RESENHA DITADURA MILITAR E MÚSICA "COTIDIANO" DE CHICO BUARQUE
Por: fersenacosta • 5/10/2022 • Resenha • 390 Palavras (2 Páginas) • 130 Visualizações
Quem nunca escutou a uma das mais conhecidas músicas de Chico Buarque de Holanda? A canção que foi um marco na Música Popular Brasileira na década de 70,"Cotidiano", lançada no álbum "Construção” (1971) o “eu-lírico” relata o dia a dia dele e sua esposa que é dona de casa e loucamente apaixonada pelo mesmo, o acordando todos os dias e o esperando retornar do trabalho, de forma dócil e submissa a ele, indicando que é a obrigação da mulher servir o marido e também, que a culpa do casamento estar monótono para o marido na música, é da esposa. O marido usa de discursos machistas, menospreza a mesma, porém se mostra totalmente dependente dela, pois ela o acorda para ir ao trabalho, ela prepara todas as suas refeições, e por esse motivo, mesmo almejando a mudança de vida, ele desiste de deixar a esposa “na hora do almoço” e quando percebe, já se acabou mais um dia e ele continua casado com ela. Chico tem letras que caracteristicamente denunciam de forma sutil algum dilema, fazem uma crítica, e nessa letra não seria diferente: Com estrofes que se repetem constantemente Chico destaca o ciclo de repetição e o comodismo das pessoas que deixam suas vidas “caírem na rotina” Porém, se analisarmos outro aspecto do contexto em que a música foi escrita, podemos notar que além de ser uma sociedade machista, o Brasil passava por um momento politicamente delicado: A Ditadura Militar (1964-1985), sua opinião foi expressa de forma muito discreta para evitar a censura, porém, ao analisar a letra com mais atenção, pude notar que ela usa a figura de uma mulher aparentemente “dócil”, que deseja estar sempre presente no dia a dia do marido por amá-lo, mas a mesma cerceia a liberdade do mesmo por estar o tempo todo seguindo os passos do marido que se sente vivendo em uma prisão (vigilância do governo) e exerce uma relação de dependência e poder com seu homem, já que se ela o deixar, ele enfrentará dificuldades, como “preparar o jantar”, e no emprego de certos alimentos como café, hortelã e feijão, que quando consumidos nos impossibilitam de falar (censura), ou ainda, a alusão de que foi inaceitável o silêncio mantido pelos brasileiros com um acontecimento tão cruel com a população.
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