Os afectos mal-ditos: o indizível nas sociedades camponesas
Por: Fabiano Carlos • 10/2/2017 • Projeto de pesquisa • 1.039 Palavras (5 Páginas) • 337 Visualizações
O livro “Os afectos mal-ditos: o indizível nas sociedades camponesas” de Paulo Rogers Ferreira tem como tema a sexualidade do homem do campo, sexualidade esta que foge a todos s padrões e conceitos estabelecidos por outros autores e antropólogos no que ele chama de texto brasileiro onde o campesinato é mostrado de uma forma fixa e imutável em sua forma de expressar a sexualidade que em suma está voltada apenas para a vida conjugal, não se permitindo assim ter desejos muito menos realiza-los. Os afectos mal-ditos: o indizível nas sociedades camponesas é fruto de sua dissertação, defendida no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de Brasília (UnB), no ano de 2007. No final de 2008, através do Prêmio Anpocs, o texto foi revisto e publicado.
O autor faz uma etnografia rural em uma pequena cidade do sertão cearense onde vivem seus avós maternos, para proteger a identidade de seus informantes ele passa a chamar a chamar a cidade pelo sugestivo nome de “Goiabeiras” (acredito eu que pela referência popular a homossexualidade), lá ele entra em contato com seus objetos de estudo, que é um grupo de rapazes solteiros tidos como “veados” pela população e seus encontros secretos com outros homens solteiros e casados da região no que eles definem como “esquemas”, para práticas sexuais.
Sua pesquisa de campo teve inicio no ano de 2000, por volta do mês de março e a principio deveria durar apenas 3 meses que aliás se mostraram infrutíferos fazendo com que ele quase desistisse, pois as pessoas se mostravam relutante diante de um antropólogo que a todo momento trazia a baila o assunto da sexualidade e da homossexualidade, porém faltando poucos dias para ele ir embora recebe um convite de um dos rapazes de goiabeira com fama de “veado” para participar de um dos encontros que eles chamam de “esquemas”, Paulo não deixou passar a oportunidade e foi ao lugar combinado dando inicio assim a sua etnografia .
Paulo Rogers ultrapassa as fronteias na sua observação participante deixando-se levar por seus desejos e se envolvendo nos muitos rumores, tornando-se discípulo entre os rapazes “mal-ditos” da cidade de goiabeira, aprendendo com eles as técnicas e códigos implícitos dos “esquemas”, o antropólogo nesse caso participa dos encontros sexuais nos açudes e moitas escondidas fora dos olhares das pessoas ditas de bem, transformando-se em um nativo, mergulhando nos devires da sexualidade deles.
Na primeira parte do livro o autor constrói uma imagem do homem do campo de acordo com vários autores que tratam de gênero, sexualidade e o rural no texto brasileiro, onde o homem se apresenta com uma sexualidade limitada e controlada por seus deveres e obrigações, onde não sobra espaço para seus desejos fantasias. Ele perde a propriedade de seu corpo para suprir as necessidades do casamento e da família com a obrigação de produzir herdeiros e perpetuar seu sobrenome.
“Os afectos mal-ditos” traz uma proposta inovadora sobre o olhar do homem do campo, expondo tudo aquilo que é indizível e o que não faz parte das pesquisas sobre o tema, durante a leitura encontramos citações de Gilles Deleuze, Bruno Latour, Gabriel Tarde, Eduardo Viveiro de Castro e Daniel Lins que é onde Paulo Rogers vai buscar referencias teóricas para construir a imagem do homem casto do campo que se apresenta de forma heterodoxa no texto brasileiro. Ao final do primeiro capitulo busca estabelecer sua metodologia de campo através da experimentação de conceitos teóricos.
No segundo capitulo o autor começa então a desconstruir a imagem estabelecida pelo texto brasileiro apresentada no primeiro capitulo, aqui ele expõe a multiplicidade da sexualidade do homem do campo que é vivenciada através do desejo e está fora das obrigações da sociedade rural, a homossexualidade neste contexto independente da participação ativa ou passiva, não é bem aceita pela sociedade e tida como “mal-dito”
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