm atitudes de resistência, aceitação ou indiferença em relação a fatos e máquinas, e estes têm sua própria inércia. Por conseguinte, temos ciência e técnica, de um lado, e sociedade,

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