Análise de duas teses d’A Ciência e Experiência da Expressão de Maurice Merleau-Ponty
Por: lgois • 25/5/2018 • Exam • 919 Palavras (4 Páginas) • 245 Visualizações
Análise de duas teses d’A Ciência e Experiência da Expressão de Maurice Merleau-Ponty
1ª Tese: “Ora, é bem um resultado da linguagem se fazer esquecer, na medida em que ela consegue exprimir-se” (MERLEAU-PONTY, 1974, p. 25).
O filósofo francês Merleau-Ponty inicia o texto aludindo a um fenômeno que seria resultante da linguagem, próprio a ela, em que, na medida em que a linguagem é capaz de exprimir-se, faz esquecer-se. Na leitura de um livro a gosto de quem lê, diz o filósofo, não é para com as letras cravadas no papel ou para com as folhas preenchidas e sobrepostas umas às outras que a atenção de quem fita com olhos se adere. Alguém que pretenda praticar o ato da leitura não pode direcionar sua atenção a todos os detalhes de um livro; buscar um sentido em palavra por palavra num parágrafo qualquer tornaria incompreensível o sentido que a conexão dos signos remete. O sentido habita, segundo o autor, esta síntese de palavras lidas que, ao conectarem-se numa expressão unificam-se em um sentido. De outra maneira, isto é, “buscando” o sentido do todo de um modo singular, em cada palavra, este jamais seria possível de ser fornecido.
O esquecimento aqui mencionado diz respeito a uma dificuldade ou impossibilidade de, digamos, refazer o caminho que, a partir da leitura, forneceu-me o sentido. Quero dizer, não se sabe exatamente em que momento ou circunstância o que está descrito no livro passou a ter sentido para mim.
A experiência da linguagem corresponderia a uma função de unidade – múltiplos em um –, uma vez que não está nos signos, no diverso, o sentido que se “busca”, mas no agrupamento destes. Diz o filósofo que um livro, uma peça ou um poema o afeta não em suas partes, mas em bloco. É essa “afecção” em bloco que habitaria a memória do indivíduo; embora seja possível numa releitura ou revisão – no sentido de ver algo novamente – o reavivamento de esta ou aquela palavra, circunstância e momento, estes não são condição para se estar em contato com o sentido do que foi expresso, uma vez que o resultado da síntese é o que constitui a memória de alguém sobre alguma coisa, enquanto que o diverso é esquecido.
A virtude da linguagem, segundo Merleau-Ponty, consiste em que ela nos lança ao que significa, e neste lançar nos atravessa de maneira dissimulada enquanto sua própria forma de operar. Basta que algo nos toque para que a sua lembrança esteja indefinidamente envolvida pela memória. O triunfo da linguagem é desaparecer e, ao mesmo tempo, permitir com que eu me volte não às palavras de um certo livro, mas ao pensamento mesmo que as articulou de modo a produzir, para mim, um sentido.
O autor, em resposta ao percurso tomado n’A Ciência e a Expressão da Linguagem até então, discrimina a linguagem em duas partes, em outras palavras, vê que há duas linguagens ou, então, duas operações da linguagem. Por um lado se encontra a linguagem que é posterior, que se adquire, e que desaparece na medida em que o sentido que carrega se desvela. E, por outro lado, diz o francês, há, também, a linguagem que se faz no instante da expressão, que permite e que orienta o movimento que percorre os signos em direção ao significado, como se se deslizasse, de uma extremidade à outra, por um lago que tem sua superfície inteiramente congelada e cujo deslocamento passasse desapercebido.
2ª Tese: “Não somente não há análise gramatical que descubra elementos comuns a todas as línguas e cada língua não contém necessariamente o equivalente dos modos de expressão que se encontram nas outras” (MERLEAU-PONTY, 1974, p. 41).
Teríamos, segundo o autor, uma tendência ou, então, o hábito de pensar que a língua a partir da qual nos comunicamos desde a formação inicial está em perfeita adequação às coisas e ao modo pelo qual nos remetemos a elas. Este hábito que engana nos levaria a exigir das línguas estrangeiras o equivalente da maneira com a qual as coisas podem ser expressas em nossa própria língua.
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