Resenha Subjetivação do Sujeito
Por: Gustavo Maciel • 10/8/2021 • Resenha • 1.136 Palavras (5 Páginas) • 153 Visualizações
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U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D A G R A N D E D O U R A D O S
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS
Gustavo Maciel Alvarenga
Sílvia Mara de Melo, Pedro Navarro, Elizete de Souza Bernardes (organizadores). / A Subjetivação do sujeito mulher, do sujeito negro, do sujeito indígena na sociedade contemporânea: sob as lentes discursivas – 1. ed. – Campinas, SP. Mercado de Letras, 2021
Lima, Virginia Jacinto; Melo, Silvia Mara. “O IMAGINÁRIO DE FEMININO NO DISCURSO RELIGIOSO-HUMORÍSTICO DO PASTOR CLÁUDIO DUARTE”
Resenhado por: Gustavo Maciel Alvarenga
As ideias religiosas acerca das funções e papeis desempenhados pelo homem e pela mulher continuam as mesmas de séculos atrás. No matrimônio, o homem é aquele que manda, que provê, que domina. Enquanto a mulher é apenas uma extensão de seu domínio, apesar de possuir autoridade no ambiente familiar ainda deve ser submissa ao homem. A religião, sobretudo o cristianismo, não evoluiu suas crenças sociais para a atual sociedade contemporânea. Pelo contrário, utilizam livros e personagens considerados sagrados para justificar o discurso defendido e convencer os fiéis que o que está sendo pregado por um pastor - uma figura de autoridade dentro da religião – é o correto e o que deve ser seguido.
A partir disso as autoras, baseando- se na Formação do Discurso que de acordo com Foucault conjunto de enunciados que apresenta, “entre os objetos, os tipos de enunciação, os conceitos, as escolhas temáticas”, “uma regularidade (uma ordem, correlações, posições e funcionamentos, transformações)” (Foucault 2008, p. 43), irão analisar o discurso religioso-humorístico do pastor Claudio Duarte e a construção da imagem sobre a mulher cristã. Também utiliza como suporte a definição de humor de Possenti, que acredita que “o humor pode tratar de qualquer assunto e também fugir do politicamente correto (que seria um grande inimigo para a construção estereotipada do humor), de ser um campo que se manifesta em diferentes gêneros” (Lima; Melo, p.74 2021). Para o pastor, a construção de seu humor se dá a partir da relação com os elementos do social.
A teologia cristã acredita que família e matrimônio são instituições sagradas e que devem ser defendidas. A mulher tem uma função essencial para a manutenção dessas instituições “Nesse contexto, a mulher assume posição essencial enquanto progenitora e responsável pela manutenção familiar” (Lima; Melo, p.76 2021). Durante seus sermões o Pastor Cláudio Duarte utiliza do humor para se conectar aos fiéis – sobretudo os mais jovens -, e transmitir um ar mais leve em seus discursos carregados de preconceitos e machismos. O Pastor é considerado um orientador de casais a partir de uma visão religiosa, ou seja, em suas palestras ele ensina aos homens cristãos como devem agir para um matrimônio dar certo e ser duradouro. Ao passo que também discursa para as mulheres sobre como elas devem ser dentro da instituição chamada família, a partir do que é entendido ser uma mulher cristã.
O pastor divide seus sermões específicos aos homens e os específicos às mulheres. No que diz respeito aos homens, o pastor aconselha a “ser amigo, companheiro e atencioso com a parceira” (Lima; Melo, p.77 2021). No entanto em sua fala ele reafirma o estereótipo de homem. “Seja amigo da sua esposa. Sentar com ela e conversar sobre nada. Só pra ela jogar conversa fora. Isso não é coisa que homem gosta, não. A gente gosta de ouvir a mulher dos outros.” (Duarte 2015). Para o pastor, o homem é aquele infiel, adúltero e machista que prefere cobiçar “a mulher dos outros” à ouvir a sua esposa falar. Expressões como “Só a voz delas as vezes já irrita.” (Duarte 2015) reafirma aquela ideia que está no imaginário coletivo de que a mulher fala demais ao ponto de irritar. Isso nos mostra a misoginia e o machismo enraizado no discurso religioso (como um todo) e também em nossa sociedade.
No discurso para as mulheres o pastor ensina a como agir com sabedoria de uma mulher cristã em seu matrimônio e sua família. Através do humor que fica evidente no trecho “santa varoa imaculada, venha aqui no recinto particular que eu tenho algo pra te dizer.” (Duarte 2015), o pastor busca dialogar com as mulheres ensinando-as a serem “sábias” como as mulheres cristãs tradicionais. Para o pastor o casamento bem-sucedido é aquele duradouro, e só é possível seguindo e agindo é dito no evangelho. Os ensinamentos do pastor para as mulheres são sempre voltados a elas servirem a família em primeiro lugar. “A senhora tem que tratar seu lar com sabedoria, aprender a dividir seu tempo, hoje a senhora é uma mulher vitoriosa, a senhora tem seus negócios, tem seus trabalhos, tem seus estudos, mas isso não pode roubar o tempo dos seus filhos, do seu marido, não pode, porque sucesso nenhum vale o fracasso de sua família, o fracasso de sua casa, é ou num é?” (Duarte 2015). O discurso de Duarte caminha para uma ideia de mulher como corpos dóceis. “Porque muitas vezes é tolice querer brigar pela razão e abrir mão da paz, cê tá entendendo? As mulheres mais experientes, mais antigas tinham uma leitura melhor disso. A muié moderna gosta de partir pra briga” (Duarte 2015). Nesse sentido, é muito mais interessante para a manutenção do modelo de família cristã a domesticação dos corpos femininos, isso fica evidente nas falas do pastor Claudio Duarte. “as palavras do missionário silenciam isso. No seu dito circula a ideia de que a mulher deve ser mais tolerante (o que ele coloca como ser sábia e madura em outro momento), aprendendo a perdoar o marido e a esquecer as situações ruins do matrimônio, em busca de um casamento duradouro e bom.” (Lima; Melo, p. 85 2021). Essa ideia de docilidade feminina está muito atrelado à dependência financeira, como também às suas funções dentro da casa perante aos filhos e marido.
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