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Resenha - O Longo Século XX

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Por:   •  11/10/2013  •  1.931 Palavras (8 Páginas)  •  3.917 Visualizações

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Resenha – O longo Século XX

Em um Longo século XX, Giovanni Arrighi analisa de forma crítica a evolução do sistema contemporâneo interestatal partindo do pressuposto que seu protótipo surgiu no século XV nas antigas cidades-estados italianas. Com uma preocupação em demonstrar a intimidade do surgimento do capitalismo ao surgimento do Estado soberano e das Hegemonias mundiais, Arrighi analisa as três principais Hegemonias: A hegemonia holandesa, a hegemonia britânica e a hegemônica norte-americana até sua decadência na década de 70.

Na primeira parte do texto Arrighi define e exemplifica os conceitos de Hegemonia, Capitalismo e Territorialismo. Entre os diversos conceitos de Hegemonia existentes, o autor adota o seguinte: “Hegemonia refere-se à capacidade de um Estado de exercer funções de liderança e governo sobre um sistema de nações soberanas”.(Arrighi, Giovannia. 27) Para Arrighi a Hegemonia mundial é a dominação associada a capacidade do Estado de exercer uma liderança intelectual e moral sobre os outros Estados. A Hegemonia mundial só é plena quando um Estado consegue convencer o coletivo de que seu interesse particular e próprio é o mesmo do interesse geral e por isso pode haver uma concessão de poder ao Hegemón.

Arrighi também está preocupado em definir os conceitos de caos e de anarquia. Para arrighi Anarquia é uma ausência de governo mundial, mas não de leis, princípios e procedimentos que lhe conferem uma ordem, chamada de ordem anárquica. Já o Caos e o caos sitêmico “referem-se a uma situação de falta total aparentemente irremediável de organização”.(Arrighi, 30). Para o autor é essencial que o conceito de caos esteja claro pois para ele o sistema mundial se formou e expandiu com as restruturações propostas pelas Hegemonias em épocas de caos. Por isso ele exemplifica o sistema anárquico medieval e sua reestruturação que levou a anarquia do sistema moderno. O Sistema Medieval era formado de alianças plurais e diferentes estancias jurídicas entrelaçadas, não havia o conceito de territorialidade por isso era possível uma mobilidade das elites. Já o Sistema Moderno, consistia em domínios jurídicos excludentes e demarcações de fronteiras, consequentemente não havia uma mobilidade das elites e o conceito de territorialidade estava claro nesse sistema. O sistema moderno representou a nacionalização das questões políticas e também a instituição do conceito de soberania.

Esse sistema moderno, territorialista veio junto com o desenvolvimento do capitalismo como modo de acumulação de renda. Arrighi diz: “o estreito vínculo histórico entre o capitalismo e o moderno sistema interestatal é marcado tanto pela contradição quanto pela unidade”. Por isso o autor também define os conceitos de lógica de poder territorialista e capitalista, que são diferentes mas não excludentes, aliás, elas são historicamente comprovadas como coexistentes. Na lógica capitalista o território é apenas um subproduto e meio do objetivo principal de obter mais recursos, capital e poder. Já na lógica territorialista, há uma inversão e o capital é um meio e subproduto do objetivo final que é a expansão territorial. Arrighi exemplifica a coexistência da lógica capitalista e territorialista através do exemplo da China e da Europa Moderna. A china como principal exemplo de modelo de Estado territorialista não liderou a expansão territorial do século XV e XVI devido a uma lógica capitalista, ou seja, como principal fornecedora dos produtos consumidos pela Europa, seria muito custoso liderar uma expansão apenas para obter novos territórios, visto que a probabilidade destes não lhe trazer benefícios financeiros era bastante alta. Já a Europa, com sua lógica capitalista de organização de Estado, viu na aquisição de novos territórios a possibilidade de obter novos recursos e mais poder. Nessa ótica, Arrighi faz uma crítica a Schumpter que dizia que não havia propósitos claros na expansão dos países pré-capitalistas - “Em relação a isso, convém notar que no caso da China Imperial não tem a menor validade a tese de Schumpter de que as organizações estatais pré-capitalistas caracterizavam-se por fortes tendências a expanção mas sem propósitos claros”(Giovanni,Arrighi. 35).

Nessa perspectiva de uma dialética entre territorialismo e capitalismo, fica claro para o leitor de que ela é anterior ao século XVII. Na verdade, “suas origens residem na formação, dentro do sistema medieval de governo, de um subsistema de cidades-Estados capitalistas no norte da Itália”(Arrighi. 36). Para comprovar tal tese ele mostra de que há 4 características do moderno sistema interestatal prefigurados no subsistema das cidades italianas. A primeira é o sistema capitalista de gestão de estado e guerra, cujo exemplo perfeito era Veneza. Outra característica é o equilíbrio do poder, que é um mecanismo pelo qual os Estados capitalistas conseguiram reduzir seus custos de proteção. O auto custeio da guerra é a terceira característica, gerado a partir das relações de assalariamento, que fez com que uma parte das despesas com proteção virasse receita. E por último, a instituição de redes diplomáticas permanentes, que segundo Arrighi “através dessas redes, os governantes das cidades-Estados adquiriram os conhecimentos e informações concernentes às ambições e possibilidades dos outros governantes, que eram necessárias para manipular o equilíbrio de poder, a fim de minimizar os custos de proteção”(Arrighi, 39). Com tal exemplificação, Arrighi objetiva explicitar mais uma vez que o processo de acumulação de capital pela lógica capitalista está intrinsecamente ligado ao desenvolvimento do Estado e do sistema interestatal moderno. E é por isso que Arrighi, demonstra que dois séculos depois, em um caos sistêmico gerado pelo fracasso da Espanha de manter o sistema medieval, as Províncias Unidas ascenderam e liquidaram de vez o sistema medieval e “essa reorganização do espaço político a bem da acumulação de capital marcou o nascimento, não só do moderno sistema interestatal, mas também do capitalismo como sistema mundial”(Arrighi, Giovanni. 44). Ou seja, está claro novamente que uma situação de caos sistêmico é a ideal para a reestruturação do sistema.

Arrighi menciona que a Hegemonia holandesa não durou muito, na verdade as Províncias Unidas mal conseguiram exercer seu poder, pois na competição pela Hegemonia mundial estava também a França e a Inglaterra, que desenvolveram um mercantilismo brilhante devido a colonização direta, a escravatura capitalista e o nacionalismo econômico. Nessa disputa pela hegemonia mundial, Arrighi marca a posição insular geopolítica da Grã-Bretanha como essencial para seu triunfo

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