Classificações Sociais Resumo Antonio Firmino da Costa
Por: major85 • 17/5/2016 • Trabalho acadêmico • 2.166 Palavras (9 Páginas) • 1.425 Visualizações
CULTURA E SOCIEDADE
4 – Classificações Sociais
(Texto nº 11 – Classificações Sociais – António Firmino da Costa)
- As classificações sociais são parte intrinsecamente constitutiva da sociedade. As classificações são sociais no sentido em que são feitas por pessoas vivendo em sociedade que as constroem com fins sociais; cognitivos, organizativos, comunicacionais, entre outros. Nas sociedades as construções estão por todo o lado, impregnam a vida social. Não se encontram apenas nos sistemas culturais mais elaborados elas estão também presentes, na vida social corrente, nas interacções quotidianas, no relacionamento informal (estas constituem a matéria prima de que se constroem todas as outras classificações). Exemplo disto, é a maneira como as pessoas tratam umas com as outras, ou se referem a terceiras, atribuindo estatutos de superioridade ou inferioridade social (umas distintas e outras vulgares, uma sérias outras desonestas, umas competentes outras incapazes, umas merecedoras de mais respeito e outras de menos).
As pessoas classificam-se em permanência umas às outras e também a si próprias, segundo variados sistemas de classificações, uns mais difundidos ou mais consensuais, outros divergentes, concorrentes ou contrapostos. É comum na sociedade as pessoas serem classificadas em ricas e pobres. Mas estas classificações podem ser mais finas. A anterior, conforme as circunstâncias e as necessidades de interacção, pode ser desdobrada em categorias: milionários, abastados, remediados, pobres, miseráveis ou outras. Num outro registo em parte sobreposto ao anterior, mas com conotação menos estritamente económica e mais relativa a estilos de vida e status sociais temos: tios, tias, patos bravos, bimbos, pimbas, chungas e todo uma série de rótulos semelhantes. Sinais do tempo de globalização, classifica-se também muito em inglês: vip, jetset, underclass, homeless, hippies, yupies, entre outros.
Os modos de classificação recíproca entre os jovens, por exemplo, são particularmente mutáveis e criativos. São classificações em que se vê bem que aquilo que está em causa não são apenas mapas cognitivos da sociedade, modos de descreverem a envolvente social e de nela se orientarem.
- As classificações não são apenas mapas cognitivos da sociedade, modos de descreverem a envolvente social e de nela se orientarem, são também juízos recíprocos, avaliações positivas e negativas, estratégias de afirmação e estigmatização, disputas de gostos, concorrência de estilos, lutas de poderes, processos de construção e destruição de identidades.
- Estas classificações são informais, são usadas em permanência na interacção social, estão inscritas nos padrões culturais vigentes em cada contexto social. As classificações dão socialmente eficazes, são mesmo uma das maneiras mais eficazes de “fazer coisas com palavras”. As classificações têm um carácter eminentemente performativo na prática social.
Quatro conclusões a respeito dos modos de ligação entre as classificações e a vida social, ou quatro dimensões constitutivas das classificações sociais:
- As classificações sociais como padrões de cultura socialmente partilhados: característica fundamental das classificações sociais significa que elas são variáveis de cultura para cultura e portanto socialmente contingentes, não são intemporais nem universais;
- As classificações sociais como modo de perceber o mundo, nomeadamente o mundo social. A sua formação decorre da experiência de vida, mas de uma experiência de vida, desde logo ela classificada, arranjada, simplificada e ordenada simbolicamente através de instrumentos culturais partilhados e, portanto, em contexto social. Sem sociedade não há classificações nem, por conseguinte, apreensão cognitiva do mundo culturalmente construída.
- As classificações sociais como instrumentos da acção social. As classificações, accionadas socialmente, na interacção corrente ou em circunstâncias extraordinárias, de forma prática e implícita ou de maneira intencional e reflexivamente manuseada, produzem efeitos sociais não menosprezáveis. Constituem um dos mais poderosos instrumentos de acção social, na sua variedade multiforme, na sua presença impregnada do quotidiano relacional, na sua eficácia simbólica, na sua capacidade performativa.
- As classificações sociais como objecto de transmissão social. Elas são apreendidas e interiorizadas através de processos de socialização, no quadro das chamadas instituições de socialização, por exemplo a escola a profissão. Apesar de constituírem nas sociedades actuais, duas das mais importantes instâncias de socialização, o contexto escolar e profissional, não são os únicos espaços de socialização nas sociedades. A família, grupos de pares, associações, locais de convívio, televisão, bibliotecas, internet, representam outros suportes de mecanismos de socialização, e portanto, de transmissão, aprendizagem e utilização de sistemas de classificação.
- Os sistemas culturais de classificação constituem-se com base nas formas de organização social. A classificação das coisas reproduz a classificação dos homens e esta é decalcada das suas formas de organização social. Tais classificações tendem a estender-se a todas as esferas da vida do universo. Além disso, se as classificações se estruturam segundo um modelo de base que lhes é fornecido pela sociedade, uma vez culturalmente sedimentadas não deixam de desenvolver as suas lógicas simbólicas próprias e de retroagir sobre a sociedade, contribuindo para a geração de novas formas e novas dinâmicas.
- A eficácia dos sistemas de classificações sociais decorre do facto de carrearem consigo a pressão que os colectivos sociais exercem sobre os seus membros.
- As classificações sócias inserem-se nas relações e nos processos sociais não só na dimensão cognitiva e comunicacional mas também na dimensão do poder e da dominação.
- No relacionamento social corrente, quer as próprias pessoas, quer os seus estilos de vida, os objectos que utilizam, as práticas que desenvolvem, os gostos que demonstram, tudo isto é alvo de classificação recíproca (e de auto-classificação), com utilização permanente de adjectivos que opõem: elevado ao rasteiro, refinado ao grosseiro, espiritual ao material, leve ao pesado, elegante ao fruste, excepcional ao banal. Segundo Bordieu, estes sistemas classificatórios organizam-se segundo um vector fundamental, o do “sentido de distinção”, o qual contrapõem o distinto ao vulgar, com as posições intermédias caracterizadas por uma pretensão à distinção que trai constantemente a vulgaridade mal disfarçada. Esta hierarquia classificatória dos estilos de vida corresponde, na sua lógica organizadora básica, ao modo como se estrutura o espaço social das condições de existência, ou, dito de outro modo, á estrutura das distribuições desiguais de recursos e das relações assimétricas de poderes. Este eixo classificatório tende, nas sociedades contemporâneas, a ser cruzado por um outro, aquele que remete para a contraposição entre dois tipos de recursos e dois princípios de dominação: o económico e o cultural. É nesta linha que se estabelecem distinções classificatórias entre material e intelectual, riqueza e erudição, força e inteligência, ostentação e subtileza, entre outras.
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