O Ensino de Sociologia na Rede Estadual
Por: Alison97 • 16/3/2025 • Artigo • 3.521 Palavras (15 Páginas) • 27 Visualizações
O ENSINO DE SOCIOLOGIA NA REDE ESTADUAL DE ENSINO DE MATO GROSSO DO SUL[1]
Revisão de Literatura
Alison Menezes Freitas[2]
Resumo: O presente artigo tem como objetivo problematizar o ensino de Sociologia na rede estadual de Ensino de Mato Grosso do Sul propondo uma possibilidade de sequência didática para iniciação do ensino da disciplina de Sociologia com os estudantes do primeiro ano do Ensino Médio. Tendo em vista uma habilidade e objeto de conhecimento do Currículo de Referência de Mato Grosso do Sul, delimitou-se uma sequência didática, para apresentar e introduzir aos estudantes o conhecimento sociológico e inseri-los neste imenso oceano de discussões.
Palavras-chave: ensino de Sociologia; sequência didática; Mato Grosso do Sul.
Abstract: This article aims to problematize the teaching of Sociology in the state education network of Mato Grosso do Sul, proposing a possibility of a didactic sequence to begin teaching the subject of Sociology with students in the first year of high school. Taking into account a skill and object of knowledge from the Reference Curriculum of Mato Grosso do Sul, a didactic sequence was defined to present and introduce sociological knowledge to students and insert them into this immense ocean of discussions.
Keywords: teaching of Sociology; didactic sequence; Mato Grosso do Sul.
Introdução
O presente artigo é resultado de reflexões e estudos realizados na disciplina Teoria das Ciências Sociais I, no curso de Mestrado Profissional de Sociologia, cujos debates permitiram (re)pensar o ensino da Sociologia a fim de compreender conceitos, metodologias e autores, somadas às tradicionais formas de ensinar os temas inerentes ao saber sociológico.
Esclarecemos que a ideia não é deixar de lado os clássicos e suas produções, ação está que é inviável, dada a relevância de tais obras para explicar as relações sociais e as crises oriundas com a modernidade: Durkheim, Weber e Marx são autores comumente apresentados como “clássicos”, que se preocupavam em entender as mudanças que atingiram sobretudo a sociedade europeia a partir do século XVIII. (CONELL, 2012)
Apresentamos uma discussão sobre a institucionalização da Sociologia escolar no Brasil e em Mato Grosso do Sul, com o intuito de evidenciar como a disciplina consegue o status de obrigatória, as disputas em torno disso, os atores envolvidos e caracterização da sua intermitência, bem como o fato de a disciplina ser lecionada no referido estado antes mesmo da sua obrigatoriedade nacional.
Elucidamos alguns elementos do Iluminismo e Revolução Francesa que foram decisivos na mudança política e intelectual na Europa, que mais tarde atingiria os demais países.
Nesse sentido, o presente artigo problematiza e reflete sobre definição do conhecimento sociológico, dado a especificidade relacionada a sua prática, que assim como as demais ciências, não é uma atividade imemorial e inerente ao espírito humano, como afirma Berger (1986), mas fundamentada em pressuposto teóricos que requerem enxergar as relações sociais por de trás das cortinas e para além das estruturas formais, as quais, aos olhos de pessoas comuns não são observadas, mas para o sociólogo constitui seu campo de pesquisa.
1. A Sociologia enquanto disciplina do ensino básico
A Sociologia escolar no Brasil passou por inúmeras turbulências em seu trajeto, que se inicia ainda no século XIX, percorre todo século posterior, entre uma descontinuação e intermitência, para ter sua obrigatoriedade através da Lei nº 11.634/08, e ser retirada nominalmente com promulgação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em 2017, e a alteração em artigos da Lei nº 9.394/96 (LDB), que conferiram à Sociologia o posto de “estudos e práticas”, ainda que mantendo-a em muitos currículos, como é o caso do Currículo de Referência de Mato Grosso do Sul. (BODART; TAVARES, 2020)
A intermitência da disciplina há muito faz parte do interesse de diversas pesquisas realizadas dentro do subcampo de ensino da Sociologia, o que tem sido aguçado pós obrigatoriedade da disciplina desde 2008. (BODART; CIGALES, 2020)
A discussão em inúmeros eventos científicos e em publicações de revistas indicam as razões pelas quais a disciplina tem essa especificidade em seu processo de institucionalização. Podemos citar, aqui, como parte de levantamento bibliográfico, Bodart e Cigales (2020), Sarandy (2011), Leite et al (2018) e Brunetta (2020) autores preocupados em instigar o debate em torno deste subcampo de pesquisa e elucidar as razões que alocam a disciplina dentro da estrutura educacional, além de (re)pensar ações de legitimação social da disciplina na sociedade brasileira e quais agentes que devem se mobilizar para alcançar esse objetivo. Pretendemos citar alguns desses eventos, sem o intuito de refazer uma linearidade do histórico da disciplina, mas de situar o leitor para refletir sobre a sua intermitência para, posteriormente, situá-lo no contexto sul-mato-grossense.
Observa-se a obrigatoriedade, com a Reforma de Benjamim Constant, em 1890; facultatividade, com a publicação dos currículos pelo Conselho Federal de Educação, em 1962; e ausência, na proposta de Rui Barbosa e Reforma Capanema, em 1882 e 1942, respectivamente. Neste oceano revolto que a Sociologia escolar percorreu até os dias atuais, encontram-se elementos para pensar o fazer sociológico, hoje, no que diz respeito a entender o histórico da disciplina no ensino da educação brasileira, bem como as disputas em torno da manutenção dela nos currículos estaduais. (LEITE et. al, 2018)
Desde a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), acentuou-se a desdisciplinarização da Sociologia, existente desde o final da década de noventa (BODART; FEIJÓ, 2020), que foi agrupada na área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, porém, como salienta Brunetta (2020, p. 54), a disciplina passou a ser operacionalizada “sem as suas especificidades científicas de origem, que foram dissolvidas nas habilidades e competências”, o que lançou uma série de dúvidas sobre a sua continuidade na educação básica.
...