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Entrevista Acerca da Gordofobia e os Padrões Estéticos da Sociedade Contemporânea

Por:   •  19/11/2019  •  Pesquisas Acadêmicas  •  1.915 Palavras (8 Páginas)  •  132 Visualizações

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Entrevistado(a): anônimo, 19 anos, estudante de administração na UFMG, identifica-se como negro (pardo).

Entrevistadora 1: - Em relação a padrões de beleza, no que se refere à padrões corporais, o que você entende como belo?

Entrevistado: A minha opinião própria ou o que vejo na sociedade?

Entrevistadora 1: Não, sua opinião, tudo é válido!

Entrevistado: Eu acho como belo é uma questão meio, subjetiva, eu acho que é quando uma pessoa ‘tá’ se sentindo bem consigo mesmo, quando ela passa na rua e você sente aquela questão de segurança, que aquela pessoa ‘tá’ bem com aquela roupa, com aquele cabelo, com aqueles acessórios, que ela ... (trecho incompreensível) consigo mesma, eu acho isso muito bonito; esse é meu padrão de belo.

Entrevistadoras: Sim!

Entrevistadora 2: - Como você enxerga o padrão de beleza e qual o impacto que ele tem na sua vida?
 
Entrevistado: O imposto pela sociedade?

Entrevistadora 2: Sim.

Entrevistado: Ah, eu enxergo como uma maneira de castrar as pessoas, elas são menos autêntica tentando seguir padrões. É... já afetou muito minha vida por causa do cabelo e da cor da pele, a gente sempre tenta se adequar e não é muito uma coisa que dá para encaixar, tipo, minha pele não dá para mudar. É... eu acho que ele afeta, a autoestima de muitas pessoas ainda até hoje, mas eu acho que hoje eu tô bem melhor quanto a isso (é claro que tenho problemas, eu ainda quero emagrecer, eu sinto vontade de ir para a academia, mas hoje eu sinto que isso é muito mais uma questão de saúde minha, porque eu me sinto muito melhor quando eu faço um exercício físico ou uma coisa assim, do que por um padrão de beleza.

Entrevistadora 1: - Você acha que pessoas fora do padrão sofrem de alguma forma? Se sim, de que forma?
 
Entrevistado: Eu acho que sim, até mesmo porque eu já sofri, tipo, quando eu era mais nova, os meninos falavam que tipo “ah, pra poder casar a menina tem que ser branca, loira, do olho azul”; porque a gente se vê uma pessoa que não serve pra casar, não serve pra estar no mercado de trabalho, não serve pra ser apresentada socialmente, a gente sempre se vê como na margem.

Entrevistadora 1: - O que você acha sobre pessoas gordas, você já se relacionou ou se relaciona com pessoas gordas ou se vê relacionando com pessoas gordas?

Entrevistado: Relacionamento de amizade ou qualquer relacionamento?

Entrevistadora 2: É mais afetivo.

Entrevistado: Eu acho que pessoas gordas são pessoas normais como qualquer outras, eu nunca me relacionei com pessoas gordas... bom, pelos menos que eu ache que sejam godas, entendeu?! Mas eu acho que já me relacionei com pessoas que estavam um pouco a ciam do peso e eu acho que me relacionaria normalmente, eu acho que pra mim o importante é o como que a pessoa se porta, quais que são os valores dela, os valores dela ser compatíveis com o meu e não corpo, eu não tenho muito isso.

Entrevistadora 1: - Você vê na sociedade uma diferença de tratamento entre pessoas gordas e pessoas não gordas?

Entrevistado: Com certeza, muitas vezes. No ônibus, as vezes, as pessoas não querem sentar do lado das pessoas “gordinhas”, é ... a forma como as pessoas transformam as outras em piada, (trecho incompreensível), elas são sempre tratadas de forma diferente, mas eu acho que principalmente com as pessoas gordas elas são muito feitas de chacota, eu acho isso muito ruim pra pessoa, porque é meio que fantasiado, parece que é uma coisa engraçada, que ‘tá’ ali endo divertido pra todo mundo, mas na verdade não, é uma forma de fazer com que a pessoa se desgaste emocionalmente, só que disfarçado.

