Identidade e cidadania: representações sociais e políticas de emigrantes brasileiros na internet
Por: Jrossa • 25/2/2016 • Artigo • 6.520 Palavras (27 Páginas) • 329 Visualizações
Identidade e cidadania – Representações sociais e políticas de emigrantes brasileiros na internet
Juliana Rossa1
Resumo:
Este trabalho apresenta discussões iniciais sobre como ocorrem os processos de busca de legitimidade da cidadania brasileira, através do ambiente virtual, por aqueles que vivem fora do território nacional de origem – no caso deste estudo, dos brasileiros que emigraram para outros países. Pretende-se analisar alguns fatores relacionados aos movimentos sociais e políticos que, de alguma forma, estão envolvidos com a vigente ordem mundial transnacional, marcada pelo enfraquecimento dos Estados e por uma nova forma de se pensar questões de cidadania.
Palavras-chave: cidadania; ciberespaço; sociedade civil, emigração de braseiros.
Introdução
Neste artigo apresentamos considerações sobre ações que visam à legitimação da cidadania de brasileiros que hoje vivem no exterior, através de movimentos sociais e políticos na internet. Ressaltamos que a pesquisa está apenas iniciando e que aprofundamentos e outros desdobramentos são necessários e estão previstos.
Este projeto segue as perspectivas abertas pela abordagem proposta na dissertação de mestrado defendida em agosto de 2010 (ROSSA, 2010), no Programa de Pós-Graduação em Letras, Cultura e Regionalidade da Universidade de Caxias do Sul. Na oportunidade, trabalhamos com representações de regionalidades e identidades em blogs de brasileiros residentes na Itália. O estudo nos levou a constatar que o universo das migrações internacionais de brasileiros e sua ligação com o ciberespaço é complexo e que, questões relacionadas à cidadania, neste contexto, merecem maior atenção.
Não é possível mensurar com precisão o número de brasileiros que hoje vivem no exterior, devido a diferentes fatores, como a situação ilegal vivida por muitos emigrantes. O último levantamento do Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Governo Federal, publicado em junho de 2011 (MRE, 2011, p. 12), apresentou a estimativa de 3.122.813
brasileiros residentes fora do país.[pic 1]
1 Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade – Universidade de Caxias do Sul. Email: julirossa@hotmail.com
Atualmente, o maior percentual de emigrantes no exterior está concentrado na América do Norte, com 1.433.146 brasileiros residentes. A maior parte, 1.388.000, está nos Estados Unidos. Na Europa, a estimativa é de 911.889 brasileiros residentes. O primeiro país em número de emigrados na Europa é o Reino Unido, com 180.000 brasileiros. A Ásia conta com 241.608 brasileiros, sendo que 230.552 vivem no Japão. (MRE, 2011, p. 9-10).
Análises iniciais nos levam a constatar que existem relevantes mobilizações sociais e políticas realizadas por brasileiros residentes no exterior, principalmente de lideranças que se destacam no ambiente virtual. O ciberespaço é o principal meio onde ocorrem trocas entre esses brasileiros, incluindo manifestações que dizem respeito à garantia de seus direitos.
Para compreender esses aspectos, além de considerações sobre alguns movimentos sociais e políticos desses brasileiros, embasamos nossa reflexão em aspectos teóricos da área dos Estudos Culturais, da Ciência Política, além de estudos em cibercultura. A área dos Estudos Culturais vem se mostrando relevante para pesquisas relacionadas à comunicação social, pois elenca elementos importantes como identidade, multiculturalismo, entre outros, que contribuem para um melhor entendimento de assuntos contemporâneos. A Ciência Política nos auxilia na análise de questões relacionadas à cidadania, aos sistemas e comportamentos políticos que emergem dos grupos de brasileiros no exterior. Em relação à cibercultura, além dos aspectos gerais, acreditamos que seja importante analisar alguns teóricos na área, que tratam, em especial, o espaço virtual como espaço de territorialidade e de mobilização social. Trabalhamos com o relacionamento das áreas entre si, pois muitos aspectos cruzam-se quando o assunto é tratado de forma multidisciplinar.
Fluxos migratórios internacionais e identidades
O presente estudo visa apresentar análises de fenômenos atuais relacionados aos fluxos migratórios internacionais, em especial, de brasileiros que hoje vivem no exterior. Nesse sentido, é preciso entender o que vem acontecendo com a humanidade, principalmente a partir das últimas décadas do século passado, quando o estágio mais recente da globalização causou transformações importantes na economia, na política e na sociedade mundial como um todo. Autores como Roland Robertson (1999), Stuart Hall (2009), Néstor Garcia Canclini (2003) e Octavio Ianni (2002) nos ajudam a compreender como o fenômeno da globalização influenciou a maneira como vemos o mundo, através de suas fronteiras mais flexíveis, do multiculturalismo, da acentuação das disparidades econômicas e sociais e do desenvolvimento das tecnologias da comunicação, entre outros fatores.
Nesse cenário, ocorre o favorecimento e o incentivo para que a cada ano mais pessoas
busquem ultrapassar as fronteiras de seu país, a procura de novas oportunidades no exterior. Fatores como o elevado crescimento demográfico de países em desenvolvimento, mão -de- obra em excesso, pobreza e violação dos direitos humanos são apontados por Weber Soares (2002, p. 9) como efeitos desestabilizadores sobre a sociedade e com poder de conduzir à migração. Neide Lopes Patarra compartilha das ideias de Soares e aponta, ainda, para a representação contraditória entre os diferentes interesses dos grupos dominantes no mundo. De acordo com a autora (2006, p. 7), “há que se considerar que os movimentos migratórios internacionais constituem a contrapartida da reestruturação territorial planetária intrinsecamente relacionada à reestruturação econômica-política-produtiva em escala global”.
Diversos pesquisadores já analisaram os fluxos migratórios de brasileiros para o exterior. No Brasil, destacam-se os estudos de Neide Lopes Patarra, que identificou características interessantes desses emigrantes. Segundo a autora, os destinos escolhidos obedecem à características distintas. Os brasileiros que partem para os Estados Unidos geralmente são jovens, pertencentes à classe média, “que entram clandestinamente e se ocupam em trabalhos não qualificados que, ao contrário do que aconteceria em seus países de origem, propiciam-lhes um orçamento maior e a possibilidade de formar uma certa poupança” (2005, p. 27). O imigrante brasileiro nos Estados Unidos possui um perfil diferenciado dos demais imigrantes clandestinos. Patarra aponta que esses migrantes sujeitam-se a um
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