Qual a função da ciência em nossa sociedade
Pesquisas Acadêmicas: Qual a função da ciência em nossa sociedade. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Marochaandre • 16/10/2014 • Pesquisas Acadêmicas • 2.280 Palavras (10 Páginas) • 260 Visualizações
Introdução
Qual a função da ciência em nossa sociedade? Esse é provavelmente um dos temas que mais deve ser questionado e discutido. A partir disso, é de indubitável importância perceber a ação da ciência e seu papel ao longo de toda a história do homem e das sociedades.
O presente estudo, portanto, foi realizado com o intento de se analisar qual foi a importância do exercício da ciência na Europa cristã no perído denominado Alta Idade Média. O primeiro subtítulo é abordada a questão da passagem de conhecimentos que já vinham sendo desenvolvidos nos séculos passados. Não se tratam apenas de noções referentes às ciências naturais, mas de toda a área do conhecimento. Na segunda parte é levantado o aspecto das condições em que o conhecimento dessas “artes liberais” pagãs poderia ser requisitado. Por fim, quais foram as consequências na prática para aquela sociedade de uma ciência condicionada.
Nas considerações finais, foi traçado um paralelo entre o papel da ciência aqui analisado e o da sociedade de hoje, sendo esse talvez o aspecto mais importante de toda pesquisa histórica: levantar questões proporcionando uma crítica radical da sociedade moderna.
A penosa sobrevivência do conhecimento
A instalação dos bárbaros constituiu uma grande ameaça a todo o acervo de herdada da Antiguidade. De fato, muito se perdeu de todo o conjunto de obras científicas e filosóficas com as invasões. Some-se a isso, a condenação de toda a cultura pagã da Antiguidade por parte da religião cristã. Nesse ponto, acontece um interessante paradoxo, pois apesar dessa aversão à cultura antiga, o cristianismo está bastante impregnado da mesma, afinal, foi nesse meio que se formou essa nova e poderosa crença.
“Mesmo os mais ‘cultos’ entre os Padres da Igreja, os mais fiéis herdeiros do pensamento e da arte clássicos, Santo Agostinho[1], por exemplo, concordam com a reação espontânea dos simples e dos ignorantes para condenar a cultura antiga enquanto ideal independente rival da revelação cristã” (MARROU, 1966, p.488).
Não que esta tenha sido negada, pois foram os próprios eclesiásticos que reescreveram diversos livros da Antiguidade ao longo de toda a Idade Média.
“O que se passava na cabeça e na imaginação desses escribas quando recopiavam um texto pagão, a seus olhos, ora falso, ora licencioso ou indecente? Constatemos primeiro que eles nunca selecionaram ou censuraram. Os escribas eram fiéis ao texto.” (ROUCHE, 1985, p.523).
Ainda assim a cultura antiga teve seus admiradores, como Boécio[2], que além de traduzir diversas obras clássicas, propôs o estudo de Platão e Aristóteles nas escolas, além de ciências que se resumiam em aritmética, geometria, música e astronomia. Muito dessa cultura do passado, porém, não exerceu influência na mentalidade cristã ocidental como aconteceu na região oriental no novo período que se afigurava.
O Oriente por sua vez, principalmente os árabes, podem ser, talvez, considerados os principais transmissores do conhecimento antigo, auxiliados pelo Império Bizantino nessa questão. Afinal, enquanto a Roma do Baixo Império via a filosofia esmaecendo, Bizâncio além de partilhar do conteúdo literário e jurídico romano, desenvolvia uma filosofia de tradição milenar. Dessa forma, os árabes, com suas conquistas no território oriental do antigo Império, tiveram ao seu dispor todo o legado de uma cultura que vinha sendo cultivada há séculos. “Antes da Renascença, muitos clássicos gregos, preservados pelos bizantinos e pelos árabes, ainda eram desconhecidos no Ocidente” (LIND, 2000, p.6). Se por um lado, o cristianismo usava um platonismo de uma forma adaptada, esquecendo uma boa parte da cultura pagã, a visão de mundo aristotélica com alguns elementos do platonismo predominava entre os sábios árabes. Podem ser considerados como a verdadeira ponte que permitiu a propagação da ciência antiga contribuindo para a formação da ciência moderna ocidental.
De qualquer forma, apesar da prudência com relação à propagação da cultura antiga, pagã, a visão do homem medieval e seu modo de buscar o conhecimento da natureza não diferiam tanto de seus antepassados. Pode-se dizer que tanto a educação quando a ciência tinham muito daquela cultura passada, com diferentes arranjos. Entre esses arranjos, pode-se citar a fusão que estava acontecendo entre a visão de mundo pregada pelo cristianismo, e toda uma cultura pagã típica dos povos invasores que agora ocupavam a Europa. Mas o principal delineador da ação da ciência nesse período, foi o fato de estar simplesmente à serviço da Igreja.
A ciência: uma mera funcionária
O modo de encarar a ciência na Alta Idade Média, pode ser percebida através de como Santo Agostinho a via. Ele não escreveu nada especificamente relacionado com conhecimentos científicos, mas sua visão sobre o assunto, foi predominante por muitos séculos.
Agostinho argumenta com o pressuposto de que se o mundo é uma criação de Deus, naturalmente é bom. Sendo assim, o mal é simplesmente uma ausência do bem. Desse pensamento de Agostinho derivam seus incentivos para as ciências naturais. Ora, se o mundo é bom, a busca do conhecimento do mesmo por parte do homem, só poderia lhe trazer benefícios com a contemplação da beleza da obra divina.
Apesar dessa aprovação da busca do conhecimento, ela tinha suas limitações. A ciência não era uma preocupação central de Santo Agostinho, assim como não era da Igreja nem do homem medieval. Como a preocupação essencial era a salvação das almas, a ciência foi relegada a um segundo plano. O objetivo dos estudiosos, era única e simplesmente compreender e interpretar a Sagrada Escritura. A cultura pagã, apesar de estar recheada de superstições e mitos, poderia ser usada para auxiliar o estudo das mensagens divinas. O próprio Agostinho deixa claro no segundo livro de De Doctrina Christiana:
“Não se atrevam a consagrar-se sem inquietação às ciências liberais professadas
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