Entrevistadora 1: - O que você entende pelo termo gordo? Você sente algum desconforto se esse termo for atribuído a você? Você sente algum desconforto em atribuir isso a uma outra pessoa?

Entrevistado: Eu acho que gordo é uma pessoa tá muito a cima do peso. É... eu não me incomodo, eu até, às vezes, costumo falar que eu tô “gordinha”, assim... eu também acho, não sei se caberia também a mim falar que eu estou gorda, quando tem pessoas que estão muito mais a cima do peso que eu. É tipo questão de negra, eu não sei se eu poderia dizer que eu sou preta quando tem pessoas que são mais escuras que eu e eu não sei se comporto toda a coisa que a pessoa sofre sendo gorda, entendeu?! Mas eu acho que é isso, a pessoa que está a cima do peso dela.

Entrevistadora 1: - Você sabe o significado de gordofobia? Se sim, o que isso implica na sua vida, nas suas relações, seja de pessoas próximas e que você vê por aí.

Entrevistado: O significado de gordofobia eu acho que é uma pessoa que, pelo fato dela estar a cima do peso as pessoas darem um tratamento diferenciado para ela. Quando eu falo diferenciado é pro lado ruim, não é tipo como cuidado, com um apego, não... é mais como uma questão de, isso como eu falei, de transformar em chacota, de marginalizar, deixar no canto, não conversar muito. É... como isso implica na minha vida, eu acho que depois que eu comecei a conhecer termos como “gordofobia”,  como a questão do padrão de beleza, como “racismo”, eu passei a me preocupar mais com a forma que eu me porto. Eu sei que eu não sou perfeita e que eu tenho que tomar cuidado com as coisas que eu falo, muitas vezes eu falo coisas que podem magoar as pessoas, mas eu acho que pra de início você saber mais sobre o assunto te faz uma pessoa mais consciente.

Entrevistadora 2: - Você já se sentiu impactado de alguma forma pelos padrões de beleza da sociedade? Se sim, de que forma?

Entrevistadora 2: Ah, eu acho que é aquilo que você falou no início, né?

Entrevistado: É... eu acho que abala geralmente quando as pessoas tiram foto elas ficam tipo medindo “olha, como fulana tá mais gorda do que eu”, eu acho que é isso mesmo. Já me senti mais afetada, quando eu ‘tava’ mais a cima do peso, hoje não muito, porque eu tomei mais consciência, mas acho que é isso.

Entrevistadora 2: - O que você acha sobre políticas de inclusão em lojas de roupas? Você acha que é efetivo e é cumprido de maneira correta?

Entrevistado: Com certeza não. É... infelizmente, tipo, eu vejo muita pouca opção pra pessoas gordas e também acho que as coleções ‘plus size’ seguem um padrão do que a sociedade acha que um gordo deveria se vestir, sabe?! Não é como se a gente precise de uma blusa ‘cropped’ ‘pluz size’ não tem, que a ideia que se tem é que a moça vai querer tampar a barriga, sabe?! E...não, sei lá, pra ela se expressar do jeito que ela é. Primeiro, que é limitado nesse sentido de estilo, não tem muita opção, sempre uma opção pra tentar fazer as pessoas parecerem mais magras, saca?! e... também não tem muta questão de tamanho. Tipo, naquele caso da Victoria Secret, que colocou uma modelo plus size, que era basicamente do meu tamanho de manequim (risos) ou talvez até um pouco maior, mas as pessoas se enganam com o que é pluz size, eles acham que plus size é 42, 44 e não um tamanho realmente grande, então eu acho que, assim... têm lojas que fazem, mas tem muitas lojas que fazem um modelo de roupa maior, até de lingerie maior, mas eu acho que elas ainda são poucas.

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