Governança Organizacional Aplicada Ao Setor público
Dissertações: Governança Organizacional Aplicada Ao Setor público. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: FernandoMachava • 20/11/2014 • 3.463 Palavras (14 Páginas) • 366 Visualizações
VIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Panamá, 28-31 Oct. 2003
Governança organizacional aplicada ao setor público
Joaquim Rubens Fontes Filho
1. INTRODUÇÃO
As questões de governança, no âmbito da administração pública, têm estado associadas principalmente
à esfera macro, incluindo a gestão das políticas governamentais, o exercício de poder e o controle na
sua aplicação. Seu significado, contudo, vem ultrapassando a dimensão operacional para incorporar
aspectos da articulação dos mais diversos atores sociais e arranjos institucionais.
Entretanto, é no momento da implantação que boas políticas podem se mostrar inexeqüíveis ou
fracassarem, em virtude de práticas de gestão ineficazes. Problemas associados à difusão do poder,
falta de clareza na definição de objetivos, dificuldades na mensuração da relação entre fins e meios, e
motivação do funcionalismo podem representar barreiras à tradução de uma política em realidade.
No domínio privado, a governança tem estado associada ao governo da empresa, às formas com ela
interage com as expectativas dos diversos stakeholders. O conceito de governança corporativa ou
empresarial envolve questões relativas ao ativismo dos investidores, à relação dos proprietários e
gestores, e aos mecanismos institucionais que conferem legitimidade à organização.
Organizações públicas e privadas guardam semelhanças importantes no que diz respeito à governança
organizacional. A separação propriedade e gestão, que gera os denominados problemas de agência, os
mecanismos de definição de responsabilidades e poder, o acompanhamento e o incentivo na execução
das políticas e objetivos definidos, por exemplo, são problemas comuns.
Duas abordagens teóricas devem ser analisadas com maior profundidade, as teorias da agência e
institucional, no contexto da governança organizacional. A teoria da agência foca os contratos entre
proprietários ou stakeholders (principal) e os gestores (agente), e considera sistemas de controle
externo e interno à organização como balizadores da ação gerencial. Mecanismos de reforço como
monitoramento, fiscalização e incentivos são exercitados pelo principal para assegurar sua vontade.
Aplicações dessa teoria são encontradas no âmbito público em inspetorias e empresas estatais do setor
produtivo, ou de forma ampliada nos contratos de gestão.
A teoria institucional tem como base analítica a forma como regras e procedimentos são incorporados
pelas organizações, em busca de legitimidade. Mecanismos coercitivos, normativos e miméticos
conformam a ação organizacional, de forma que hospitais, escolas, corpos de polícia e bombeiros,
assumem estruturas similares.
Este artigo discute problemas de gestão comuns na administração pública e utiliza os referenciais da
teoria da agência e institucional para propor elementos à construção de um modelo de governança que
mais específico para o contexto das organizações públicas e sem fins lucrativos.
2. O GOVERNO DE UMA ORGANIZAÇÃO
“Quem deve controlar a empresa?” Assim iniciava Mintzberg (2001) a discussão sobre o controle
corporativo. Desenvolvendo proposta inicialmente apresentada em 1976, propõe que as visões em torno
desse controle se alinham em torno de uma ferradura. Por este modelo, propunha estabelecer um
referencial para a discussão daquilo que denomina o maior debate sobre o setor privado, qual seja,
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quem deveria controlar as corporações. A ferradura representaria as diversas posições acerca desse
debate.
Essas várias posições ferradura traduzem, antes, uma visão política sobre a empresa e sua inserção na
sociedade. Refletem modelos de governança onde o papel dos diversos atores - acionistas, estado,
sociedade, funcionários, etc. – oscila entre os extremos da nacionalização e a total independência de
ação de seus proprietários.
As discussões sobre o governo das organizações continuam bastante atuais, extrapolando o contexto da
empresa. Nas duas últimas décadas, o fortalecimento do modelo econômico liberal e dos mercados de
capitais conduziu ao surgimento de práticas alinhadas ao lado direito da ferradura conceitual. Os
movimentos pelo estado mínimo e pelo fortalecimento da iniciativa privada alimentaram a visão da
empresa como propulsora do desenvolvimento; paralelamente, reduziram sua missão à produção de
lucro, desconsiderando potenciais externalidades positivas como sua responsabilidade.
Como contraponto, mais recentemente ressurgiram as questões sobre responsabilidade social
corporativa, relacionamento com stakeholders, e benefício das organizações para a sociedade. assumem
renovada importância na agenda dos executivos.
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