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Resenho do livro: Travesti - Don Kulick

Por:   •  17/6/2018  •  Resenha  •  948 Palavras (4 Páginas)  •  325 Visualizações

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Em Virando Travesti, capítulo extraído do livro Travesti, de Don Kulick, é retratado as motivações e contextos de como meninos de idade tão precoce (onze, doze anos e, às vezes até menos) iniciam a suas vidas sexuais, as mudanças de roupas, as transformações no corpo, para enfim se tornarem “travestis de verdade”. Outras questões vão permear esse trecho, como a posição dessas travestis sobre as mulheres, os métodos que utilizam para se sentirem femininas e suas considerações a respeito da mudança de sexo.

A primeira abordagem trata-se de como esses meninos, ainda na infância, identificam a divergência de seus gostos e costumes em relação aos hábitos de outros garotos. O autor nos atenta que diferentemente dos relatos de outros lugares, no Brasil, esse reconhecimento está completamente atrelado pela manifestação de desejo desses futuros travestis por outros homens, em que frequentemente participavam de jogos eróticos com outros meninos, sempre na posição de um agente passivo. A segunda relação dada é que a primeira experiência em que há a uma penetração anal (geralmente realizadas com homens mais velhos), esses meninos começam a se vestir como mulher. E já nos primeiros indícios acarretam o incomodo ora da família, ora dos próprios garotos, culminando na impossibilidade da permanência nas casas de seus pais.

Quando saem de casa, começam a ter forte contato com travestis mais experientes que irão auxilia-los nessa nova jornada, dando dicas de como podem se tornar mais afeminados. Assim, começam a tomar altas doses de hormônios e se vestirem permanentemente como mulher, principalmente à noite. Também passam a depilar as pernas, fazem a sobrancelha, arrancam os fiapos do queixo e buço, e logo a principal fonte de ganhar dinheiro se torna a prostituição.

O autor evidencia no texto as diferenças de vida entre as travestis que vivem nas cidades grandes e pequenas, para as que residem na primeira circunstância vivem de forma integral como uma travesti, já as que moram nas pequenas cidades, se vestem como homens durante o dia para trabalharem normalmente como domésticas e passam a noite como travestis, normalmente se prostituindo.

Os hormônios tem grande destaque no texto. Quando esses meninos são acolhidos pelas travestis com mais experiência, de imediato elas os aconselham a fazer o uso de hormônios, que são vendidos de forma irrestrita nas farmácias. Os hormônios podem ser usados de duas formas, oralmente e os injetáveis, é relevante notar que essas travestis utilizam quantidades absurdas de hormônio, que podem vir causar sérias sequelas. Outro agente facilitador para o acesso dessas travestis aos hormônios são os seus próprios clientes, que as incentivam a usar, quando não os fornecem para elas.

O estágio final, a concretização dessas travestis, é o silicone industrial, método irreversível, que utilizam para se sentir mais femininas, permitindo-as ficarem com um “corpão” de forma quase instantânea. Kulick explica que os lugares onde elas mais injetam o silicone são o quadril, as nádegas e as coxas, o que reforça um anseio por um estereótipo valorizado no Brasil.

Ao decorrer do texto retrata-se uma “cultura de conhecimento específico das travestis”, uma delas é em relação ao silicone nos seios, que pode causar câncer. Portanto, se torna ainda menor o número de travestis que colocam silicone nos seios, sem contar com os relatos de ser um lugar que provoca dores intensas quando injetado o “óleo” (como elas costumam chamar).

No Brasil, o uso do silicone se torna “febre” na década de 1980, quando a travesti Daniela traz da França vários litros de silicone, segundo Fernanda Farias de Albuquerque. O produto desde então foi altamente utilizado, sendo posteriormente substituído pelo silicone industrial. Quanto à “bombadeiras”, aquelas que injetam silicone nas travestis, não possuem especialização e são consideradas por Kulick autodidatas.

O último tema tratado pelo autor, no capítulo é a “Dinâmica do corpo”, nesse trecho Kulick questiona as travestis o porquê de injetar o silicone no corpo, as respostas obtidas por ele foram sempre às mesmas, apresentada em duas vertentes: ter o corpo de mulher permitia que as travestis lucrassem mais no seu meio de trabalho, já que os homens desejam mais o corpo feminino, e o anseio de se sentirem mulher e serem femininas.

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