Marx e o Manifesto
Por: pedrobcampos • 18/3/2016 • Artigo • 2.930 Palavras (12 Páginas) • 413 Visualizações
O manifesto comunista – Karl Marx e Friedrich Engels
I – Burgueses e proletários
Durante a história escrita, classes antagônicas de opressores e oprimidos resultaram em lutas que conduziram sociedades a uma revolução ou ao declínio. Assim foi com homens livres e escravos, patrícios e plebeus, senhores e servos, mestres e companheiros.
Servos da Idade Média constituíram a burguesia. As grandes navegações e o colonialismo estimularam o comércio. Dos mestres-artesãos surgiu a manufatura e o estamento médio industrial. Os mercados se expandiram. A revolução industrial com a maquinaria desencadeou a grande indústria e os burgueses modernos. Criou-se o mercado mundial estimulando os transportes e a comunicação.
Concomitantemente às revoluções de produção, a burguesia provocou alterações políticas. Determinou as comunas –cidades nascentes de administração autônoma- na Itália e na França, a república urbana independente na Itália e na Alemanha, o terceiro estado na França e a própria formação da época absolutista. Tamanha foi sua força que, diz Marx, ‘’O poder político do Estado moderno nada mais é do que um comitê para administrar os negócios comuns de toda a classe burguesa’’.
O respeito e a veneração que configuravam na Idade Média uma característica das relações entre pessoas caíram por terra e foram substituídos por uma ênfase comercial despudorada.
A burguesia inseriu na sociedade o contínuo revolucionamento da produção, o implemento tecnológico, o caráter cosmopolita, a livre concorrência e o mercado mundial impondo suas táticas de desenvolvimento –‘’cria o mundo a sua semelhança’’-. ‘’Aglomerou a população, centralizou os meios de produção e concentrou a propriedade em poucas mãos’’ favorecendo a centralização política em nação, governo, legislação, interesse nacional e barreira alfandegária.
No entanto, afirma Marx, ‘’Há mais de uma década a história da indústria e do comércio não é senão a história da revolta das forças produtivas modernas contra as modernas relações de produção, contra as relações de propriedade que são a condição de existência da burguesia e de seu domínio’’. Em outras palavras, quando as forças produtivas ultrapassam as relações burguesas instala-se uma crise que é superada pela supressão das mesmas forças e, ao mesmo tempo, pela expansão do mercado que antes não poderia absorver as relações pecuniárias.
Mais do que crises contra si, a burguesia gerou uma oposição ainda mais forte, o proletariado. A massa trabalhadora aumentada pela pequena classe média. A representação do trabalhador que, pela maquinaria e pela divisão do trabalho, tornou-se simples acessório e mercadoria que busca a subsistência, não importando se homem, mulher ou criança, numa relação próxima ao despotismo.
Manifestações começariam fragmentadas, utilizando a força para pequenos estragos. Com a comunicação e à medida da piora das condições de vida e da instabilidade do salário o proletariado se associaria de forma organizada com centralização de ações. Nesse sentido ir-se-iam conquistando leis de trabalho.
E haveria uma força um tanto mais distinta em favor dos operários: a própria burguesia. Os conflitos com o progresso industrial e as dissidências entre burguesias de diferentes países arrastam o proletariado para o movimento político. Frações da classe dominante que decaem ao proletariado também estimulam a conscientização deste. Mesmo teóricos burgueses que ‘’conseguiram alcançar uma compreensão teórica do movimento histórico em seu conjunto’’ migrariam para o lado dos oprimidos. A camada média –artesão, camponês, pequeno comerciante- que, no entanto, luta contra a burguesia não é verdadeiramente revolucionária porquanto visa a sua própria existência num ideal conservativo, tem interesses presentes, não futuros.
O proletário não tem propriedade, não tem lei, não tem moral, não tem religião –nem mesmo pátria-. Toda essa superestrutura deveria ser sobposta por ele. A guerra civil viria e a burguesia seria derrubada violentamente.
Historicamente, os antagonismos cederam aos oprimidos algumas melhoras para que pudessem se manter. Mas o pauperismo do trabalhador pioraria continuamente, de modo que a burguesia não poderia sustentar mais tal dominação.
A burguesia funda-se no capital, sua produção e acumulação. Para tal faz uso do trabalho assalariado. O trabalho assalariado vem do proletariado. O próprio desenvolvimento da indústria estimulado pela burguesia gera a união dos proletários. ‘’A burguesia produz, acima de tudo, seus próprios coveiros. Seu declínio e a vitória do proletariado são igualmente inevitáveis’’.
Versão 2
O Manifesto realiza a naturalização do homem e a humanização da natureza. Como documento de propaganda, nada acrescenta às ideias já expostas. Mas é uma obra-prima de retórica. No preâmbulo, o autor fixa a escala do seu pronunciamento. Trata-se um processo mundial, de um espectro que paira sobre a Europa. Este reconhecimento obriga o novo mundo dos comunistas a clarificarem as suas oposições ao velho mundo reaccionário. A primeira secção desenvolve a perspectiva histórica do comunismo. A história é luta de classes. A visão da sociedade moderna é ainda mais simplista e maniqueista, pois refere apenas a burguesia e o proletariado. A burguesia nasceu dos servos da Idade Média para conquistar o mundo. O seu papel revolucionário na história foi destruir as idílicas relações patriarcais e feudais. Fez milagres maiores que as catedrais, pirâmides e aquedutos; criou a produção cosmopolita, a interdependência das nações, a literatura mundial, fez o campo depender da cidade, o bárbaro do civilizado, o Oriental do Ocidental. Marx louva a burguesia em termos que jamais burguês algum utilizou, fazendo recordar o orgulho absurdo de Condorcet. O esplendor da burguesia é, porém, transitório porque será ela substituida pelo proletariado em várias fases da luta. No começo, há apenas indivíduos que lutam contra a opressão local. Com a indústria, a opressão generaliza-se. As associações de operários terão vitórias e derrotas. A proletarização crescente da sociedade lança grupos educados no proletariado. Surgem os renegados de classe devido à desintegração social. Os burgueses ideólogos juntam-se aos operários, com o que se atinge a época de Marx e Engels.
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