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GENERO E SEXUALIDADE NO CINEMA

Por:   •  2/3/2016  •  Trabalho acadêmico  •  2.644 Palavras (11 Páginas)  •  431 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

CURSO: Ciências Sociais

DISCIPLINA: Relações Sociais de Gênero

PROFESSORA: Dra. Sandra Maria Nascimento Sousa

ALUNOS: Artur Tourinho

                  Jesiniel Martins

                  Rafaella Campos Delgado

Gênero e sexualidade no cinema: uma análise dos filmes “Cairo 678”, “No se lo digas nadie” e “Milk – a voz da igualdade”

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo realizar uma breve análise acerca dos filmes “Cairo 678” (2012), “No se lo digas nadie” (1998) e “Milk – a voz da igualdade” (2008), dirigidos respectivamente por Mohamed Diab, Francisco Lombardi e Gus Van Sant.  Cada um desses filmes guarda em si elementos que são fundamentais para diversos debates acerca da concepção de sexualidade, gênero e identidade em diferentes ambientes sociais.

Palavras-Chave: Sexualidade; Gênero; Identidade

1.  Filme Cairo 678

        Com uma temática atual e dirigido por Mohamed Diab, o filme “Cairo 678” (2012) é um drama que narra o problema que mulheres no Egito enfrentam constantemente: o abuso sexual em diferentes lugares públicos.

        Através da história real de três mulheres que vivem em diferentes pontos da cidade de Cairo, mas que se unem no combate ao machismo dominante no Egito o diretor consegue explorar as facetas mais sutis que envolvem o dramático cotidiano dessas mulheres.

Simples ações diárias como pegar um ônibus são suficientes para que Fayza, uma trabalhadora dona de casa e mãe de duas crianças, se torne uma presa fácil de assédios. Já a designer de joias Seba utiliza a tragédia que sofreu (ela foi estuprada durante um jogo de futebol) como combustível para ensinar e orientar outras mulheres a como se defenderem através de cursos. E Nelly virou alvo nacional ao ser a primeira egípcia a denunciar formalmente um assédio sexual à justiça e luta para que o governo tome providencias.  Os destinos desses três personagens se entrelaçam e se complementam na luta contra essa coerção, que, infelizmente, parece ser algo cultural no Egito

É impossível falar em “Cairo 678” sem lembra do caso Sarah Baartman, a “Venus Hotentote”, descrito no artigo “Mulheres, negros e outros monstros: um ensaio sobre corpos não civilizados” (2010), escrito por Cynthia de Carvalho Lins Hamlin e Jonatas Ferreira. Baartman é uma mulher negra com aproximadamente 1,37m de altura. Nasceu no território sul-africano. Ficou conhecida como Vênus Hotentote e foi exibida em feiras, circos, hospitais e museus da Europa, sofrendo inclusive, abusos sexuais do início do século XIX até 1994, quando seus restos mortais foram devolvidos a seu povo, os Khoisan. Tornou-se uma heroína nacional e símbolo da exploração ocidental dos africanos, do racismo e violência contra a mulher na África do Sul.

É de bom tom ressaltar que a violência contra a mulher é um problema de ordem mundial. Ocorre até mesmo nos países mais desenvolvidos.

Assistindo ao polêmico e forte filme “Cairo 678” é um grande marco inicial para levantar questões acerca da maneira como a mulher é tratada e como cada uma reage ao mesmo mal. Tem-se a ampla convicção de que viver em uma sociedade sem ameaças de violência sexual é direito de toda mulher. A busca por informações e apoio são as primeiras medidas para sair de situações de agressão. É muito complicado enfrentar uma sociedade retrógada e machista como a egípcia, mas o filme levanta questões extremamente pertinentes para serem discutidas e refletidas por todos os cidadãos.  As mulheres devem ser vistas e tratadas como seres humanos complexos e ricos e não como meros pedaços de carne. 

 

2. Filme “No se lo digas a nadie”

O filme “No se lo digas a nadie” (“ Não diga nada”) é de origem peruana, dirigido por Francisco Lombardi em 1998 e baseado no livro de mesmo nome escrito por Jaime Bayly, um dos escritores de seu país que relaciona-se mais estreitamente com mídia e meios de comunicação. Traz à tona a temática homossexual naquele país. Joaquín Camino, protagonista da história, é um jovem homossexual da alta sociedade de Lima, onde vive o embate constante aos preconceitos dos seus pais e a rejeição de uma sociedade homofóbica e, supostamente, muito conservadora, embora altamente hipócrita, já que por um lado condena uma coisa que muitas vezes executa.

O filme mostra uma série de situações constrangedoras e violentas que acontecem com Joaquin, enquanto “sujeito de sexualidade desviante” (p.345) desde a infância, passando pela adolescência até chegar à idade adulta. Ao longo da trajetória de vida de Joaquim, o filme vai criticando a hipocrisia da sociedade em questão, uma vez que mostra a grande quantidade de homossexuais, que se escondem, reproduzindo por muitas vezes o discurso conservador vigente.

O romance em plena década de 90 do século XX contado nesse filme tem por objetivo criticar a ideia de estrutura social heterossexual como única e incontestável, demonstrando que muitas vezes esta se baseia em grandes farsas, como no caso de “No se lo digas a nadie”. O protagonista vive em núcleo familiar patriarcal, e devido a sua orientação sexual, seu pai, representante da masculinidade hegemônica - branca, heterossexual e economicamente privilegiada (p.349), e sua mãe, “a porta-voz da moral religiosa, que relaciona o par opositivo abstinência/concupiscência com o par virtude/ pecado” (p. 349), sentem nojo e o desprezam. Esse fato acarreta na fuga do protagonista de sua casa.

Um aspecto interessante visível no filme é a chamada “dupla vida” ao qual Joaquín vivencia cotidianamente. Publicamente, ele levava uma rotina heterossexual, ao passo que, às escondidas, vivenciava sua homossexualidade. É possível perceber esse modos operandi em vários parceiros de Joaquim durante a trama, entre eles Alfonso e Gonzalo. Há várias cenas em que o protagonista conversa com Alfonso acerca das implicações de se viver a homossexualidade no contexto peruano. Enquanto que para Joaquím, seu parceiro deveria ser sincero com seus pais e contar sobre sua orientação sexual, Alfonso diz que não o faz por amor e por receio de escândalos que provavelmente aconteceriam, preferindo assim, ficar no armário. Anselmo Peres Alós, em “Não contar a ninguém ou contar a todo mundo? Colapsos da masculinidade em No se lo digas a nadie” (2013), apresenta uma interessante reflexão de Butler sobre esse momento:

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