Merleau-Ponty
Por: lulima-hf • 2/5/2016 • Trabalho acadêmico • 1.855 Palavras (8 Páginas) • 502 Visualizações
FENOMENOLOGIA
(LUCIANA)
CRÍTICA A DESCARTES E AO PENSAMENTO DO SÉCULO XVII
No texto As ciências do homem e a fenomenologia, o filosofo nota a dificuldade da objetivação. No século XVII, a partir de Galileu e Descartes, foi construída uma “ontologia”, a de um puro objeto que nada tem de “subjetivo”, o sujeito e o objeto seriam exclusos um do outro.
A separação cartesiana entre o corpóreo e o anímico, afirmam que a subjetividade constitui a realidade ou põe o mundo a partir de si mesma. O mundo, escreve Merleau-Ponty, é mais velho do que a consciência e do que nós e a “percepção do mundo funda para sempre nossa ideia da verdade”.
“Descartes não sustenta, portanto, nada que se possa pensar em união. Ele não tem nada a falar sobre isso. As noções que ele introduz a este respeito, são míticas, no sentido platônico da palavra: destinada a lembrar ao ouvinte que a análise filosófica não esgota a experiência.” (MERLEAU-PONTY, 2002, p. 15).
CRÍTICA A FILOSOFIA TRADICIONAL E A CIÊNCIA.
A filosofia pontyana investiga aquilo que Platão e Aristóteles deixaram de lado, as “antinomias insolúveis”, ou seja, as ideias incompatíveis ou crenças do “universo confuso do imediato, do vivido ou do homem vital”, são consideradas pela filosofia e pela ciência desprovidas de verdade. Visto que, a filosofia tradicional, via de regra, não alcança o mundo vivido e ignora a fé perceptiva, enquanto que a ciência valoriza a razão.
Para Merleau-Ponty, “se procuramos as razões é porque já conseguimos ver ou porque fatos como a ilusão nos incitam a recusar a própria evidência perceptiva”.
Merleau-Ponty critica desde a reflexão psicológica, que se afasta das coisas para redescobri-las nos estados de consciência em que elas são dadas, até a reflexão consciente de si própria que pretende alcançar pensamentos puros de uma realidade dita objetiva. Tais modos de reflexão são ”uma mentira de onde não há regresso”. É necessário, com a reflexão, conceber o Ser-sujeito e o próprio Ser exige reconstituir “a verdade dos processos reflexionantes”. Pois, acredita-se que antes da reflexão, e é isso que a torna possível, há “uma frequentação ingênua do mundo”, o Si para o qual se chega é precedido por um Si alienado.
A reflexão filosófica que não leva em conta a percepção perde o que pretende explicar. Torna-se arbitrária ao distinguir graus e ao discriminar o confuso a partir de ideias claras e distintas. A filosofia e a ciência pretendem acabar com o mistério do mundo e converter todo o pensamento em conhecimento objetivo. Na realidade, para Merleau-Ponty, o mundo percebido está aquém e além dos dualismos do realismo e do intelectualismo, do ser objeto e do ser-sujeito.
Apesar de não existir, para Merleau-Ponty, uma dialética pura, é tarefa da reflexão dialética, como pensamento situado, denunciar “as falsas evidências”, “as significações cortadas da experiência do ser” e criticar-se a si mesma para não se tornar uma dessas experiências vazias. Todo pensamento reduzido a teses é perigoso. As fórmulas falsificam o pensamento. Dialética pressupõe identidade e diferença. Boa dialética, diz Merleau-Ponty, é aquela que se critica a si mesma e que tem consciência de que toda tese é idealização. Quando não existe essa mediação cessa o movimento, a transformação e, desse modo, instala-se a distância entre a fé perceptiva e a reflexão.
Afastar-se da tradição das filosofias da consciência e do empirismo cientificista é buscar uma “razão alargada”, abandonar a ilusão da subjetividade pura e de seu outro lado, a objetividade pura, construída pelas operações de um pensamento que se julga desencarnado. É tomar a filosofia não como explicação e sim como interrogação interminável.
Para Merleau-Ponty a filosofia e a ciência não são a fonte do sentido e não há um ponto de partida absoluto (Deus, o homem, a Natureza), mas um solo originário e uma inerência ao mundo que merecem ser interrogados.
O CORPO EM MERLEAU-PONTY
Merleau-Ponty é reconhecido como um filósofo que atribui papel fundamental à atividade perceptiva no que concerne à relação entre sujeito e mundo. Dado que o corpo é percebido como sede da percepção, ele o eleva, em sua obra, a tema central da análise da inserção do ser humano em seu meio natural e social.
As suas primeiras obras: A Estrutura do comportamento e Fenomenologia da Percepção são ambas voltadas para a reflexão sobre o corpo, a consciência, a racionalidade. O visível e o invisível, obra inacabada, suas anotações contêm o investimento em uma filosofia da carne que irá problematizar as relações entre corpo e alma, percepção e pensamento.
O CORPO EM A ESTRUTURA DO COMPORTAMENTO - A EXPERIÊNCIA INGÊNUA
Investigar a experiência perceptiva, como base das relações entre o ser humano e o mundo, talvez seja a tarefa principal a que Merleau-Ponty se dedicou. Essa preocupação constante pode ser percebida no reconhecimento insistente, em várias de suas obras, do seguinte fato: as pessoas acreditam estar em contato direto com o mundo tal como ele é por meio de uma fenomenologia da percepção. O desafio de Merleau-Ponty, explícito já em seu livro inicial e, também em seus últimos textos, é fornecer uma análise que comprove a legitimidade dessa crença veiculada pela percepção.
No primeiro livro de Merleau-Ponty, A estrutura do comportamento, há uma análise detalhada da experiência ingênua do mundo, ou seja, aquela em que simplesmente se está engajado na situação vivida, sem questionamento ou reflexões acerca de sua natureza. Nessa experiência, as pessoas não se sentem limitadas a estados privados de consciência e creem se relacionar com as próprias coisas. O corpo não se revela como uma barreira entre a consciência e o mundo, ele é o meio pelo qual as coisas podem ser conhecidas assim como são.
O CORPO EM FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO - CORPO SUJEITO, CORPO HABITUAL
Na fenomenologia da percepção, o filósofo descreve o corpo como fenomenal, isto é, não como um fragmento de matéria inerte, mas como um agente ativo na produção da experiência.
O contato do corpo com o mundo instaura uma história, ou ainda, uma pré-história, no sentido de estabelecer certos padrões de discriminação de dados sobre os quais se desenrolam os dramas pessoais. Assim, o corpo sempre é corpo habitual, e não vive apenas no instante presente: ele retém o passado e lentamente molda preferências e recorrências com as quais se insere em seu ambiente. Merleau-Ponty comenta o caso de pacientes amputados que sentem o membro fantasma, o estado habitual do corpo se impõe ao atual gerando a sensação do membro que não mais existe. Assim, confirma-se que os padrões da atividade do corpo não estão sob o domínio da consciência subjetiva. O sujeito amputado sabe de seu estado atual mas isso não impede a manifestação do membro fantasma. Isso significa que o corpo cria padrões típicos quase involuntários que chegam a superar a vontade atual.
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