O Paradoxo Da Cidadania
Trabalho Escolar: O Paradoxo Da Cidadania. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: wagnerlove • 15/7/2013 • 3.184 Palavras (13 Páginas) • 425 Visualizações
O PARADOXO DA CIDADANIA
Luci Praun*
Resumo
O artigo aborda, a partir da crítica ao conceito de cidadania, os limites
de sua aplicabilidade no marco das sociedades fundadas em classes
sociais. Apresenta a retomada relativamente recente dos discursos
construídos por diferentes segmentos sociais em torno dos direitos
cidadãos, particularmente na fase aberta nos anos 1980, na qual
predominam as políticas de perfil neoliberal e o processo de
reorganização do trabalho e da produção, confrontando-os com a
realidade a qual se encontra submetida a maioria da população.
Palavras-chave: cidadania; igualdade ilusória; desigualdade.
THE CITIZENSHIP PARADOX
Abstract
Based on the critical to the citizenship concept, this article broaches its
limits of applicability in the societies established by social classes. It
presents the relatively recent resumption of speeches that was
constructed for different social segments around the citizens’ rights,
particularly the phase begun in the 80’s, in which the neo-liberal
politics and the work and production reorganization process
predominated, collating them with the reality that the majority
population is submitted to.
Keywords: citizenship; illusive equality; inequality.
LA PARADOJA DE LA CIUDADANÍA
Resumen
El artículo aborda, a partir de la crítica al concepto de ciudadanía, los
límites de su aplicabilidad en el marco de las sociedades fundadas en
clases sociales. Presenta la retomada relativamente reciente de los
discursos construidos por diferentes sectores sociales alrededor de los
derechos ciudadanos, particularmente en el período abierto en los años
1980, en el que predominan las políticas de perfil neoliberal y el
proceso de reorganización del trabajo y de la producción,
confrontándolos con la realidad a la que se encuentra sometida la
mayoría de la población.
Palabras-llave: ciudadanía; igualdad ilusoria; desigualdad.
*
Graduada em Ciências Sociais, mestre em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e
doutoranda em Sociologia pela mesma universidade. Atualmente é docente e coordenadora do curso de Ciências
Sociais da Universidade Metodista de São Paulo. E-mail: lucieneida.praun@uol.com.br / lupraun@uol.com.br. 62 REVISTA MÚLTIPLAS LEITURAS
Revista Múltiplas Leituras, v.2, n.2, p. 61-69, jul. /dez. 2009.
INTRODUÇÃO
Cidadania é uma daquelas expressões que atravessa a história da humanidade. Em
alguns momentos o uso do termo indicou claramente as diferenças entre aqueles que poderiam
ser considerados cidadãos e os que não faziam parte deste universo. Assim ocorreu na
Antiguidade, conforme expresso na Constituição de Atenas. Na Grécia Antiga, o campo dos
denominados cidadãos estava demarcado pela condição de homem livre, fato este que, em se
tratando de uma sociedade fundada na escravidão, restringia a condição de cidadão a uma
minoria, articulando a condição sócio-econômica a direitos políticos.
Nas primeiras elaborações teóricas que anunciam a ascensão da burguesia ao poder
político, como as de Locke, por exemplo, novamente o estatuto da cidadania aparece
nitidamente. Para Locke são os proprietários privados os portadores de direitos políticos.
Entretanto, aos poucos, o termo passa a assumir um conteúdo ideológico. O que antes
demarcava a diferença, com a consolidação da burguesia frente ao Estado, passa a operar no
terreno de uma suposta igualdade, não realizada. Uma igualdade ilusória.
Não é, portanto, à toa que uma única expressão guarde tantos e diferenciados
significados. Estes, por sua vez, de uma forma ou de outra desembocam em caminhos que se
cruzam. Ser cidadão, do ponto de vista genérico, é igualar-se em direitos e deveres aos demais
membros da sociedade. Para alguns estes direitos e deveres se expressam na esfera da
participação na democracia representativa burguesa. Outros agregam a esta condição o acesso
à esfera dos direitos sociais, tais como educação, saúde, moradia e trabalho. Há ainda aqueles
que ampliam o leque, estabelecendo uma relação direta entre cidadania e tolerância,
agregando o respeito às diferenças, sejam elas sócio-econômicas, culturais, religiosas, entre
outras, como caminho para a condição de igualdade.
Mas em qual momento, em que pese as diferentes perspectivas, os caminhos se
cruzam? Na ilusoriedade da igualdade. Essa talvez seja a essência da diferença entre o
emprego do termo tanto na Antiguidade como no período de ascensão da sociedade
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