Intercâmbios intelectuais e circulação de ideias
Por: Jhenefer Tolentino • 27/11/2018 • Projeto de pesquisa • 2.273 Palavras (10 Páginas) • 153 Visualizações
Subprojeto de Iniciação Científica
Edital: | Edital PIBIC 2017/2018 |
Título do Projeto: | Intelectuais andarilhos na América Latina: o Brasil no exílio (1960-70) |
Título do Subprojeto: | Intercâmbios intelectuais e circulação de ideias |
Candidato a Orientador: | Adelia Maria Miglievich Ribeiro |
Candidato a Bolsista: | Jhenefer Cristina Tolentino |
Membros Equipe do Projeto | Edison Romera Jr. (mestrando/PGCS); Lorena Orletti Del Rey (graduanda-CS) |
Resumo
Nos anos 1960 e 1970, uma inédita configuração intelectual tomava forma no continente latino-americano derivada em farta medida de uma conjuntura internacional que provocou no Brasil, Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai a instauração de ditaduras civil-militares, expurgando aqueles que então apoiaram os governos derrocados. Neste período, o exílio teceu novas redes de interlocução que se desdobraram na produção de abordagens inéditas do subdesenvolvimento latino-americano e da própria América Latina. Tenciona-se trazer à tona a cultura anti-hegemônica emergente ou “estrutura de sentimentos”, nos termos de Raymond Williams (2011), na qual se moveu uma específica geração de intelectuais que aqui chamamos de “geração da utopia”. Tendo como pano de fundo a vivência do exílio (ADORNO, 2008; SAID, 2003), e centrado na categoria do “intelectual” (GRAMSCI, 1982; MANNHEIM, 1986), objetiva-se destacar as confluências entre pessoas, grupos, trajetórias, acontecimentos, conhecimentos, histórias, sentidos e expectativas nas décadas de 1960-70 no subcontinente, que derivaram em feitos, obras, pensamento e crítica acerca de um projeto latino-americanista. Utiliza-se a abordagem dos “círculos sociais” de Georg Simmel (2006), a fim de se mapear a produção e as iniciativas dos brasileiros exilados, tendo como “detonador” a figura ímpar de Darcy Ribeiro. A pesquisa é de caráter bio-bibliográfico, destacando-se o levantamento documental, sobretudo, a partir de material disponível em sites em português e espanhol. O subprojeto em questão detém-se exclusivamente na experiência uruguaia de Darcy Ribeiro e de seus círculos que caracterizou, em tempos paradoxais, um projeto de latino-americanismo ainda pouco estudado.
Palavras-chave: Darcy Ribeiro. Intelectuais. América Latina. Uruguai. Anos 1960.
2 Introdução
Darcy Ribeiro nasceu em 26 de outubro de 1922, em Montes Claros, Mina Geral. Matriculou-se em 1944 na Escola de Sociologia e Política de São Paulo (ELSP), formando-se em 1947. Durante dez anos, trabalhou com o Marechal Rondon no Serviço de Proteção aos Índios (SPI). Uma guinada em sua vida acontece após seu encontro com o educador e homem público Anísio Teixeira que o convidou, em 1957, a assumir a direção do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE), do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (Inep), do Ministério de Educação e Cultura. Durante o governo de Juscelino Kubitschek, Anísio Teixeira, chamado a coordenar a rede pública de educação do novo distrito federal, incumbiu Darcy Ribeiro de gestar a UnB (Universidade de Brasília), inaugurada em 1962. Darcy foi ministro da Educação durante o regime parlamentarista de Governo do presidente João Goulart (18 de setembro de 1962 a 24 de janeiro de 1963) e chefe da Casa Civil de Jango, entre 18 de junho de 1963 e 31 de março de 1964, com o retorno do presidencialismo até o Golpe militar, quando teve, como muitos, seus direitos políticos cassados e foi obrigado a se exilar, vivendo durante quatro anos no Uruguai.
No exílio, Darcy Ribeiro empenhou-se como criador e reformador de universidades nos países latino-americanos onde buscou refúgio (Uruguai, Venezuela, Chile, Peru, México) até poder voltar ao Brasil, com a Lei da Anistia (1979). Também durante o exílio, escreveu boa parte de seus “Estudos de Antropologia da Civilização” (O Processo Civilizatório; As Américas e a Civilização; O Dilema da América Latina; Os Brasileiros: 1. Teoria do Brasil e Os Índios e a Civilização), um conjunto de quase duas mil páginas, com 96 edições publicadas em diferentes línguas, a fim de inserir a diversidade dos povos americanos na história da civilização mundial. Também, no exílio, tornou-se romancista, com Maíra e O Mulo, vocação nova a que daria continuidade ao voltar para o Brasil (Fórum Mídia & Educação, 2001).
Este subprojeto fixa-se numa das fases da trajetória de Darcy Ribeiro, o seu exílio uruguaio, de modo a subsidiar o projeto Intelectuais Andarilhos na América Latina: O Brasil no exílio (1960-70), coordenado por Profa. Dra. Adelia Miglievich. Assim, com base em pesquisa histórico-documental, pretende-se reconstituir a rede intelectual da qual Darcy Ribeiro participou naqueles quatro anos em Montevidéu, quando também viajava para os países vizinhos, assim como conheceu Cuba e a URSS.
Segundo Haydée Coelho (2002), a estada de Darcy Ribeiro no Uruguai foi extremamente profícua. Assim que deixou o Rio Grande do Sul em um pequeno avião, com destino a Buenos Aires, por algum problema, este aterrissou em Salto, a 500 km de Montevidéu, de maneira que Darcy Ribeiro decidiu de ímpeto, pedir asilo no Uruguai. Em Montevidéu, contatou Mário Cassioni, então reitor da Universidade da República Oriental do Uruguai que, embora bastante doente, enviou até Darcy o Secretário da Comissão de Cultura da Universidade, Luís Carlos Benvenuto, e Domingo Carlevaro, representante estudantil na Comissão de Assuntos Universitários, que manifestaram solidariedade ao antropólogo, educador e homem público, derrotado, com seu grupo político, no recente Golpe militar havido no Brasil.
Sabe-se que Darcy Ribeiro foi contratado como professor da universidade e há cartas em que o mesmo descreve seu trabalho. Também é sabido que lá realizou diversos seminários, como “A cultura da pobreza”, “A posição social da mulher”, “Ethos uruguaio” e “O processo de socialização”. Protagonizou a organização de um evento em 1967 sob o nome “Seminário sobre Estruturas Universitárias”, no qual também participou o famoso crítico literário uruguaio, Ángel Rama, que resultou numa publicação em dois volumes La estructura de la Universidad a la hora del cambio. Seguiu-se a este, o “Seminário de Política Cultural Autônoma para a América Latina”, ambos a expressar a intenção de um grupo de intelectuais preocupados em pensar a identidade e a autodeterminação latino-americana. Caberá a este subprojeto recuperar algumas destas experiências através de documentação e testemunhos a fim de recompor a teia dos intelectuais envolvidos e retomar a reflexão sobre a “universidade necessária” no interior de um projeto cultural próprio à América Latina.
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